Tenho certeza de que Maquiavel adoraria acompanhar uma boa partida de futebol. Não pelas questões políticas, expressas nos textos do filósofo florentino, mas unicamente pelo caráter pragmático da peleja.
O futebol é um esporte de “fins” e não de “meios”. Além disso, o imponderável do destino, ou simplesmente a sorte, é mais responsável pelos resultados do que os números táticos espalhados ao redor do mundo.
Sentado em alguma arquibancada, Maquiavel diria, em tom filosófico, que “futebol é bola na casinha e ponto final”. Frase que sintetiza o jogo. Imagino mais. Já pensou no filósofo como comentarista de algum programa esportivo? Já visualizo os comentários sobre os jogos do Atlético: sobra passe, falta gol; tem pix, mas não tem mira; se cada gol perdido valesse um bloco, o time já teria construído dois estádios.
Isso seria fundamental para os atleticanos nessa temporada, pois falta aquela objetividade pragmática (perdoe-me a redundância) que faz do futebol o esporte do povo, fácil de ser compreendido em dois movimentos essenciais: não tomar gol e fazer gol. Pronto. É só isso.
Não sei você, mas já estou um pouco cansado do estilo comentarista stand-up comedy. Estamos precisando mesmo é daqueles que estudaram na mesma escola do Analista de Bagé, obra do incomparável Luís Fernando Veríssimo. Frases como “quem trepa vestido é padre e tartaruga” ou “mais sagrado que Deus e a mãe só dívida de jogo” são flechas que nunca perdem o alvo.
Creio que Maquiavel seria um desses, dizendo que “se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária não perderia nenhum” ou “futebol moderno é que nem pelada, só que tem muitas regras para atrapalhar”.
Parece que o Atlético, agora, está na vibe Platão. Muito blá blá blá para pouca conclusão. 581 passes, 88% de precisão, 70% de posse de bola e 21 chutes. Se isso não é transformado em gols, de nada adianta… É como ser presenteado, pela sorte da natureza, com a mais rara beleza, mas morrer virgem. É até bom, mas não serve pra coisa nenhuma.
Um dos pontos altos da teoria maquiaveliana – e que falta aos jogadores atleticanos – é competência parar aproveitar a sorte quando ela decide ir para seu lado. Afinal, ela se sente atraída, apenas, por homens e mulheres que sabem extrair o melhor dela, pois “ela é sempre amiga dos jovens, por serem mais ferozes, menos circunspectos e mais audaciosos”.
Virtú e Fortú são duas dimensões importantes para a garantia dos bons resultados. A primeira, diz respeito à força, técnica, virilidade de quem faz da conquista seu objetivo único. Ela se fortalece com treino, excelência e hábito. A segunda, é pura sorte, imprevisibilidade. Ela sorri apenas para quem sabe seduzi-la, aproveitar-se dela. Não é idealização, dinheiro, Estádio novo, bola na trave, sonho… É apenas uma vontade cega de aproveitar as chances de gol oferecidas pela realidade.
O esquete atleticano deveria aprender que, sem a sedução e o bom aproveitamento do acaso, competência e dinheiro são apenas palavras que não transformam elenco em resultado.
Em resposta ao questionamento:
“Maquiavel atleticano: posse de bola ganha jogo?”
Para responder essa pergunta basta ver (ou rever) o jogo Atlético x América pela Libertadores.
O Atlético teve 80% de posse de bola e não ganhou o jogo.
Portanto, a resposta é NÃO.
Para ter um resultado positivo nos jogos (vitória ou empate, como neste caso) não basta posse de bola. Só precisa ter um juiz e/ou um auxiliar (bandeirinha) nos jogos.
Parabéns pelo texto!! Descreve com perfeição a atual situação do Galo.
Meu caro, Renato! Seguramente se Maquiavel fosse escolher um país pra Renascer, seria o Brasil, com enorme potencial para ajudar com suas teorias, além de muito belo e agradável como sua Itália. Escolheria Minas Gerais, pela gastronomia inigualável, e lógico, se interessaria por futebol e mais ainda, pelo time mais místico das Gerais. Aquele cujos torcedores se confundem com devotos e a forma de chamá-lo já é um deleite: Galão da Massa!!! Galoooo!!!
Maquiavel com certeza seria cruzeirense, por ser o cabuloso o Time do Povo!