Um texto sobre o Galo que não fale do time nem da paixão que nos liga a esse clube imortal é sempre enfadonho — tanto para quem lê quanto para quem escreve. Ainda mais na semana que marca a estreia na Copa Libertadores, competição que deveria atrair 100% da atenção da massa. Peço, porém, licença para falar de um tema chato — as dívidas e a maneira que o Galo lida com elas. Espero que o amigo tenha paciência e vá comigo até o final. Mesmo porque, resolver as pendências é essencial para seguirmos em frente.
Sem a pretensão de ser o dono da razão, gostaria de apresentar um ponto de vista diferente sobre um tema que, nesses dias, andou na boca do povo. A semana passada, que começou com a ressaca pela zebra do domingo retrasado, na derrota para um time série B, terminou com os achaques de um “empresário”, que cobra na Justiça um dinheirão do Atlético. A dívida, segundo ele, vem se acumulando desde 2013, e o “empresário” garante ter quase R$ 40 milhões a receber do clube.
O valor é exorbitante. E, claro, põe uma pulga atrás da orelha de cada torcedor. Na sexta-feira passada, o portal Superesportes publicou uma longa entrevista em que André Cury (esse é o nome do “empresário”) fala da dinheirama. Numa narrativa repleta de elogios ao trabalho realizado por ele, Cury não consegue esclarecer o que fez. Ele fala, fala e continua falando sem explicar os detalhes das transações que, sempre segundo ele, lhe deram direito a tanto dinheiro.
Mais do que isso: o “empresário” não apresenta um único motivo para ter continuado a ser tão bacana, ajudando o clube que, segundo ele, sempre lhe aplicou tantos calotes, a fazer um negócio atrás do outro. Conforme suas próprias palavras, ele não pretendia ir à Justiça, mas foi obrigado a procurar esse caminho depois de uma reunião com um dos empresários (desta vez, sem aspas) que integram o colegiado que administra o Galo.
Conforme as palavras do “empresário”, após a última mudança de diretoria no Atlético, ele teria se reunido com o engenheiro Renato Salvador, da família que administra o Hospital Mater Dei, para falar da tal dívida. Ouviu, então, a recomendação de que buscasse seus direitos na Justiça. Cury acatou a sugestão e fez mais. Passou a fazer barulho em torno do caso — talvez achando que isso amedrontaria Salvador e obrigaria o Atlético a se entender com ele.
Este é o ponto. Dívidas mal explicadas, como essa que Cury diz ter a receber, são parte dos problemas herdados do passado. A forma com que Salvador lidou com ele é parte da solução e do futuro. Os integrantes do colegiado que administra o Galo sabem o que fazem e, se tivessem medo de cara feia, não colecionariam tantas vitórias em suas trajetórias empresariais. O problema é que, embora competentes, não são infalíveis. E, depois de Salvador ter tomado a decisão certa (ou seja, sugerir o caminho judicial), o clube conduziu mal a situação e deu ao problema uma dimensão maior do que ele tem.
Cury procurou jornalistas e falou o que quis. E a resposta veio numa Nota Oficial para lá de chocha, em que o Atlético diz que “não confirma” o que disse o “empresário” e considera a cobrança uma tentativa de “constranger a instituição”. Além disso, disse que os contratos aos quais se refere o “empresário” “estão passando por rigorosa análise técnica” — dando a impressão de que clube não conhecia direito a situação que já foi estudada e reestudada internamente.
Comunicação — e isso já ficou claro — não é o forte da atual diretoria alvinegra. A Nota Oficial foi tolinha, quase envergonhada, e deve ter encorajado Cury a se manter no ataque. Foi depois dela que ele concedeu a entrevista ao Superesportes. O “empresário” disse o que quis e o que não quis — e sua reação destemperada talvez seja o sinal mais claro de que o clube está coberto de razão ao agir como agiu.
O Galo tem adotado, em sua reestruturação, práticas administrativas modernas e rigorosas. Nelas não há lugar para hábitos que, no passado, eram comuns no futebol brasileiro — onde sempre se falou em contratos de gaveta e acertos por baixo do pano. Ao recomendar que Cury fosse à Justiça, Salvador nada mais fez do que seguir as regras de compliance — palavrinha que, daqui por diante, estará cada vez mais presente na vida atleticana.
