Durante anos e anos tenho ouvido gols e mais gols do Atlético, tantos que jamais saberia contar quantos, embalados pelo refrão de uma música de nome “Replay” gravada em 1973 pelo Trio Esperança e que conta a história de um gol que realmente existiu e que aconteceu em uma determinada partida de futebol que nada tem a ver com o alvinegro das Gerais, mas, que espelha de forma fiel o que acontece com o coração e com a alma de cada torcedor galista e, particularmente, com a cidade do mais belo horizonte, sempre que o Atlético balança as redes adversárias.
E quando isso acontece, tal e qual a letra dessa música, o atleticano grita e canta com a alma e o coração: É GOOOLLLLLL! QUE FELICIDADE! É GOOOLLLLLL! O MEU TIME É A ALEGRIA DA CIDADE!
Já vi gente que não era atleticana e que foi ao Mineirão senão por uma simples curiosidade, porque, segundo ela própria, não tinha nada para fazer de melhor naquela tarde ou naquela noite, não conseguir ficar imune ao clima gerado pela massa ensandecida de alegria durante a comemoração de um gol do Galo.
Já vi um rapaz, paulista de nascimento e de coração, sem nada que o ligasse a Minas, torcedor de um dos grandes de São Paulo, sem dizer aonde ia e o que iria fazer, sair de perto dos amigos que o levaram ao Gigante da Pampulha durante o intervalo e, algum tempo depois, voltar vestido com uma camisa do Galo que comprara de um vendedor ambulante cuja banca estava instalada em frente ao portão de entrada daquele setor do estádio. “A partir de hoje sou Galo também”, disse e repetiu para não ficar nenhuma dúvida sobre a sua conversão ao atleticanismo.
Já vi e vivenciei a maior festa que Belo Horizonte já experimentou em sua história. Era 1971. Mal o juiz trilou o seu apito encerrando aquele jogo histórico no Maracanã, saí de casa perambulando e sem destino certo. O Galo tinha acabado de se sagrar campeão do Brasil e o que eu queria era apenas comemorar. Com quem e onde, não importava. Percorri quarteirões, ruas, bairros. As casas iluminadas, o ir e vir das pessoas rindo, chorando, gritando Galo e se abraçando, o buzinaço contínuo dos carros e o espocar dos fogos, indicavam que Belo Horizonte regurgitava de felicidade. Afinal, o meu time era a alegria da cidade.
Abracei gente que não conhecia e que nunca mais eu veria novamente. Entrei em casas de gente que não conhecia, mas, sempre me sentindo como se estivesse em minha própria casa. Bebi, comi, chorei, ri e cantei com gente que nem sequer sabia o nome, sempre ouvindo, nos vozeirões de Jota Junior e de Vilibaldo Alves, o gol de Dario José dos Santos, o Peito de Aço, que, sem parar, ecoava praticamente de todas as casas, prédios, serviços de autofalantes, bares, restaurantes, carros de som, taxis e dos inseparáveis radinhos de pilha.
ADIVINHE!!! qual foi a indefectível ordem que Jota Júnior deu para Wendel, então goleiro do Botafogo, ao narrar o gol de Dadá Maravilha e que também deu o exato tom da vitória e do recado que cada galista queria igualmente transmitir naquele momento: “VAI BUSCAR LÁ DENTRO!!!”
Os dias que se seguiram àquele domingo memorável foram absolutamente singulares. Entre os fogos de artificio que explodiam pelos céus da capital mineira, a todo momento ouvia-se, também em todos os lugares, o gol que sacramentou o titulo. As televisões nas vitrines das lojas também não se cansavam de reprisar a arrancada de Humberto Ramos pela meia esquerda, o cruzamento perfeito e a cabeçada certeira de Dario, o mágico queixo no peito. Com vários estabelecimentos fechados, entre eles várias obras de construção civil paralisadas, Belo Horizonte viveu dias seguidos de feriado e só retornou rigorosamente ao normal na semana seguinte.
