Abre o olho, Galo, e vai fundo…!

Paulo Peixoto

Decepção (ah, aquele pênalti…); dupla decepção (aquele 1 a 1 cruel…); alento e esperança (vencemos o Internacional); tripla decepção (a patacoada em Chapecó…); suspiro (no arroz com feijão de sábado, que faltara na quarta). Esses são os meus sentimentos em relação ao Galo desde os jogos da semifinal da Libertadores. É um vai e vem sentimental, reflexo do que tem sido o time nesse curto espaço de tempo.

Quem acompanha as linhas traçadas por mim aqui nesse espaço nobre do Dudu Ávila, sabe que tenho lançado, desde o começo do trabalho dessa nova gestão atleticana – ainda em 2020, com Jorge Sampaoli –, um arsenal de gestos e acenos de tolerância com tudo que vem sendo feito no CAM.

Defendi a chegada do Cuca e defendo a permanência dele, custe o que custar. Aconteça o que acontecer. É um grande treinador. Mas nem por isso vou normalizar determinadas situações que ocorrem com o nosso Galo.

Já disse também que tenho enorme esperança nesse time, mas que me falta o sentimento da confiança. Se havia alguma evolução capaz de fazer com que eu alcançasse esse pleno sentir, isso se esvaiu nas decisões contra o Palmeiras e voltou à estaca zero diante da horrorosa partida contra o lanterna Chapecoense. Se não tivesse vencido o Ceará, aí teria sido demais. Menos mal. Fato é que o meu sentimento de confiança segue baixo, mas o de esperança com esse time segue alto. Não vai ser fácil, mas o Galo vai indo. 

Sigo torcendo, e muito mais agora, para esse time ser campeão de alguma coisa importante neste ano. Para quem buscava ganhar tudo não pode nem cogitar ficar sem nada. Seria um desastre. Mas isso só será possível com postura de competição em todos os jogos. Não adianta encher o balde de leite contra o Internacional e chutar esse balde contra a Chapecoense.

Para ser campeão, um bom time como o do Galo precisa de regularidade, ainda mais agora que entramos nas retas das decisões. Nas duas partidas contra o Palmeiras o Galo demonstrou a sua superioridade técnica e tática. Mas fracassou ao não transformar isso em vitória. Ao menos uma bastava. Teve todas as chances, mas errou ao chutar para fora as bolas de ouro que lhe foram apresentadas. 

Errar ou não vencer faz parte do jogo, é do esporte competitivo. Porém, isso não vale nas decisões em que o seu time é comprovadamente superior ao adversário. Não se dá chance para adversário durante decisão, se você é reconhecidamente melhor. Para isso não tem perdão. Tem que ter cobrança, muita conversa e muito mais trabalho.  

Eu poderia despejar aqui diversos adjetivos para classificar a postura atleticana contra a Chapecoense. Mas vou ficar apenas na falta de “competitividade” do time, especialmente no primeiro tempo, repetindo palavra usada pelo nosso treinador Cuca. Isso é inadmissível para quem luta para ser campeão. Falta de competitividade pode significar falta de compromisso com a causa maior do clube ou soberba. Não acredito em nenhuma dessas, mas, seja o que for, foi um gigante e absurdo erro.

Não concordo com argumentos de que o time está “psicologicamente cansado” e que o campo contra a Chapecoense estava pesado, como afirmou Hulk em Chapecó. Tivemos ainda os desfalques substituídos pelos reservas etc. etc. etc.  

Vejam essas falas: – O campo estava muito, muito pesado, mas ele estava pesado para os dois; (…) As ausências também pesam, mas não é só os que entraram (os reservas) que não foram bem, como costumeiramente (jogam bem); O time em geral não jogou o que joga; (…) Não acho que teve consequência hoje (em Chapecó) o resultado da Libertadores. 

Essas francas declarações são de Cuca após o vexame contra a Chapecoense. Reproduzi aqui esses argumentos porque elas não me deixam falando sozinho. Cuca tem muita lucidez sobre esse momento do Galo e sabe que algo precisa acontecer para a coisa não desandar. Isso é muito bom, mostra a maturidade do nosso treinador.

