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Quem serve para treinar o Galo? II

flickr.com/atlético
Ricardo Galuppo
Parte I

Cada um dos medalhões que já treinaram o Galo chegou com pinta de ser capaz de resolver os problemas e colocar o time para voar em campo. E foi embora deixando para trás jogadores desmotivados e o time mergulhado até o pescoço em atoleiros dos quais custou a se livrar. Na direção oposta à dos medalhões incompetentes, houve experiências com jovens auxiliares que chegaram a agradar como interinos mas que, depois de efetivados, não conseguiram ir longe.

Humberto Ramos assumiu na reta final do campeonato de 1999, no lugar de Dario Pereyra, e por pouco não foi campeão brasileiro. No ano seguinte, não conseguiu bons resultados e não resistiu muito tempo no comando. Thiago Laghi foi treinador após a saída do inepto Oswaldo Oliveira (sim, esse senhor já comandou o Galo, acredita?) e, Rodrigo Santana assumiu depois da saída de Levir Culpi… Esse é o lado tenebroso da força.

O outro lado, o das luzes, é formado por treinadores que chegaram discretamente, sem que ninguém esperasse deles grandes feitos, e, com os atletas que encontraram, formaram equipes que marcaram época. Quem era o grande Telê Santana antes de chegar para treinar o Galo? Um desconhecido com mania de perfeição e conceitos avançados sobre o futebol, nada mais do que isso. Ex-ídolo e ex-treinador das divisões de base do Fluminense, do Rio de Janeiro, ele assumiu a equipe profissional do clube num momento de dificuldade do clube.

Telê conquistou o campeonato carioca de 1969 pelo clube, mas não teve o trabalho reconhecido pela diretoria, que preferia alguém “de mais peso”. Dispensado, estava sem trabalho quando o presidente Nelson Campos o convidou para dirigir o Galo. O resto é história: com o jovem e desconhecido Telê no comando, o Atlético foi campeão mineiro de 1970 e brasileiro de 1971…

EM
EXIGENTE E DETALHISTA

Nos anos seguintes, com a situação financeira em pandarecos, a diretoria foi obrigada a desmantelar o time campeão de 1971 e abrir mão dos principais jogadores. Telê permaneceu no clube por mais algum tempo e ajudou Barbatana, treinador das divisões de base, a selecionar os craques que, na segunda metade dos anos 1970, encantariam o Brasil com jogadas geniais e uma noção de conjunto poucas vezes vista no futebol brasileiro.

A qualidade daquela geração e a forma como aquelas preciosidades foram lapidadas já foi mencionada neste espaço mais de uma vez. Mas o trabalho de Barbatana, não. Emprestado ao Atlético pelo Metaluzina, foi um dos integrante do time que excursionou pela Europa em 1950 e voltou para o Brasil com o título de “Campeão do Gelo”. Na volta, foi integrado ao elenco alvinegro e permaneceu no clube depois de pendurar as chuteiras. Assumiu o comando das divisões de base e foi competente o bastante para escolher no meio da meninada que chegava para fazer testes do Galo, um grupo de craques acima do normal. E mais competente ainda para treiná-los e mantê-los juntos.

De todos os treinadores que passaram pelo Atlético, Barbatana foi um dos mais exigentes e detalhistas. Assim como Telê, acreditava que a repetição insistente das jogadas era a forma mais eficaz de corrigir falhas individuais e dar aos jogadores a consciência tática que renderia frutos no trabalho coletivo. Talvez lhe faltassem uma visão mais atualizada do futebol e informações em quantidade suficiente para dotar o Atlético de um esquema de jogo menos romântico e mais competitivo — mas isso, convenhamos, se dava mais por culpa das condições da época do que pelo talento do treinador.

O FUSCA DE BARBATANA

No mais, era um disciplinador — desses que eram capazes de ir atrás de  jogadores na farra e trazê-los de volta para a concentração. Isso não é força de expressão. É fato. Mais do que colegas de clube, a maioria dos jogadores que ele dirigiu eram companheiros que cresceram e aprenderam a se divertir juntos. Em alguns aspectos, mais do que um time, aquele grupo era uma turma de amigos. E foi por causa da camaradagem que havia entre eles que, em 1975, Reinaldo e Toninho Cerezo aceitaram a sugestão de Marcelo para passar o carnaval em Corinto, no centro de Minas Gerais — onde ele tinha primos mais ou menos da mesma idade.

Acolhidos de forma carinhosa, viram crescer pela cidade muito mais do que um amor de carnaval. Ali, Cerezo logo conheceu Rosa Helena, com quem se casou. Os outros, embora não dessem as caras com a mesma assiduidade, de vez em quando apareciam em Corinto para se divertir e paquerar as moças da cidade. Em meados do ano seguinte, num final de semana em que o time estaria de folga, Reinaldo, Marcelo e Cafuringa (que havia chegado do Rio de Janeiro para jogar no Galo) resolveram fazer um programa diferente. Barbatana pediu que permanecessem em Belo Horizonte e caíssem na farra. Desobedientes, tomaram um ônibus na rodoviária de Belo Horizonte e se mandaram para Corinto.

