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O Galo no divã

Imagem: Pedro Souza/Atlético

Por Paulo Silva

Como sugerido por Eduardo de Ávila em sua crônica de quinta-feira, essa parada para o torneio de verão russo pode servir para ocuparmos o divã e refletir a respeito da conduta do nosso Atlético e o que fazer para melhorá-la neste Campeonato Brasileiro, que ao que parece, nos trará alegrias.

Então, que tal colocarmos o Galo no divã?

Se o divã serve para refletirmos o passado e descobrir pedras que nos derrubaram pelo caminho e tendem a continuar nos atormentando, certamente uma boa análise ajudará o Galo a descobrir porque nesses quarenta e sete anos ele não conseguiu ser campeão, quais os tropeços que o impediram e como se livrar deles para aplanar o caminho para o título neste ano que, como dito, parece promissor.

Acho que seria mais ou menos assim:

– Então, Galo. O  que você pretende ou que o está incomodando?

– Doutora, eu estou preocupado com a minha situação neste Campeonato. Acho que tenho todas as condições de vencê-lo, mas fico pensando nas cinco vezes em que fui vice-campeão e alguma coisa me diz que isso pode acontecer de novo. Preciso me livrar dessa verdadeira cruz que carrego.

– Mas, você já foi campeão uma vez, não foi? Então, por que você não busca inspiração nessa vitória? Não é mais lógico você se inspirar no sucesso do que temer o fracasso?

– Fui, doutora. Venci uma vez. Isso foi há quarenta e sete anos, já quase me esqueci como foi. Desde lá, bati na trave cinco vezes. E observando as razões do insucesso, verifiquei uma coisa que parece… parece… eu nem sei o que parece, mas é uma coisa que me persegue e me derruba sempre.

– Consegue dizer o que é?

– É esse negócio de ficar perdendo para time pequeno e até da zona de rebaixamento. Não sei o que acontece comigo que sempre perco pontos para esses times. Só para ter uma ideia, em 2009 eu terminei em primeiro lugar e com recorde de pontos ganhos no primeiro turno. Fui bem a maior parte do segundo turno, mas terminei o Campeonato em sétimo lugar, depois de perder cinco jogos seguidos. Pensando nisso, resolvi pesquisar e descobri que só para times pequenos e no Z-4, perdi 25 pontos. Não tem explicação isso. O campeão naquele ano fez só 67 pontos, a menor pontuação de um campeão até hoje. Se não fosse esse problema de ficar perdendo ponto tolamente, eu teria feito 81 pontos. Dava para ser campeão com sete rodadas antecipadas. Em 2012 e 2015 foi a mesma coisa. Três Campeonatos perdidos por pura bobeira. Isso é trauma?

– Esquece esse negócio de trauma. Você não sabe o que é isso. Então, vamos começar analisando o que o levou a ser campeão naquela ocasião. Pensar no sucesso atrai o sucesso. Quando foi mesmo? Nossa, tem tempo à beça. Como era o seu time?

– Era bom. Poucos craques, mas bastante unido em campo e fora dele. Alguns jogadores medianos, muito esforçados e lutadores. Não admitiam a derrota. Dentro de campo tinham um líder que não dava trégua para vacilos, cobrava muito dos colegas e fora do campo, o treinador, apesar de inexperiente, era muito sagaz e motivador.

Imagem: Bruno Cantini/Atlético

– E agora?

– O time atual até parece um pouco com aquele. Não tem craques, mas é bem treinado. A diferença está na atitude. Alguns jogadores agem como se estivessem ali só para compor o time. Não têm vontade, para eles é indiferente a vitória ou a derrota. Não têm aquela chama… aquela faísca que sai dos olhos de quem quer vencer. E isso atrapalha, porque tem hora que parece que estou jogando só com dez ou até nove jogadores… essa é uma diferença. Penso que na hora “H”, esses de hoje não vão aguentar o rojão. Já fraquejaram em alguns momentos decisivos e sinto que falta um líder dentro de campo. Fora também, a liderança não é muito efetiva. Muito técnica, porém, pouco experiente e sem capacidade de motivar intensamente os jogadores.

– Se você acha que a atitude dos jogadores pode atrapalhar os seus planos, por que você não procura um meio de alterar isso?