E foi graças à pergunta/colocação de Juliano Pato, da rádio 93 FM, na entrevista concedida por Cuca em Chapecó, que finalmente falou-se do momento vivido por Hulk e também por Nacho. Cuca falou inclusive do “barbantinho” que Hulk anda(va) amarrando na bola.  

Disse o repórter: “O Hulk é um jogador de decisão, mas nos últimos cinco jogos não marca (gol). E, nas últimas tomadas de decisões, parece que o Hulk prefere fazer jogadas individuais do que passar para um jogador mais bem colocado. E o Nacho teve queda de rendimento técnico. O que fazer para que esses dois jogadores voltem a jogar juntos e bem?“

Veja o que respondeu Cuca: “Muito bem colocado. Explanação perfeita do que vem acontecendo. E se tem as tomadas de decisão erradas, eu já venho conversando muito com ele (Hulk), que já está sendo visado do jeito que joga. Temos que ter um plano B, C, dentro dessa cartilha. Vamos ter que trabalhar ainda mais em cima disso. E o Nacho também teve essa queda, isso é visto, é notório, e a gente tem que passar confiança para esse jogador – dentro da cobrança, é lógico –, porque ele é um jogador importante pra nós que deve resolver as situações. A gente tem confiança nele e vamos continuar com o trabalho, em cima, para que ele possa retomar os grandes jogos que ele fez.“

Acho que não é preciso dizer mais nada. Somos os líderes do Brasileirão e bastante visados pelos adversários, que sabem como o Galo joga, como Hulk joga, como Nacho joga. Agora é a hora da decisão. E quem realmente quer ser campeão não pode fraquejar nesses momentos. Não ter passado pelo Palmeiras em dois jogos foi um absurdo porque somos melhores. Se não tivéssemos vencido o Internacional, seria um resultado normal pelo momento de recuperação do time gaúcho e pela dureza do jogo. Não ter vencido a Chapecoense foi demais. Menos mal que aquela rodada ajudou, mas era para estarmos ao menos mais quatro pontos na dianteira – não vencemos o lanterna duas vezes e, sinceramente, espero que esses pontos não nos façam falta ao final do Brasileirão.

Antes de concluir, é preciso dizer que o Hulk foi decisivo contra o Internacional com excelente jogada e assistência para o gol. E que o Galo foi muito bem naquele jogo duro, muito duro. Foi também o Galo muito competitivo contra o Ceará, mesmo sem mostrar um grande futebol. Achei que, depois da fala do Cuca, o Hulk se apresentou mais leve na entrevista do sábado, quando marcou duas vezes, e mostrou ter assimilado as críticas que sofreu pelas decisões erradas no ataque. E o Nacho ganhou um descanso importante. Entrou para fazer uma bela jogada no terceiro gol. Tudo isso foi importante para reassentar as coisas.

Eu andava achando esse time um tanto ansioso (excesso de cruzamentos inúteis para a área e e pouco trabalho de bola), e o Cuca confirmou isso no sábado, ao falar da conversa que tem tido para conter a ansiedade dos jogadores em querer resolver rapidamente as partidas. Saber lidar com a pressão é fundamental. 

Só não concordei com o Cuca quando ele reiterou duas vezes na coletiva de sábado que o Galo vem de sequência de 13 vitórias em 17 jogos e que isso é um grande feito. De fato é, não tenho dúvida. Mas para quem mudou de patamar com tantos investimentos milionários, o ideal é que tivesse sido resultados positivos nos 17 jogos. Essa é a nossa realidade agora. Acostumemos todos com isso. Se temos jogadores que ganham na casa do milhão por mês, é pra eles decidirem. 

Ficamos de fora da final da Libertadores e não vencemos o lanterna do Brasileirão duas vezes. Ainda assim estamos muito longe de vivermos um clima de terra arrasada, longe mesmo, porque esse time é muito bom e muito bem treinado. Se cada um fizer conscientemente o seu, vamos manter esse topo até o final. E a torcida faz parte desse processo. Mais do que nunca o apoio é fundamental. 

Agora vem o Fortaleza pela Copa do Brasil, mais batalha, mais desgaste. Se não errar, vamos pra final. Vamos com fé! Abre o olho, Galo! Vai fundo, Galo!