Voltei a viver experiência semelhante em 2013 e até hoje os gols de Jô e de Leonardo Silva, somados aos pênaltis que decidiram aquela inesquecível Libertadores ecoam no meu cérebro e povoam os meus sonhos. Depois de uma noite insone saí passeando por uma cidade alegre e em êxtase e, onde quer que eu olhasse, eu só conseguia ver a bola balançando as redes do Olímpia e, ao mesmo tempo, o travessão do gol da cidade tremendo depois do ultimo pênalti cobrado e perdido pelo time paraguaio. Aquilo tinha o sabor e a importância de um gol. Alguém pensa o contrário?
Não atoa, um locutor, curiosa e ironicamente torcedor do rival, o grande Osvaldo Reis, o Pequetito, que brilhantemente narrou os jogos, os lances e os gols do Atlético naquela Libertadores, descreveu a defesa histórica de Victor no pênalti cobrado por Riascos, gritando a plenos pulmões e um sem numero de vezes: “É GOL DO GALO! É GOL DO GALO! É GOL DO GALO!”
Não sem razão, muitos dizem que o gol é o momento mais importante do futebol. O gol simboliza a concretização de um objetivo, a afirmação, o romper da ultima barreira para o sucesso, a realização de um sonho. É com a imagem do gol da vitória que o atleticano sente e entende o que, segundo reza a lenda, se passava na cabeça e no espirito de Júlio César, mítico imperador romano, quando, em 47 A.C., utilizou a frase em latim “Veni, vidi, vici”, traduzida para a língua portuguesa como “Vim, vi, venci”, ao relatar para o Senado Romano a sua, então recente, vitória sobre Fárnaces II, Rei do Ponto, na Batalha de Zela.
Queria o ainda general e cônsul romano, não só proclamar o seu feito, como também alertar os senadores sobre seu poder militar, vez que Roma, naquela época, passava por uma intensa guerra civil. A frase deixa claro não só que a sua vitória era inquestionável, como também era indiscutível o poder de quem a proferiu. É exatamente assim que o atleticano se sente e se mostra com o gol do seu time: vitorioso e poderoso. O gol confere e mostra poder.
A quem o torcedor do Atlético sempre chamou de rei e diante deles se curva como um súdito fiel e religiosamente devoto? Ao Rei Reinaldo e ao Rei Dadá, nada mais e nada menos, que os dois maiores artilheiros da história do clube. Assim, como os dois maiores fazedores de gols do Atlético são e serão eternamente venerados pela massa atleticana, em outros tempos o volume e a média imbatível até os dias atuais de gols de Mário de Castro encantaram e embalaram as mentes e os corações alvinegros, tanto quanto os gols espiritas de Ubaldo Miranda, o Miquica, que o fizeram ser carregado, várias e várias vezes, pelas ruas e avenidas de BH.
Nos dias de hoje, o imaginário atleticano tem sido incendiado pela força de um incrível super-herói. Nascido nordestino e Givanildo, o Hulk atleticano, preto e branco na alma e no uniforme, tem esmagado o gol adversário e fazendo o galista apaixonado se sentir poderoso e acreditar que para o Atlético nada é impossível.
Bipolar por natureza, como qualquer outro torcedor do Atlético que ao mesmo tempo chora e ri, se enche de um otimismo imensurável e se contorce em meio a um pessimismo incontrolável, se ufana e se deprime, pressinto que os dias em que poderei reviver aquelas experiências podem estar muito mais próximos do que podem imaginar a minha vã filosofia.
E assim, como no biênio 2013/2014, a magia de R10 e as defesas de São Victor foram o alimento dos gols de Jô e Cia. Ltda., algo me diz que, de uma forma ou de outra, o Atlético continuará levando a bola para o fundo das redes adversárias, honrando, também nesta temporada, a tradição de ser um dos maiores marcadores de gols do futebol brasileiro desde o já longínquo ano de 1971, quando o próprio Galo faturou o título do primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol da história do Brasil. Até quando? Espero que até o fim de cada competição. Melhor, até o fim dos tempos.