– Até que estou tentando, mas primeiro eu acho que é que preciso mudar um pouco. Eu também vacilo muito. É uma questão de direção, sabe? Tive dirigentes que me atrapalharam muito também. Agora, estou tentando melhorar, colocando ordem nas coisas e fazendo algumas contratações. Bons jogadores, estrangeiros e bem sucedidos, mas, tem aquele negócio de adaptação, idioma, alimentação, clima, etc. A minha esperança é de que eles não sintam muito a diferença e comecem logo a jogar e bem.

– Acha que só isso basta?

– Não. Tenho que dar um jeito de manter o máximo possível dos atuais jogadores. Não posso perder o artilheiro do Campeonato e nem desmanchar o pouco de entrosamento que já começa a aparecer e dar bons resultados. Tenho que arrumar a defesa também. Tem uns malas que preciso me livar deles. A minha situação não é fácil. Tenho que fazer muito com poucos recursos financeiros e não posso me endividar mais. Tenho que acabar com as muitas dívidas que ainda tenho e me preparar bem para o futuro com estádio e etc.

– Bom, ao que me parece, você não está tão mal assim. Sabe o que precisa e já está fazendo algumas coisas importantes e até essenciais. Falta talvez um pouco mais de confiança e não deixar que o seu passado, naquilo que você acha que não foi sucesso, te desanime ou contamine com falsas premissas.

– O problema, doutora, é exatamente conseguir isso. Como conseguir me livrar desse trauma?

– Não exagere. Não há trauma na sua vida. Se tivesse, você não chegaria onde chegou. É o maior de Minas e um dos maiores do Brasil. É visto e bem reconhecido mundo afora. Ninguém consegue isso carregando traumas. Você começou dizendo que tem grandes chances de vencer este Campeonato. Apegue-se a isso. Não esmoreça. Pare de dar atenção ao que você julga fracasso. Afinal, ser cinco vezes vice-campeão só mostra que você tem muita força e só circunstâncias, talvez  até algumas fora do esporte, tenham te atrapalhado. Vislumbre somente o que te interessa neste momento. Aproveite essa parada, reveja conceitos, corrija erros, mude o que for preciso e não dê tréguas na sua luta. Um grande pensador inglês disse: “Quem não conhece a sua história está condenado a repeti-la”. Conte a sua história para toda a sua equipe. Dirigentes, comissão técnica, jogadores, etc. Mostre onde estão as falhas. Instrua-os a terem extremo cuidado com elas. Nesses momentos, terão que ter atenção redobrada. Contra times pequenos, como você diz, eles têm que se doar ao máximo e devem entender que todo jogo é decisivo. Não podem pensar que tem jogo fácil. Isso não existe. Senão, não seria jogo, entendeu?

– (?)

– O seu passado só tem utilidade para você se souber aproveitar o que há de bom nele. Atenha-se ao que é bom e abstenha-se de tudo que pode parecer mau. Pelo visto, você tem um passado invejável. Agora, viva um presente estável, pense positivamente e construa um futuro equivalente ao seu passado. São tão poucos os que podem fazer isso e você está entre eles.

– Puxa, doutora, até fiquei um pouco aliviado. Mas, neste presente, tem umas pedrinhas, uns timinhos, uns zagueiros, uns laterais, tanta coisa para atrapalhar… Vontade eu tenho, garra também, mas, essas pedras, sei não…

– Bom, já deu hora. Na próxima sessão falamos dessas pedrinhas. Talvez nem precise, até lá você já terá se livrado delas. É o que desejo.

Paulo Silva

View Comments

  • O problema não é perder pontos pra time pequeno, e sim nunca deixar de ser pequeno.

    Problemas com arbitragem todo time sofre. Mas só quem tem complexo de inferioridade fica culpando as "forças ocultas" eternamente ao invés de partir pra novas conquistas.

    O mais estranho nessa história toda enfim não são os cinco campeonatos perdidos, mas como um time tão medíocre ainda assim conseguiu conquistar um único troféu relevante no século XX.

  • Pô pai, ficou muito bom o texto. As garfadas, como disseram, marcaram muito mesmo, mas não é motivo para se abater, muito menos atualmente, nos pontos corridos e com a larga vantagem, como 2009, 12 e 15. É o desleixo com time pequeno fez escapar essas três taças.

    Os pontos corridos foram criados para diminuir essa interferência da mala preta do Rio-Sao Paulo nas decisões.