Chegaram na cidade, se hospedaram no Hotel Sônia, tomaram banho e foram tomar cerveja num bar em frente. Sentaram-se em volta de uma mesa na calçada sem se preocupar em ser discretos. Logo circulou a notícia de que os craques do Atlético estavam na cidade. Aquilo, claro, atraiu para a Rua Dr. Antônio Alvarenga (conhecida como Rua do Footing) um monte de gente que pretendia ver os craques de perto.

O lugar, portanto, estava repleto quando um fusca branco estacionou em frente ao bar em que o trio estava e dele desceu o treinador Barbatana, em pessoa. Ao dar pela falta dos jogadores, ele não teve dificuldades para deduzir o que havia acontecido. E não teve dúvidas. Em companhia de um funcionário do Atlético, partiu em busca dos rapazes. Aplicou-lhes um sermão assim que desceu do carro, sem se preocupar se havia pessoas ouvindo. Mandou que fossem ao hotel buscar suas mochilas, pediu que o dono do bar encerrasse a conta e, dali mesmo, os pôs no banco traseiro do fusca e voltaram para Belo Horizonte. Esse era Barbatana…

EM
CABEÇA DURA

Barbatana tinha princípios rígidos e uma noção clara do que gostava de ver em campo. Talvez por causa disso, em algumas situações, tinha uma cabeça tão dura quando a de Jorge Sampaoli. Na final do campeonato de 1977, com Reinaldo suspenso pelas ações que a CBF sempre faz em apoio a seus parceiros preferenciais, ele pôs um time em campo com uma escalação que desagradou a torcida.

Ao invés de formar o ataque com Marcelo e Paulo Isidoro, ele entrou no primeiro tempo com Marcelo e Caio Cambalhota (um dos muitos centroavantes de ofício que chegaram ao Galo com uma fama muito superior ao talento que um dia tiveram). No intervalo, ao invés de desfazer o erro, ele sacou Marcelo e Caio e os substituiu por Paulo Isidoro e Joãozinho Paulista (outro que, com todo respeito, estava muito aquém do talento que se espera de um jogador do Galo).

Na época, é bom que se diga, cada treinador tinha direito a apenas duas substituições e, por causa dessa troca dupla, o time ficou com apenas dez em campo depois do lance covarde em que Neca e Chicão quebraram o joelho de Ângelo. (Arnaldo César Coelho, para quem a regra é clara, interpretou o lance e entendeu que uma agressão em que a vítima era jogador do Galo não merecia nem cartão amarelo!)

O fato é que, por mais atleticano que fosse e por mais identificado que pudesse ser com a história do clube, o certo é que, lamentavelmente, Barbatana não obteve uma conquista que colocasse seu nome na história do Galo num lugar ainda mais algo do que ele ocupa. Outro que também quase esteve lá foi Procópio Cardoso. Com um dos melhores times da história do Atlético sob seu comando, ele perdeu o Brasileirão de 1980 e a classificação para a final da Libertadores de 1981 para o mesmo time do Rio de Janeiro.

O adversário, é verdade, tinha um esquema tático insuperável: um homem de preto correndo o campo todo e carregando um apito que usava para apontar lances que beneficiassem seu time. E outros dois, correndo pelas laterais, um de cada lado do campo, com bandeirinhas nas mãos. Com arbitragens minimamente honestas, o Atlético jamais perderia qualquer uma daquelas partidas. Mas o fato é que perdeu e que, mais uma vez, um treinador sem um currículo vistoso comandou um time de ponta e quase o levou a conquistas importantes. Assim é o Atlético.

Reprodução / Atlético-MG
MOSTRAR SERVIÇO

Mas o assunto aqui não são os árbitros e, sim, os treinadores do Galo. Quem reparar direito a relação entre o Atlético e seus técnicos notará que os figurões que trazem para o clube um prestígio maior do que a disposição para trabalhar sempre fracassam. O mercenário Geninho, depois do papelão que fez ao trocar o Galo pelo Corinthians em 2002, caiu num ostracismo do qual jamais se livrou. Hoje, não consegue se firmar como técnico nem em clubes da segunda divisão.

Outros, que chegam com vontade de mostrar serviço, acabam ganhando no Galo uma projeção que não tinham antes. Emmerson Leão tinha feito no Sport Recife seu melhor trabalho antes de comandar o Galo pela primeira vez em 1997. O trabalho que fez à frente do alvinegro lhe abriu as portas para a Seleção Brasileira e para outros clubes pelos quais conquistou títulos importantes.