Ao fazer isso, o Atlético demonstrou que não pretende esconder a situação de ninguém. Afinal de contas, a Justiça é, por definição, um ambiente público. Além disso, mostrou que está em sintonia com o rigoroso James Kitching, Diretor de Regulamentação da Fifa. Desde que assumiu o posto, em janeiro de 2020, Kitching tem falado em “melhorar a transparência” no futebol e em proteger jogadores e clubes de “práticas especulativas” que alcançaram um grau assustador.
Ao mandar Cury à Justiça, Salvador não disse que o Atlético se nega a pagar o que deve, se é que deve, ao “empresário”. O que ele fez foi levantar a cortina em torno do assunto e passar a discutir o caso às claras, no ambiente adequado. Se o “empresário” tiver mesmo comissões vultosas a receber, paciência: ele será pago com o valor, na forma e no prazo da decisão judicial, e não será esse valor que tornará a situação pior do que está. Os R$ 40 milhões que ele diz ter a receber representam menos de 4% do passivo do clube, que supera R$ 1 bilhão.
Na Justiça, não caberá ao Atlético reconhecer a dívida. Cury é que precisará provar que o clube realmente lhe deve. Afinal, o ônus da prova cabe à acusação. O problema é que, ao fazer barulho, ele omite pontos essenciais. O “empresário”, por exemplo, não informou ao Superesportes que a Justiça tem se recusado a acatar pedidos de seus advogados, que já solicitaram o bloqueio judicial das cotas do Galo no Diamond Mall e dos direitos sobre Guilherme Arana e outros jogadores. Isso significa que, aos olhos da Justiça, seus direitos não são tão líquidos e certos como ele diz.
O dinheiro que Cury alega ter a receber seria resultado da intermediação de negócios de compra e venda dos direitos dos jogadores do Galo. A princípio, nada errado. Embora a Fifa esteja de olho nessa prática, com a intenção de disciplinar o mercado, taxas de intermediação são usuais no mundo dos negócios e no futebol não é diferente.
Para a Fifa, a falta de critérios no trabalho de gente como Cury, que se declara um “facilitador de negócios”, tem inflacionado os custos do futebol e drenado parte dos valores das transações para contas que não pertencem aos clubes nem aos jogadores. Mais: as comissões estratosféricas pagas a agentes que entram no negócio sem representar os clubes nem o jogador estão no foco das autoridades por suspeita de, em alguns casos, acobertar lavagem de dinheiro e corrupção. Quem diz isso não sou eu! É a Fifa!
Chama atenção, sempre com base na entrevista ao Superesportes, o fato de Cury não dar explicações convincente sobre os caminhos que o tornaram tão influente junto aos clubes sul-americanos — que têm merecido atenção especial da Fifa. Pelo que se pode deduzir, seu papel na história seria mais ou menos o mesmo de um porteiro de boate. Por conhecer e ser conhecido de todos no meio, ele sempre consegue tirar alguém da rabeira da fila e puxá-lo para o melhor lugar da festa. Em troca, é claro, de uma gorjeta bem gorda.
Com 49 anos de idade, Cury diz que trabalha com futebol há mais ou menos 30. Sem declarar qualquer formação que o qualifique para a tarefa, ele diz que já “facilitou” negócios para os clubes mais importantes do continente. Num ponto, ele merece elogios: é hábil na hora de se vender e de se mostrar influente. Pelo que se deduz, aprendeu os segredos do ofício convivendo, como ele mesmo informa, com gente da pesada.
O primeiro, o brasileiro J. Hawilla, já falecido, chegou a ser preso pelo FBI em 2013, por participação no “Caso Fifa” — o maior escândalo de corrupção do futebol. Se livrou da cadeia depois de pagar uma multa de US$ 151 milhões e fechar um acordo de delação no qual revelou com detalhes os subornos que, desde 1991, pagou a Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero e outros dirigentes de futebol.
Quando trabalhava para Hawilla, Cury conheceu o catalão Sandro Rossell, outro de seus mestres, que viria a presidir o Barcelona entre 2010 e 2014. Também acusado de corrupção, Rossell passou 21 meses em prisão preventiva até ser autorizado pela Justiça da Espanha a responder o processo em liberdade. Cury, que ocupava funções subalternas quando trabalhou com essa dupla, não é mencionado nos processos.
