A cena se passou no gol à direita das cabines de rádio do Mineirão — o chamado “Gol da Cidade”. Não foi Gerson que chutou em cima dele. Foi Renato que, numa fração de segundo, pressentiu a direção do chute. Com segurança, interceptou a bola, a agarrou com firmeza (na minha lembrança, conforme está no livro, ela tinha saído a escanteio) e a entregou rapidamente nos pés de Oldair, para que ele a tirasse de perto da área o mais depressa possível. Depois, pediu que Grapete e Vantuir, que vieram cumprimenta-lo, prestassem atenção ao jogo.
Dali a alguns minutos, o árbitro Armando Marques determinou o fim da partida. O resto é história. O São Paulo venceu o Botafogo na quarta-feira seguinte pelo placar de 4 a 1 e o Galo, que precisava de um empate na partida final contra a equipe carioca, venceu por 1 a 0.
Essa moeda, como sempre, tem dois lados. Com a mesma clareza com que me lembro da defesa de Renato, recordo os momentos de frustação que vivi ao constatar que todo esforço feito pelos jogadores de linha havia sido varrido do mapa pela falha de um goleiro inseguro, desatento ou mal colocado. Durante anos, e com raros momentos de tranquilidade entre as décadas finais do século 20 e a primeira década deste século — quanto, depois do longo reinado de João Leite, o Galo teve no gol nomes como Carlos, Taffarel e Veloso — essa foi uma posição sempre reclamada pela torcida.
Era impressionante. Alguém que parecia promissor logo engolia um peru inesquecível ou cometia uma falha tão bisonha que perdia a confiança de todo mundo. É verdade! Mas tudo mudou na tarde em que recebi o telefonema de um amigo querido. Parece que foi ontem, mas já lá se vão mais de oito anos. Era uma sexta-feira, dia 29 de junho de 2012, num momento em que o clima começava a esquentar na redação do jornal em que eu trabalhava, e meu celular tocou.
Do outro lado da linha, Rodrigo Elias indagava: “Seu time quer ser campeão?” Quis saber o motivo de uma pergunta daquelas justo àquela hora e Diguinho, como é chamado pelos amigos, recomendou que eu lesse o twitter que o presidente Alexandre Kalil havia acabado de postar: “Torcida mais chata do Brasil, se o problema era goleiro não é mais. Victor é do #Galo!”
Aquele poema pareceu um poema de Drummond diante dos meus olhos. Três semanas antes, a chegada do gaúcho Ronaldinho havia resolvido o problema até aquele momento crônico da ausência de um jogador de criação. Com Victor, supria-se a falta de um goleiro que desse tranquilidade ao time. O resto é uma história conhecida e coroada pouco mais de um ano depois com defesa do pênalti batido por Riascos e o título da Libertadores. No ano seguinte, veio o da Copa do Brasil e Victor, mais uma vez, estava lá para dar tranquilidade.
Diz o lugar comum do futebol que todo grande time começa por um grande goleiro. A história diz justamente o contrário: goleiro não é o início. Ele é o fim de linha, a fronteira final, o último bastião. É a última barreira entre a alegria e a tristeza, a vitória e a derrota, a luz e a escuridão. Se a bola passa por ele, é a tragédia. Se não passa, ele não terá feito mais do que sua obrigação. Os jogadores das outras posições se tornam ídolos quando fazem o que deles se espera. O goleiro só ganha essa condição quando faz muito mais do que o esperado. E só se torna um mito quando opera milagres espetaculares como os de Renato e Victor.
Em sua trajetória centenária, o Galo teve no gol nomes que entraram para a história pela qualidade técnica e pela capacidade de liderança. O mais longevo entre os goleiros do passado foi Olavo Leite Bastos, o Kafunga. Entre 1935, quando chegou ao Atlético vindo de Niterói e 1954, quando pendurou as chuteiras, era pelo nome dele que se iniciavam as grandes formações do Atlético.