    Pra mim, a maior dor nem foi o rebaixamento, foi deixar de ser campeão e mandar as Marias para o purgatório, e tomar um 6x1. Isso é que dá divã.

  • Boa noite Paulo Silva e massa! São 47 anos sem o brasileiro, fomos roubados ,faltaram competencias , sobraram incompetencias,mas um fato que eu quero lembrar que depois do Elias Kalil nunca mais tivemos um presidente de verdade,só abutres que ocuparam a presidência, até a chegada do Alexandre, depois do kalil filho tivemos novamente um palhaço irresponsável que nos fez voltar à estaca zero ,grande parte dessa culpa se deve colocar nas costas dessas ienas e abutres que foram presidentes sem nenhum planejamento inclusive essa merda filho do desembargador .

  • Boa tarde aos Atleticanos de Verdade, sobre os titulos perdidos nem Freud explica o de 77, quanto aos de 1980, 2012,2015, 1980 perdemos uns 3 gols certos contra o Flamerda aqui no primeiro jogo, inclusive uma bola na trave num chute do Cerezzo e teimou em não entrar. No Maracanã houve uma certa participação da arbitragem, sim , amarrando o jogo, invertendo faltas e enervando nossos jogadores. Mas cito também os erros individuais, como do Osmar Guarnelli, João Leite e Silvestre, alguém citou o Patric e concordo sempre da suas Patricadas e isso num jogo decisivo não tem volta. Em 2012 fizemos um turno pra sacramentar o Campeonato, mas depois o time se perdeu, se desmotivou e entregou pontos fáceis para essas pedras no sapato e sem contar uma certa ajuda da CBF ao Flor mas nada justifica por exemplo a derrota para o Náutico lá no Recife. E em 2015 de novo erros individuais, como no jogo em que valia a decisão do Campeonato aqui no Indepa 3x0 Curica com falhas bisonhas do Edcarlos. E em 2009 o time era esforçado mas só tinha o Tardelli e também num jogo decisivo contra o Flamerda aqui no Mineirão o Karini toma até gol olimpico do Petkovich. Se quiser brigar esse ano pelo campeonato tem que arrumar a defesa, sempre disse há jogadores que são vencedores por natureza, outros são bons mas não ganham títulos e há os cabeça de bagre e aí cito o Patric. Tem que montar um time com tarimba de vencedor e pra isso tem que sair uns três deste time que está sendo escalado. O GALO nunca teve uma defesa confiável nessa era de pontos corridos sendo sempre uma das mais vazadas. Para mudar isso primordial um Xerifão, laterais seguros e um meio campo com cobertura necessária, daí pra frente o time esta sendo bem montado. Como disse, Liberta é lucro mas da pra vir algo mais se montarem um time com espírito vencedor. Saudações Alvinegras aos Atleticanos de Verdade.

    • Sinceramente, qual o sentido de criar um apatheit entre os atleticanos dividindo-os em duas espécies: atleticanos de verdade e os outros? O que é ser atleticano de verdade?

  • Estive no estádio nas seguintes decisões (semi-finais e finais): Inter (1976); São Paulo (1978 pelo título de 1977); Cruzeiro (1977, pelo Rural); Flamento (1980); Flamengo (1981; Serra Dourada); 1985 (Coritiba); 1986 (Guarani); 1990 (Corinthians); 1999 (Corinthians) e 2000 (São Caetano). Desisti e nunca tive dúvidas: o pé-frio e o único culpado de toda aquela desgraça era eu! Pelo bem do Galão, eu desisti e jurei nunca mais voltar ao estádio. Cumpria fielmente, até aquela noite de 2013, contra o Tia Joana... Tudo ia muito bem, até os 45 minutos do segundo tempo. Nem esperei a cobrança e, chorando, abandonei o estádio! GRAÇAS A DEUS EU ABANDONEI O ESTÁDIO. E, mais uma vez, constatado o óbvio (o culpado era eu) jurei nunca mais voltar. Funcionou bem em 2013 e 2014. Nesse ano dei um basta e fui a todos os jogos e jurei insistir. Então, se der errado, não culpem o Galão, seus diretores, técnicos, jogadores: o culpado sou eu! Abraços!