Um último detalhe: Cury diz que chegou ao futebol mineiro pelas mãos de Zezé Perrella, o dirigente que deu início à construção do castelo de cartas que, por muito tempo, foi tido como uma obra sólida lá pelos lados do Barro Preto. Foi na casa de Zezé, pelo que ele mesmo conta, que conheceu Itair Machado, outro ás da cartolagem. Pelo que se conclui da conversa do “empresário”, sempre foi mais vantajoso lidar com essa turma do que com o pessoal do Galo. Talvez essa pista ajude a explicar a situação atual do clube vaidoso. Talvez. Fica a dica.
As pessoas que hoje mandam no Atlético precisam entender que, caso queiram mesmo transformar o clube precisam tratar com mais respeito a comunicação com a torcida e com o mercado. Em outras palavras, precisam dar mais valor a essa área sensível e inclui-las entre suas prioridades. A primeira Nota Oficial, que mais levanta suspeitas do que esclarece o episódio, não foi o único equívoco. A entrevista do presidente Sérgio Coelho à rádio Itatiaia, no sábado, também não ajudou a resolver o caso. Nela, Coelho lança algumas suspeitas e disse que Cury “faltou com a verdade” em sua entrevista e que, se o Departamento Jurídico autorizar, revelará detalhes dos contratos.
Nada disso! O caso está na Justiça e é lá, e apenas lá, que deve ser tratado. Qualquer movimento diferente, ainda que motivado pela irritação diante de uma cobrança ostensiva, manterá o assunto em pauta, dará voz ao “empresário” e levará o jogo para um campo que só interessa a ele: o do bate-boca.
A situação financeira do Atlético é delicada, o colegiado vem trabalhando para resolvê-la sem cortar o oxigênio do futebol e o clube acerta em não esconder suas dificuldades. Mas precisa melhorar a qualidade da comunicação com a torcida que, querendo ou não, é sua grande fonte de recursos. Tudo tem que ser na base do preto no branco, dentro e fora do campo. A decisão da diretoria, que adiou para o dia 26 de abril a divulgação do balanço de 2020, que estava prevista para a sexta-feira passada, não ajudou a melhorar o clima criado pelo palavreado de Cury e dos que se deleitam com a confusão posta por outros como ele.
Cada dia que passa sem que os números sejam conhecidos é mais um em que se permite a essa gente alimentar seu arsenal de besteiras ditas em tom de denúncia séria. De acordo com a lei das S.A., que disciplina a questão, o prazo para divulgação dos números se esgota no dia 30. A essa altura, só nos resta esperar que, antes de conhecer os dados, o time, que não brilhou na vitória sobre o Boa Esporte, tenha estreado na Libertadores com uma vitória maiúscula e aberto caminho para, de novo, conquistar a América. Eu acredito!
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Ô nobre escritor citou o Perrela e o Itair mas seria conveniente citar os dirigentes do Galo que fizeram mais de uma dezena de negócios com o André Cury.
boa tarde Eduardo e massa e Ricardo Galuppo. o empresário que colocou o galo na justiça mostrou simplesmente a patifaria que existe nos clubes. simplesmente faltou ele dizer quem são os responsáveis por ter aceite esta sanidade de fazer loucura por Mansur. José welison. Denilson e outras barcas que o galo atolou. enquanto estiver empresários que mandam e remandam e escala jogadores no clube vai acontecer isto .agora falta colhoes da atual diretoria dizer a verdade para nos torcedores mas isto nunca vai acontecer. tem um ditado antigo neste buraco tem coelhos. rsrs.alias tem que acabar esta de treinador trazer seus afilhados e refugos para a equipe. exemplo o pardal sampaoli entupiu o galo de perebas são eles. Vargas.everson.mariano.bueno.sascha.alan Franco.Hyoran.nathan. e foi embora e largou os prejuízos para o galo. agora me aparece cuca pardal é traz outro peladeiro quero quero que na base tem jogadores melhores .aff.e daqui a pouco o cuca pardal vai embora e fica mas encostos no SPA do galo. a galo a se tolar por incompetentes que mandam e remandam no clube. a galo não aprende com erros do passado. vai galooo.
