O cheiro do sovaco

Foi impressionante, nas redes sociais e na imprensa — mineira e nacional —, a repercussão dada ao caso do torcedor que reclamou por ter seu desodorante apreendido pela segurança da Minas Arena, no Mineirão, quando, quarta-feira, foi ver seu time jogar. Ao saber do fato, apesar da curiosidade, não dei importância. Só depois, ao passo que um amigo me relatou o acontecido, fui me inteirar de tamanha imbecilidade.

Ano passado, na partida entre São Paulo e Galo pela Copa Libertadores, na capital paulista, tive um gorro apreendido (inadvertidamente) pela segurança do Morumbi. Apreendido não, pois eu voltei e atirei-o no meio da rua. Seguramente, quem quis recolhê-lo poderia dar a ele outra destinação que me deixaria ainda mais p%* da vida com a situação. Alegaram que, no Estado de São Paulo, é proibido o uso, uma vez que o gorro tinha logomarca de torcida organizada.

Pois bem, relembrando o gorro perdido e imaginando qual seria a razão do similar caso do desodorante, passei a ler sobre o assunto. Surpreso, percebo que a polêmica ganhou dimensão que em nada sugere a prática do bom jornalismo. Se o bastão (não sei se era) não oferecesse risco, nada justificaria seu recolhimento. Se, todavia, nele continha produto que coloca em risco a integridade de pessoas, a atitude da segurança é justificável. Ponto!

O que mais me impressiona é o diálogo entre o eventual ofendido e o Mineirão. Até a fabricante do produto foi chamada para opinar sobre o fato. O item, segundo o divertido embate entre as partes, era roll-on e não inflamável. A administração do estádio alega o contrário. Daí para frente, foram trocas de mensagens, cada uma mais hilária que a outra, num incrível e desproposital debate.

Pelo que li, a Minas Arena (que nem deveria ter dado confiança a essa asneira), a fim de ficar livre do caso, resolveu ressarcir o torcedor, que, penso, buscou apenas visibilidade e não reparação do que insinuou ser prejuízo, algo em torno de dez reais. Isso mesmo, meus amigos: um desodorante de dez reais foi a causa da grande celeuma. Finalmente, de modo estranho e em inglês, a administradora pergunta se o objeto é para mulher. O incauto, por sua vez, responde que sim, é para mulheres.

Fiquei daqui pensando: se eu tivesse entregado o meu estimado gorro, será que o Morumbi me enviaria uma caixa com a peça, como aconteceu com o torcedor reclamão? Afinal, o que de tão especial teria esse desodorante que causou tanto furor? Teria o produto roll-on outra utilidade, além de correr pelo sovaco do usuário? Ao término de descabida idiotice em busca de visibilidade momentânea, o torcedor ganhou tubos e tubos do produto. Se ele usá-los apenas debaixo do braço, terá um bom estoque quando chegarmos ao fim desta temporada.

Falando em temporada, enquanto isso, o Atleticano se ocupa de acompanhar o time em todas as competições habilitadas para 2017. Copa Libertadores, a partir de março; Copa do Brasil, a exemplo de todo time grande, só das oitavas em diante; Primeira Liga e Campeonato Mineiro, em andamento; além do Brasileiro, em maio. O sovaco do Atleticano está é cheio de jornais e revistas sobre o nosso time do coração. Ah! Em dezembro, vamos para Dubai!