Quem era Levir Culpi antes de treinar o Galo pela primeira vez, em 1994? Um treinador em início de carreira que, depois de passar pelo Galo, treinou outros clubes e fez fortuna no futebol japonês. Depois disso, voltou algumas vezes (assim como Leão) e fez trabalhos dignos — mas sem a qualidade e do impacto da primeira passagem. E Cuca? Antes de passar pelo Galo, ele tinha fama de pé frio e de um treinador instável.

Sampaoli tem pela frente o trabalho de reconciliar o Galo com as vitórias e levar o clube às conquistas  que a torcida, mais do que espera, exige. Cansado de esperar e de ser iludido por promessas que nunca se concretizam, o mínimo que o atleticano aceita é um treinador que ponha o time para jogar para frente, com objetividade, e que não deixe escapar vitórias que podem levar a conquistas importantes.

Blogueiro

View Comments

  • Os jogadores estão com uma pressão grande em ter um empresário distribuindo dinheiro sem juros !

  • Há um equívoco no texto: "Outro que também quase esteve lá foi Procópio Cardoso. Com um dos melhores times da história do Atlético sob seu comando, ele perdeu o Brasileirão de 1980 e a classificação para a final da Libertadores de 1981 para o mesmo time do Rio de Janeiro". Procópio não era o técnico na Libertadores, portanto não foi ele quem perdeu a classificação para a final da Libertadores. No 2x2 no Mineirão o técnico era o Pepe, que afundou o time ao colocar Paulo Martins em campo (mais ou menos o que fez o Sampaoli com o Calebe em São Paulo). Depois assumiu o Carlos Alberto Silva.

  • Perplexo, vejo nosso novo presidente, Sergio Coelho, de péssimas lembranças (7 deveria ter ficado, justo agora q aprendeu, vai sair, uma pena!) com muito amadorismo, dando entrevistas, falando de assuntos dos quais não deve falar, pelo menos neste momento. Coelho, seja mais mineiro e menos pavão. SAN

  • Boa noite!
    Como é bom ler seus textos, Galuppo!
    Que saudades de Barbatana e seu timaço!
    Acreditei no Sampaoli no início de trabalho, quando a postura do time em campo mudou radicalmente pra melhor, mas...a maionese parece ter desandado e o cara começou a cometer pelo menos dois erros. O primeiro foi o de inventar muito e o segundo a teimosia, vide a permanência do péssimo goleiro Everson. Isso tirou dele a credibilidade que ele tinha com a torcida. Não estou animado com o retorno do time a campo diante do fraco coxa. Até acredito na vitória mas deve ser aquela vitória magra, jogo amarrado, sem inspiração. O tempo pra treinar tem sido nocivo pra o time.
    Me desculpem (sqn) os contras mas que saudades do Cazares! Único jogador diferenciado que passou pelo Galo pós Bruxo!!!

  • Boa tarde Gallupo, moro na cidade de Corinto, e me lembro que estes jogadores realmente gostavam de vir para a cidade principalmente na época de carnaval, Reinaldo e Cerezo eram os que mais vinham, Quanto ao treinador acho que se Sampa não consertar essa zaga não chegaremos a lugar nenhum, Gabriel e Rabelo ja entregaram a paçoca o ano todo p mim tem q dar um basta não adianta insistir, o problema é que o novo presida ja fala em reforços mas não menciona contratar zagueiro e esse é o nosso maior drama. Tá osso.

  • boa noite Eduardo e massa e ricardo Galuppo. quem serve para treinar o galo? para mim seja um treinador que enxerga os seus erros. e para mim o sampaoli pardal é um treinador que iludiu milhões de torcedores do galo incluindo eu.mas depois de tantas burrices e incompetência se transformou num pardal é burro. aliás vejo alguns cegos aqui no blog falam a vocês querem Rodrigo Santana. tiago laghi. Osvaldo Oliveira. etc .mas estes treinadores que citei não teve 200 milhões jogado no lixo com tantos refugos que o pardal sampaoli teve. então para mim o pardal sampaoli não passa de um enganador que me iludiu e milhões de torcedores do galo. aliás se não fomos a libertadores ai sim sera a chacota de pardal sampaoli e suas tropas de peladeiros. a galo não nos decepcione mais. vá galooo.

  • Acho que qualquer técnico que tenha um passado de vitórias e que esteja disponível no mercado é mil vezes melhor do que este enganador que está aí a esbravejar, reclamar e fazer cena para as câmeras de TV. Campeão de cartão amarelo e vermelho. Porém, repito, também não vai adiantar nada porque quem vai fazer a escolha de um novo técnico, e comandá-lo, não sabe nada de futebol! Infelizmente. Pior: se o gringo tem contrato até final de 2021, já me conformo com dois anos sem libertadores, sendo que brasileirão jamais!

  • Boa tarde amigos do Galo. Vamos com calma, o leite ainda não derramou. Eu ainda acredito . Aqui é hereditariamente Galo deste 1.958.
    P.S. : Abre o olho Coelho, o apito é amigo deles

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