Ainda que o time jogue mal e faça a massa ter pesadelos, como nesse jogo sofrido, muito ruim e de muitos erros dentro e fora do campo, da volta contra o Bahia pela Copa do Brasil, aparece um golzinho salvador e chorado que, se não evitou a derrota, foi suficiente para manter o Galo na trilha do título. Saídos do banco, Dylan e Vargas se encontraram em campo uma só vez e, exatamente neste único encontro, nasceu o gol que levou o Atlético às quartas de finais da Copa do Brasil. Um lançamento espetacular do colombiano, colocando como se fosse com as mãos, a bola na cabeça do chileno que, por sua vez, de forma estilosa e matreira, a cabeceou no contrapé do goleiro do Tricolor de Aço. A redondinha entrou mansa e caprichosamente no cantinho esquerdo abaixo da meta baiana.
BARBANTE NELES, Galôôô! CAIXA! É NOSSO! BICA BICUDO! E NESSE ULTIMO JOGO CHEGOU A SUA HORA, VARGAS, VAMOS TODOS FESTEJAR, porque algo me diz que também vai chegar a hora de cada atleticano bater no peito e gritar para o mundo: EU SOU CAMPEÃO!
BARBANTE NELES, Galôôô! ESMAGA SUPER-HERÓI! BICA BICUDO! Cada vez que um atleticano gritar É NOSSO! É NOSSO! É NOSSO! É CAIXA! É CAIXA! É CAIXA!, o Atlético vai estar cada vez mais perto do Olimpo do futebol que é a tão sonhada conquista do caneco. E todas as vezes que a bola estiver LÁ DENTRO, É GOL DO GALO!, DO GALO FORTE VINGADOR! É BOLA NO BARBANTE DO GOLEIRO ADVERSÁRIO! E vamos todos festejar. Afinal, É GOOOLLLLLL! QUE FELICIDADE! É GOOOLLLLLL! O MEU TIME É A ALEGRIA DA CIDADE!
E uma provocação final aos místicos: quem me conhece sabe que eu não creio nas bruxas, mas, cá entre nós, que elas existem, elas existem. (rs, rs, rs) Se em 1971 Dadá tinha a “solucionática”, em 2013 R10 a magia e Victor virou santo, quem sabe hoje não vale a pena apostar também no misticismo. Afinal, além de um super-herói, o professor na jornada dos anos 2013 e o de hoje são a mesma pessoa. Se eu acreditei antes, por que não agora, não é mesmo?
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Excelente e brilhante texto, Max Pereira. Estava no maracanã quando Dario nos deu o título (tenho o ingresso até hoje), e presente em praticamente todos os grandes momentos do nosso GALO DOIDO.
Ser atleticano transcende ao entendimento dos mortais comuns , e quando leio textos inteligentes e e cheios de emoção, como o seu, tenho certeza que a sementinha de nossa paixão vai estar sempre plantada e florescendo no coração dos filhos, netos, bisnetos, e por toda a eternidade. Amém!
Eduardo, grande atleticano da velha guarda como eu.
Te acompanho aqui e no Breno Galante e gostei outro dia quando você disse eu sou Galo em qualquer situação. Mesmo digo eu na liberta d 2013 no penal q o Vitor defendeu, eu duvidei por ser ultimo sopro. Minha filha segurou no meu braço e disse acredita.E ela que não torce por ninguem.ai fui do inferno ao ceu.
O céu é e sempre será o nosso limite. Venceremos!
boa tarde Eduardo e massa e Max pereira. ótimo texto. acaba de sair o adversário do galo na copa do Brasil.vamos jogar contra o cbflu então cuca pardal aprende escalar a equipe e nada de poupar jogadores. o primeiro jogo é no rio de janeiro. diretoria lerda estamos nas 4 de final da copa do Brasil. libertadores e somos vicer líder do brasileirão e nada de reforços. aliás esta esfraquecendo a equipe doaram o marrony por 4.5 milhões de euros e ainda tem que pagar os 20 porcento ao Vasco. não sabem vender jogadores doam para outras equipes. aff.enquanto isto temos que atulerar Everson frangueiro. Nathan. sascha.tchê tchê. Hyoran. é com estes jogadores que vamos ser campeão. abrem o olho. a galo não nos decepcione mais. vá galooo.