Parabens pelo texto esclacedor , Galuppo, a torcida gostaria, muito , que durante os trâmites do julgamento , estejam , de um lado, os advogados do "empresario" e do outro, alem dos advogados do clube, o ministerio publico , os envolvidos nos negocios com este "empresario", valor de comissões, etc. E que seja um momento de depuração no clube, transparencia e que seja cortado em definitivo esta simbiose nefasta e maligna , que sejam arrancados do clube estes parasitas , que infestam o clube como ervas daninhas,sugando tudo a seu redor, que seja extirpado este câncer em metástase adiantada. O que toda a torcida percebe é que agora, no balcão de cá, tem empresarios de verdade que sabem jogar o jogo deles, e o recado foi dado : a fonte secou, agora dinheiro é para o clube
Já vi que o Cuca vai insistir com um ´´novo Richarlisson``, o Borrero.
Amigalos, utilidade publica , a tabela da libertas : 21 de abril GALO x LA GUAIRA 21.30 hs CONMEBOL TV 27 de abril Galo x America de Cali 21.30 hs SBT e CONMEBOL TV 04 DE MAIO 19.15hs Galo x CERRO FOX SPORTS 13 de maio AMERICA de CALI X GALO 21HS SBT 25 de maio GALO X LA GUAIRA 21.30hs SBT e FOX
Boa tarde a todos!
Futebol e política brasileira é a mesma coisa, só corrupção em negociatas de " porão" feitas nos mais caros restaurantes do mundo.
Alguém acreditou na tal " osteridade"
falada em prosa e verso pelo 7?
Por que os caras não são remunerados e brigam por cargos de dirigentes de clube? Altruísmo? Amor ao clube? Sei.
Quantas e quantas vezes a Dra Lucy falou desse tal Cury aqui no Canto?
Só sei que nesse cabaré que o Atlético virou não tem nenhuma moça virgem.
Abs.
Zagueiro!!!
Cria de bandido, bandido é!!!!!
OBS.: o Cuca terá tempo pra ajeitar as coisas e fazer seu time melhorar, até porquê, pior que está não fica, então, é acreditar nessa evolução com os torneios em andamento e que o embalo do time venha na hora certa, amém!!!!!
O Emerson está coberto de razão.
O Galo contratou uma batelada de jogadores apenas regulares, encontrados em qualquer time de média categoria. Dos que contratou nos últimos 3 anos, apenas os goleiros Everson e Rafael, os zagueiros Igor Rabello e Junior Alonso, os laterais Arana e Dodô, os meio campistas Zaracho, Nacho, Dylan e Alan Santos, os atacantes Savarino, Keno e Marrony, e o Tardelli, se superar os problemas físicos, têm condições de evoluir no time.
O resto pode ser vendido. É falar com os empresários para procurarem outro time para seus protegidos porque, possivelmente, vão apenas compor banco, ou nem isso. E subir a molecada do sub-20 / sub-23. Ou vamos escalar o Hulk no lugar do Sávio?
Se fosse no Flamengo, Santos, Palmeiras e Grêmio, times que têm tradição no aproveitamento da prata da casa, com ótimos resultados, técnicos e financeiros, o Sávio, o Guilherme Santos, o Luiz Filipe, o Echaporã, o Talison, dentre outros, já seriam ou estariam na bica de serem titulares.
A primeira providência deve ser parar de contratar, a não ser que o candidato seja um cara no nível do Ronaldinho. Fora isso, vai lá na base e sobe a turma boa. A observação vale para zagueiro, lateral e atacante, posições em que há uma falsa sensação de pontos fracos. .
Bom dia!
Acho até que temos "sorte", pois apesar das dívidas colossais, temos os "mecenas" que estão otimistas com o futuro do Galo.
Mas o que me interessa realmente é o time em campo jogando o fino da bola. Ontem a nostalgia bateu forte vendo o Rei proseando com Dávila. Hoje o futebol está cada vez mais feio. No Galo então a coisa fede. Creio na atleticanidade dos mecenas mas gostaria que eles conduzissem o Galo como conduzem magistralmente suas empresas e vemos que não é isso que acontece. Pedir paciência com o Cuca? Rasgar dinheiro contratando Tchê Tchê, Hulk e um monte de perna de pau caro? Ahh...isso não é uma boa administração.
Não tenho paciência pra idiotices.
O Cuca só piora as coisas quando abre a boca pra argumentar. Tinha é que reconhecer seus erros.
Confesso que estou muito desanimado com o Galo nessa Libertadores.
Nosso amiGalo PAULO ROBERTO, que me desculpe mas o Cuca é fraco.
Fora Cuca!!