  • Alô Presidente, quer marcar um golaço?
    Vai lá e contrata o Abel. Sei que muitos aqui não irão concordar, mas o técnico é bom e com o elenco do Galo pode ser campeão brasileiro. O Tiago pode continuar como auxiliar. A hora é agora.
    Já perdemos pontos preciosos por inexperiência em momentos decisivos de jogos. O Abel sabe montar um forte esquema defensivo, sabe o caminho das pedras pra chegar ao título e duvido muito que os atletas fariam cara feia nas substituições. Os próximos jogos serão contra Grêmio e Palmeiras fora, é muito importante que o sistema defensivo esteja 100%. Se há um momento certo para agir é AGORA.
    Este ano temos reais chances de título sim. VAMOS GALO!!!

    • Andrade, boa tarde!
      Reconheço que o Abel é um excelente técnico e sabe muito bem trabalhar com a Base.
      Mas no momento, aposto na efetivação do TL, pois vem fazendo um bom trabalho.
      Além disso, Abel viria para ganhar "rios de dinheiro". Prefiro que essa grana entrasse na conta do Roger Guedes.
      Saudações,

      • Abel treinou (?) o GALO em 2001, Se alguém esqueceu, eu lembro muito bem, como foi o "excelente aproveitamento" dos meninos da base no curto (ainda bem) período dele à frente do time. Abel seria o pior dos retrocessos, um tiro no pé. Jogaríamos a temporada no lixo contratando esse medalhão obsoleto e obtuso. Qualquer movimento que não seja a efetivação e a manutenção do Thiago Larghi para o resto da temporada será erro grotesco da direção. Espero que a maioria da Massa não apoie essa falta de juízo e de bom senso que seria a contratação do treinador carioca. Sigamos com o que vem dando certo, SAN

    • Boa tarde Andrade e amigos do Galo. Concordo integralmente com você, o Abel é experiente e sabe como nenhum outro técnico aproveitar com sucesso jogadores da base. O Thiago tem que ficar e se aperfeiçoar ao lado dele. Roger Guedes fica.

  • Em 2009, o time só tinha Tardelli.

    Os títulos em 77, 80, 99, 2012 e 2015 foram perdidos por erros de arbitragem.

    Fora Patric!
    Fica Guedes!!

    • Quem dera. É tão fácil arranjar desculpa esfarrapada, né? Enfrentar a realidade, por outro lado tem custo.

      • Boa tarde Paulo Silva!
        A questão dos erros de arbitragem, principalmente em 77 80 e 99 , é que sempre foram a favor de adversários. O Galo nunca contou com uma benfeitoria dessas numa decisão nacional. Esse fator é mais uma pedrinha em nosso caminho e devemos supera-lo também.
        As outras equipes, também , cometeram erros durante as competições, só que foram escolhidas para receberem benefícios do jogo de interesses que existem no futebol- se em 80 o jogo tivesse terminado 2 × 2, até hoje eles estariam cruxificando os marcadores do Reinaldo, que estava machucado e conseguiu supera-los.
        Acho que hoje temos um conhecimento suficiente para enfrentar tal fator, inclusive vencemos uma Copa do Brasil superando os queridinhos do Brasil.

  • Oi Eduardo e Amigos, bom dia!
    Caro Paulo, texto brilhante e analogia perfeita. Parabéns!
    Quanto às pedrinhas, elas já são nossas velhas conhecidas. Cita-las, me tornaria repetitivo.
    Acontece, que a demora nas tomadas de decisões dos responsáveis pelo "paciente" Galo, acabam fazendo dessas pedrinhas virarem uma rocha intransponível.
    Aí, não adianta chorar e nem procurar o divã. O paciente já foi pro saco.
    Saudações Alvinegras,

    • Bom dia, Jandir. O divã como analogia não serve prá nada mesmo. Mas ensinou que o Galo precisa prestar atenção na sua história. Prevenir-se contra jogadores que fazem do jogo contra o Galo o jogo de suas vidas, contra times que jogam contra o Galo como nunca jogam porque sabem que vão garantir mídia pelo menos uma semana, etc. Perder pontos repetidamente dessas formas é bisonhice. Os dirigentes ignoram esses fatos e a ignorância leva à derrota. Essas pedrinhas viram rochas de tanto o Galo alimentá-las. E depois culpam arbitragens, gramados, clima, altitude, vento na beira da praia, cachaça de jogadores e outras mil desculpas. Para isso eles são ótimos.

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Paulo Silva

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