Era um jogo do Atlético como outro qualquer. De repente, se transformou em uma das mais fantásticas experiências da minha vida. A poucos metros de onde eu estava um cego se preparava para “ver” o jogo e torcer pelo time do seu coração. A velha e surrada camisa preta e branca denunciava a sua paixão. O radinho de pilha preso a um dos ouvidos parecia ser a única ligação entre ele e o que os seus olhos não podiam lhe mostrar.
O jogo começou e eu tive a certeza de que ele, de uma forma que eu ainda não conseguia compreender, via tudo o que acontecia no gramado do Gigante da Pampulha. Os sorrisos, ora escancarados, ora tensos, as mãos crispadas, a excitação, as mudanças de semblante e de humor a cada ataque do Galo e a cada contra-ataque do adversário e, pasmem, uma espécie de brilho impossível naqueles olhos mortos, deixavam claro que ele, de fato, estava vendo o jogo.
Fascinado, comecei a perceber que o radinho colado ao ouvido não era a sua única fonte de informação e, nem tampouco, era o único veículo a fornecer alimento para a sua imaginação. Dei um jeito de ficar ao lado dele e, de repente, já parecíamos amigos de longa data, assistindo juntos o time do coração, discutindo os lances, xingando o juiz e os jogadores que, por ventura, errassem um passe ou perdessem um gol na cara do goleiro adversário. E, quando ele me confessou o seu segredo, i.e., como conseguia “ver” o jogo, acabou mudando para sempre a minha forma de ver uma partida de futebol.
Ele via o jogo com a alma, com o espirito. Ele aprendeu a entrar em sintonia com a Massa e com o pulsar e a vibração da torcida ele conseguia criar imagens e cores para as jogadas que os narradores descreviam. Aquele cego via muito mais que a bola. Ele sentia o jogo e com ele pulsava. Isso era muito mais que simplesmente ver a gorduchinha rolar de um lado para ao outro do campo. Isso era sentir a essência do jogo.
A experiência que vivenciei com aquele cego me fez lembrar Nelson Rodrigues, um dos mais importantes escritores e dramaturgos brasileiros. O também cronista esportivo e apaixonado pelo esporte bretão, responsável por criar a expressão “pátria de chuteiras”, que deu o nome a um de seus mais populares e marcantes best-sellers, cunhava frases e, entre as mais célebres que produziu, nos ensinou que “em futebol, o pior cego é o que só vê a bola”, uma crítica àqueles que só olham e falam do futebol presos apenas ao que ocorre entre as quatro linhas durante noventa minutos, sem se dar conta de que o futebol é um fenômeno sócio cultural importante nesse Brasil continental.
Muito à frente de seu tempo, Nelson Rodrigues, autor de livros, peças de teatro, contos, crônicas e outros tipos de obras que o imortalizaram, era cruel e profundo em sua escrita que chocava e estarrecia. E, como todo moralista, era um especialista da alma humana.
Durante a campanha da Libertadores de 2013, jogo após jogo, lembrava-me do nosso herói. Eram 48 minutos do segundo tempo quando eu vi Riascos ir para a bola e Victor de bico isolar e garantir a classificação do Atlético para as semifinais da Libertadores. E como será ele “viu” a defesa antológica do Santo atleticano?
Enquanto o relógio girava vertiginosamente, o Atlético brigava contra o tempo e a tensão explodia no seio da massa, eu vi a luzes do Horto se apagarem, os celulares brilharem e o “eu acredito” ser gritado freneticamente por aquela gente que já havia derrotado o vento. De repente, eu vi a bola novamente rolar e Guilherme, amaldiçoado por muitos e querido por outros tantos, entrar em campo e desferir um chute insuspeito de fora da área e fazer o gol que recolocava o Glorioso na rota do título. E como será que ele “viu” tudo isso?
Eu vi Richarlyson e Jô desperdiçarem os seus pênaltis e, mesmo assim, não conseguia acreditar que era o fim do sonho. Eu vi também dois jogadores do News Old Boys chutarem por cima do gol as esperanças portenhas e, finalmente, Victor fazer nova e emblemática defesa, colocando o Galo na final. E como será que ele “viu” essa serie de pênaltis tão surreal?