Aos amigos da Confraria do Canto do Galo, boa tarde.
Quero deixar aqui o meu agradecimento a todos pela recepção do meu artigo de hoje.
Saudações atleticanas.
Boa tarde a todos!
Seu texto foi brilhante meu caro Max!
Parabéns! Embora eu não tenha o lido por completo porque sou meio avesso à nostalgia.
Texto de um atleticano de verdade, coisa que muitos que comandaram e comandam a nau atleticana infelizmente não são.
Saudações atleticanas!
Max,
Nessa toada, falemos então de nossas emoções com as jornadas atleticanas.
Em 2013 eu estava em Salvador, assistindo à final da Libertadores no 9o. andar de um edifício do bairro Canela. Ao final do jogo, campeão, ajoelhei-me frente à tv e reverenciei todo o time, em quase silêncio, em quase choro, coração apertado e voz contida, pois não podia gritar por estar na casa de um amigo baiano com sua família. Mas ao descer... soltei do fundo da alma o grito de GALOOOOOOO mais forte que pude, para ecoar por entre os prédios da capital baiana. O Galo fez a sua parte, eu fiz a minha.
Este ano, não será nenhum problema voltar a Salvador, para gritar de novo, ainda mais forte, GALO BICAMPEÃO!
Vem-me também à lembrança as frases marcantes do Vilibaldo Alves, nos acréscimos da decisão do título de 71: AS LÁGRIMAS CORREM EM MEU ROSTO, A EMOÇÃO É GRANDE DEMAIS!
Impossível viver sem o CAM!
"Eu quero ver gol, eu quero ver gol. Não precisa ser de placa, eu quero ver gol". E do Galo! "Feio é não fazer gol", já disse o poeta do balançar as redes. Ah, alguém fala isso pro Vargas. Mas também não pode ser igual ano passado, tomando quase o mesmo número de gols marcados. "Bola no barbante de"... Douglas (goleiro do Juventude).
BOM DIA EDUARDO , MAX , E MASSA ATLETICANA.
PARABÉNS MAX , BELO TEXTO .
ESSA É A SÍNTESE DO FUTEBOL E DO NOSSO GALO.
VOLTANDO PARA A NOSSA REALIDADE ATUAL É PRECISO DIZER QUE O TIME PRECISA EVOLUIR .
VARGAS É TITULAR NESSE TIME AO LADO DE HULK.
CUCA PRECISA REVER O SEU CONCEITO , POIS , KENO E SAVARINO RENDEM MAIS JOGANDO ABERTO , PELAS PONTAS .
NÃO PODEM JOGAR EMBOLADOS PELO MEIO COMO ESTÃO SENDO ESCALADOS.
PRECISAMOS DE UM GOLEIRO URGENTEMENTE , EVERSON FALHA MUITO , QUASE TODO JOGO ENGOLE UM FRANGO.
BOLAS CHUTADAS DE LONGE PELOS ADVERSÁRIOS É UM DEUS NOS ACUDA.
EVERSON NÃO PEGA E VAI COMPROMETER A NOSSA CAMINHADA RUMO AOS TÍTULOS.
Bom dia,
Hoje não vou escrever nada para não poluir as palavras do post.
Vim aqui apenas para parabenizar.
Parabéns Max pelo belo texto.
Pois é. É hora de poupar na Libertadores e entrar com força máxima no Brasileirão.
De minha parte, esse ano prefiro o BR21 a qualquer outro. Já deu esse jejum. Tá chato.
Força máxima contra o Juventude, e mais sangue na veia.
Se passar pelo River, ótimo. Se não, que seja.
Mas esse jejum... tem que ter fim esse ano.
Boa tarde.
Tem que acabar! Tem que acabar! Tem que acabar! Tem que acabar!!!