Kafunga, Florindo e Quim… Assim se iniciava a escalação do Galo, Campeão dos Campeões em 1937. Kafunga, Murilo e Ramos… Este era o início do esquadrão que, dez anos depois, encantou Minas Gerais como um dos maiores da história. Kafunga, Oswaldo e Afonso… assim começava a escalação em algumas partidas da excursão à Europa em 1950, que deu ao Clube o título de Campeão do Gelo. Kafunga ficou tantos anos no gol alvinegro que, na minha juventude, quando alguém pretendia se referir a algum fato remoto, dizia que tinha acontecido em “mil, novencentos e Kafunga…”
Mesmo um ídolo da estatura de Kafunga precisou provar que era melhor do que os demais para merecer a condição de titular do Galo. Durante um bom tempo, ele teve que disputar a posição com outros grandes goleiros como Sinval, Mão de Onça e Veludo. Depois que ele abandonou o gol, o Atlético teve outros. Valter e Luiz Peres estiveram lá. Um deles poderia ter se tornado um ídolo maior do que foi se não tivesse sido atraído por outra carreira nobre. Seu nome era Marcial de Mello Castro, primeiro goleiro convocado para a Seleção brasileiro quando ainda jogava no Galo.
Marcial começou a carreira no juvenil do Galo mas, aprovado no vestibular para medicina em 1960, se transferiu para o Sete de Setembro, onde horários mais flexíveis permitiam que conciliasse os estudos com a carreira. Atenta para o risco que corria de perder um jogador daquela qualidade, e ainda mais formado em casa, a diretoria o trouxe de volta e ofereceu as condições de treinamento que um atleta do nível dele merecia. Seu talento no gol logo atraiu a atenção de outros clubes. Depois de deixar o Atlético, em 1963, passou curtas temporadas no Rio de Janeiro, onde, no começou dos anos 1960, jogou no Flamengo, e em São Paulo, sob a meta do Corinthians. Em 1966 retornou a Belo Horizonte para concluir o curso.
Conhecido pelas defesas espetaculares, quase impossíveis, que fazia, foi ídolo de mais de uma geração de atleticanos — que sempre o mencionavam quando nós, mais jovens, nos elogiávamos alguém da posição. Uma vez, conversando com meu pai sobre os grandes times do Galo, perguntei pelo melhor goleiro que ele viu. Sem pensar na resposara, ele disse: “Marcial”. A mesma pergunta fiz outro dia a Iraq Rodrigues e a resposta veio com precisão idêntica: “Marcial”.
Não o vi jogar. Meu preferido para a posição, quando comecei a me entender como torcedor, era o goleiro que posava num pôster do Galo, afixado da mesa em que eu e meus irmãos fazíamos as lições de casa na nossa infância, em Corinto. O time da foto, de 1968 (quando o Galo completou 60 anos), era Fábio, Humberto Monteiro, Djalma Dias, Vander e Oldair; Vanderley e Amauri; Ronaldo, Vaguinho, Beto e Tião. Sim. O Galo teve, sim, uma escalação que se iniciava por um goleiro chamado Fábio. Só que, ao contrário de outro de mesmo nome que fez carreira em certo time de BH, nosso Fábio nunca virava as costas para o adversário. Estava sempre atento ao lance. Era o Fábio de Frente!
A lista, claro, é extensa. Teve Hélio e Ortiz, dois jogadores que perderam a confiança da torcida depois de derrotas para o time vaidoso. Considero a pena que ambos receberam grande demais para as falhas que eventualmente tenham cometido. Teve Marzukiewicz, que chegou para o lugar de Renato que, inconformado, seguiu os rumos de Marcial e foi brilhar no Flamengo. Teve Mussula, Zolinni e tantos outros a quem a torcida deve respeito e gratidão, mas que não chegaram a ocupar o papel de ídolos.
Como em toda lista, as omissões, nesta, são inevitáveis e imperdoáveis. Desde já peço desculpas. Mas a vida é esta: gostaria que o galo tivesse uma linha tão eficiente que o goleiro nem fosse lembrado. Mesmo porque, as falhas de quem defende o gol são punidas com mais rigor do que as de outros jogadores. E é por isso que digo, em relação ao time de Jorge Sampaoli: independente de quem ele escolha para ser o goleiro, ele terá meu apoio. E espero que o seu também.
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Gallupo, numa roda de amigos ou em um boteco da vida acho legal referir ao rival de forma jocosa. Já num texto para acesso a todos acho desnecessário. Tenho diversos amigos e parentes que torçem para o rival e os respeito, assim como eles me respeitam.