Pela primeira vez eu vi um jogo do Atlético atrás do chamado gol da Cidade, onde normalmente se posta a torcida do rival. Eu vi Rosinei correr pela ponta direita e cruzar para a área, no gol do outro lado. Eu vi Jô pegar o rebote, chutar de pé direito e marcar o primeiro gol atleticano contra o Olímpia. Eu vi o tempo passar e a tensão aumentar. O Atlético tinha uma diferença a tirar.
De repente, eu vi um atacante paraguaio, atrevido e cheio de pernas, passar pelo Santo e ficar com o gol atleticano à sua mercê. Era o fim do sonho. E aí eu vi o inimigo tombar. Um escorregão improvável, uma queda inexplicável aos olhos normais. Lembrei-me daquele amigo de um único jogo e aí consegui ver e entender o que tinha acontecido. Ei vi que uma legião de atleticanos invisíveis, de outras dimensões e universos, tomados por uma paixão imortal, inexplicável para os pobres mortais que dela não comungam e para qual não existem fronteiras, entraram em campo carreando a energia de milhões de galistas que nunca deixaram de acreditar que o titulo era possível, e , sem dó e nem piedade, derrubaram o inimigo, evitando o desastre. Só a mística atleticana, tão familiar ao nosso personagem, consegue explicar o que aconteceu naquele momento.
Eu vi Bernard cair pela ponta direita e cruzar. Eu vi Leonardo Silva subir e cabecear. Eu vi a bola viajar e cair lentamente dentro do gol do bom Martin Silva, em um átimo de tempo que parecia uma eternidade. E eu vi, bem diante de meus olhos, a disputa final de pênaltis que começou com mais uma defesa de Victor e terminou com uma bola que explodiu no travessão tudo aquilo que estava represado na alma e no coração atleticanos. E aí eu o vi mais uma vez. Eu vi toda a magia que vive e sente aquele que consegue ver mais que a bola.
Nesse momento em que o Atlético mais uma vez termina a fase de grupos da Libertadores na liderança geral, enchendo todo atleticano de esperança e alegria, tenho a certeza de que, mais do que nunca, a mística atleticana entrará em campo, ainda que o regulamento tenha mudado, o fantasma dos potes esteja presente, a competição deste ano seja a mais equilibrada da história e talvez a mais brasileira de todas as edições realizadas até agora, a final seja em jogo único em estádio teoricamente neutro e o Atlético, como sempre, tenha que driblar as suas próprias idiossincrasias.
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Boa tarde Max
O sonho de cada um de nós que vivemos o Clube Atlético Mineiro, é novamente passar por estes momentos, não iguais que não e possível , mas por situações semelhantes, com emoções que qualquer um que ama nosso Galo sente ao lembrar dessa inesquecível parte da nossa história alvinegra!
Um abraço muito forte !
Pela ordem seguem minhas preferências no sorteio da Libertadores: Cerro, Universidad Católica, Olimpia, Vélez, Defensa, São Paulo, River e Boca... mas como sou um pé-frio confesso e convicto, podem esperar o Boca!
Caros,
TARDELI:
Prá começo de conversa foi um EXCELENTE atacante, principalmente na 1ª passagem, onde demonstrou q era de fato um BOM jogador, num time VALENTE...e ali, marcando gol de tudo qnt é jeito, sucumbiu com todo aquele BOM time, AGUERRIDO, na reta final do Br09...O time de 2009 pode ser considerado o 1º grande ensaio, depois da RETOMADA, prá conquista do BRASILEIRO > O NOSSO GALO tem q voltar a VENCER o Brasileiro, o atleticano q ñ considerar isso ñ passa de um ATOA tanto fais, q pensa q é...FATO prá deixar no barato!
Um dos mais belos GOLS do Nosso Matador: https://www.youtube.com/watch?v=s6pKgd2Mh68
Tardelli ñ foi um craque completo (cabeceio, p.ex., ñ era seu forte..., precisava de espaços, de times rápidos...), e era tb o oposto do q certa FACÇÃO da Torcida acha q tem q ser um jogador vestindo o manto, ou seja, ñ era o melhor marketeiro do RAÇUDO, pelo contrário, no seu MARKETING pessoal se valia SÓ da técnica (tirava o pé das divididas q era uma brincadeira, sempre pensou na IF - Independência Financeira - no q ñ tava errado, deixava muito torcedor puto). Jogador chamado ÚTIL e, no seu auge, eficiente, veloz e capaz de decidir partidas...graças a DEUS q ñ era aquele RAÇUDO perna de pau (mas q DD sabia marquetar de beijador de camisa, sabia!) > características tão apreciadas qnt ineficientes. CRUZES!
Na 2ª passagem, o Clube em grande fase devido ao GRANDE KALIL, aquele q MUDOU DE FATO O PATAMAR do Clube e q ñ pode ser citado no Cantinho Só Nosso (Pq será Belorizontinos e Mineiros? CRUZES!) Tardelli, então já famoso DOM DIEGO, deitou e rolou, as MARIOLAS de tusta perfumado sendo a vítima predileta > https://www.youtube.com/watch?v=LTbpAG_QTB4
...A atual, a 3ª passagem, foi um BRINDE ao Tardelli, devemos perdoar nele o FATO de o Nosso Galo ter sido quase sempre um trampolim para a IF, uma bela duma VITRINE...Tardelli tem muito MÉRITO, O ARTILHEIRO deve ser respeitado!
Obrigado DOM DIEGO TARDELLI!!!
RIP Ilton Chaves!!!
Abs!!!
Essa história do torcedor cego foi eternizada
pelo incomparável poeta Roberto Drumond .
Ela é emocionante e Drumond revela ainda
detalhes incríveis da sensação que o rapaz
captava com a reação da torcida .
Muito boa mesmo .
Salve Massa, Max e Guru!
Caro Max, foi a partir destes acontecimentos de sua narrativa, aliados ao nosso comportamento naquele fatídico ano de 2005 quando caímos e cantamos o hino do clube é que o Brasil inteiro teve de dar a mão a palmatória e reconhecer o que já era notório: a força de nossa torcida.
E as perspectivas para a reedição desta sinergia torcida x time são muito boas, por um simples motivo: desde aquele time de 2013 se estendendo para 2014 que ganhou a copa de Brasil, há tempos não víamos tantos jogadores comprometidos e com vontade de ganhar como os de hoje, capitaneados por Nacho Fernandez e Hulk.
E o melhor exemplo deste momento, foi a vontade demonstrada por nosso ídolo Tardelli em querer permanecer no clube e neste ambiente. Ontem o sentimento do atleticano foi de quem estava se despedindo de algum parente muito próximo e amado, e esta melancolia foi potencializada pela demonstração de respeito e amor pela torcida externada pelo jogador.
Enfim chegou a hora da despedida dos campos, mas a ligação Tardeli x Massa permanecerá.
Obrigado ta ta ta ta ta, por fazer a alegria desta grande massa e por ser mais um personagem que passou pelo clube e escrever a sua história que nunca será esquecida.
Nota: Parabéns á diretoria e comissão técnica que mesmo entendendo a passionalidade da torcida, priorizou não só a parte financeira, mas principalmente técnica ao tomar a decisão de não renovar com nosso ídolo. Isto demonstra que estamos caminhando a passos largos para uma nova era dentro do clube. A era da razão.
Bom dia a todos!
Belíssimo texto Max. Arrepiei todo ao ler e lembrar dos lances mencionados na LA 2013. A sua menção ao seu amigo de um jogo, me fez lembrar de um momento eterno para mim.
Ontem foi anunciada a não renovação de contrato do ÍDOLO TARDELLI, eternizado na memoria de todo Atleticano. Saiu dos pés dele o único gol do Galo na vitória sobre o Vitória no primeiro jogo que assisti presencialmente no Mineirão. Jogo no ano de 2009. Não sai da minha cabeça. Minha querida mãe me convidou para ir a BH assistir ao jogo do Galo. Saímos de Diamantina na sexta feira à tarde após minha aula no colégio, para um evento que marcou a minha vida e aumentou infinitamente a minha paixão pelo Clube Atlético Mineiro. Haviam 64 mil malucos naquele espaço, minha mãe e eu eramos mais um naquela multidão. Guardo até hoje como recordação o ingresso daquele jogo. Muitos Atleticanos tiveram como referência o pai, no meu caso, meu pai é cruzeirense e minha mãe é Atleticana, ela foi minha referência para me apaixonar pelo Galo. Graças a paixão dela que tornei Atleticano. Obrigado mãe por me fazer Galo!
Bom dia, Tardelli!!!