Quanto aos goleiros que já tivemos sofri muito com Juninhos e Renans da vida.
Minhas considerações a Joao Leite, Vitor e Taffarel, os melhores que VÍ jogar. Quantos aos mais antigos não me vejo em condições de avaliar.
RENATO
VITOR.
TAFAREL
MAZURKIEWSKI
TIVEMOS GRANDES GOLEIROS.
ANGELO ,
Hilton Chaves fazia o meio com Amauri , ainda no América, penso eu
Vou até verificar...
Pitaco com corneta : Hoje faz um ano da conquista da libertadores pelo flamerda . Não vi, até hoje , uma estátua para o grande responsável desta conquista : lucas pratto , que entrou e armou um punhado de contraataques, um letal. Este jogador , centroavante que fica seis , sete jogos sem marcar , e distribue carrinhos e voadoras no meio campo, pra delírio de parte de nossa torcida , aqueles mesmos que reverenciavam patric, o que não esconde do jogo , segundo eles.
Esta discussão de goleiros, eu não entro, pra mim, tanto faz como tanto fez, dois bons goleiros. A discussão deve ser com esta zaga delivery, entregando pro fregues a seu gosto e hora , os erros de gols feitos , a falta de pontaria , isto sim, compromete e mostra falta de treinamento específico , dois pontos que estão tentando nos fazendo despencar ladeira abaixo no brasileirão ( graças a Deus, sem êxito os concorrentes também estão derrapando) A manchete de hoje : Galo termina os preparativos pra encarar o botafogo. Zé Welisson , por força de contrato, não pode jogar. Agora me sinto mais aliviado e confiante, ufa , que diretoria pragmatica e competente, nos livrou de enfrentar este craque Agora vai.
Tinha que ter uma cláusula obrigando Zé welisson, Patric e Fábio Santos a jogar contra o Galo. Já passamos tanta raiva com esses jogadores de Várzea, era hora de desfrutarmos um pouco da ruindade deles.
Obrigado, Galuppo!!
Como não ser atleticano!?
boa tarde Eduardo e massa e Ricardo Galuppo. grandes histórias dos ídolos dos goleiros do galo. para mim o maior goleiro do galo na história foi o Victor porque não ve os da décadas de 30.40.50.60.70.80.mas já é passado já está na hora de aposentar. para mim o Rafael é titular mas não sou sampaoli. a galo não nos decepcione. vai galooo.
Goleiro "leiteria" ainda está p nascer, tendo em vista q cada qual tem seu preferido,e discutir contra preferência pessoal é como brigar contra o espelho. Quer ver?!
Meu avô sempre teve preferência ao João Ferreira Ramos_ Mão de Onça_ em comparação com o Kafunga,meu pai era fã do Marcial,rasgou a carteirinha qdo o GALO vestido de vermelho pregou a mutamba no time da cbf com o Mussula jogando com a nº 1. Minha pessoa prefere o Ortiz a todos os outros e acho o Jhon Milk o maior bracinho de dinossauro q já passou pelo GALO, até mais q o Edson "seis dedos". Portanto opinião é opinião e ainda está p nascer um guarda metas q vá agradar à Dragões da FAO, a PX-GALO ou a @NetGalo sem haver divergências de opinião. Como diria Neném Prancha: " Um grande goleiro deve dormir com a bola. Se for casado, dorme com as duas". E tenho dito!
Saudações Atleticanas #GALOSempe
#CANSEIDEROUBOcbf
Apenas como acréscimo ao currículo do grande
MARCIAl , não podemos nos esquecer nunca do
título brasileiro de seleções , em 63 .
Marcial
Massinha , Willian , Procópio e Geraldino
Hilton Chaves e Amauri
Luiz Carlos , Marco Antônio , Rossi e Ari
Se não me falha a memória, prezado Eduardo Barata, foi o último título brasileiro disputado por seleções. Todos foram vendidos logo após o campeonato para os times do eixo- Rio São-Paulo. Corrija- me , por favor, mas MARCIAL, William, Wilton Chaves e Luiz Carlos eram Galo, Massinha, Procópio, Geraldino e Rossi eram do Cruzeiro, Amaury, Marco Antonio e Ary eram do América. Tive o privilégio de jogar e conviver com Marcial. Excepcional pessoa! Que Deus o tenha!
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