Tardelli disputou 230 jogos e marcou 112 gols nas três passagens que teve no Atlético.
No Galo, o cara ajudou demais o Clube abocanhar sete títulos: Copa Libertadores (2013), Copa do Brasil (2014), Recopa Sul-Americana (2014) e Campeonato Mineiro (2010, 2013, 2020 e 2021)
Foi dele o gol do título da Copa do Brasil de 2014 na vitória por 1 a 0 sobre o Cruzeiro, no Mineirão.
Inesquecível...
Como o Atlético anunciou o fim da Era Tardelli no Clube, resta agradecer ao craque por tudo que ele fez pelo Galo…
Muito obrigado, Diego Tardelli!!! Seja feliz na sua nova jornada!!!
Parabéns, uso suas palavras como se fossem minhas.
Que Deus sempre esteja ao lado do nosso ídolo.
Obrigalo por tudo!
Obrigado, Max Pereira pelo seu belo texto. Realmente, o futebol tem esses encantos. Essa capacidade de nos ofertar sensações incomuns. Também tive um amigo cego que não perdia um único jogo do Galo. Às vezes íamos juntos para o Mineirão. Eu ficava impressionado ao vê-lo descrever como fora uma partida e falar de detalhes que eu não conseguira ver. Agora você me explicou o motivo. Eu via a bola e ele via o jogo.
Bom dia, Eduardo, Max Pereira, atleticanas e atleticanos, satisfeitos com o crescimento do Galo. À medida que o time vai se organizando alguns jogadores começam a mostrar um futebol mais efetivo e interessante para o time. O Allan, por exemplo, muito criticado, vem melhorando a sua participação nos jogos, ganhando confiança e além de ter melhorado a sua atuação defensiva está, aos poucos arriscando uns chutes a gol. Tem uma finalização ruim demais e me lembra o pit-bull Pierre. Não acerta uma. Mas importa é que cresce junto com o time. De Igor Rabelo,Guga e Arana nem é necessário falar mais. Estão muito bem. Alonso está aos poucos voltando a ser um bom zagueiro, jogando com mais tranquilidade porque não precisa ficar monitorando os companheiros de zaga, faz só o seu jogo com segurança, sem tentar ser o xerife da zaga, coisa para a qual não é preparado. Tchê Tchê, cuja contratação eu elogiei, visto o que jogou no Palmeiras, está se tornando peça importante no desarme, saída de bola e embora com timidez arrisca umas finalizações. A ascensão desses jogadores explica a evolução do sistema defensivo do Galo.
No meio e na frente, tudo bem. O fortalecimento da defesa deixa o Nacho ocupado só em armar o jogo, observem que ele não corre o campo todo, inclusive defendendo, como antes. Agora fica flutuando por todo o campo ofensivo desfilando a sua arte e servindo o ataque. Savarino cresceu junto com o Hulk que está se tornando o motor emocional do time, motivando e acelerando o jogo dos companheiros e Keno ou Marrony seguem o ritmo. Enfim, a organização do time e o embrião de um padrão de jogo começa a beneficiar a todos os jogadores em campo. O time está jogando junto, com vontade e satisfação. Há uma alegria em campo que já começa a despertar os reservas. Eu disse em comentário recente que o jogo organizado ou padronizado, ajuda os reservas que entram em campo apenas para ocupar o espaço do substituído, sem ficar procurando o que fazer em campo. Entram, ocupam o espaço e dão sequência natural ao jogo. O Galo do Cuca, ao contrário do que pensam e até dizem alguns, não é time em formação. É time bem formado em franco processo de evolução. O tempo aperfeiçoará tudo de bom que já estamos vendo.
O GALO ESTÁ VIVO E ATIVO, SE ORGANIZANDO EM CAMPO E ALEGRANDO A MASSA COM BONS JOGOS.
Prezados Ávila atleticanas e atleticanos!
Bela resenha caro amigalo Max!
Recordar é reverenciar a nossa memória!
Apesar da beleza que se foi, espero também a beleza do hoje e agora!
Todos nós somos "cegos" quando se trata do atlético. Aí daquele que discordar desta premissa. Somos só uma voz e é a única torcida que ousa discordar do dramaturgo Nelson Rodrigues: " toda unanimidade é burra" desde que não seja a torcida do galo. Somos unissonos: hoje e Sempre, galo!!! Contra tudo e contra todos...