Dom Serafim sempre foi discreto ao falar dessa ajuda que prestou ao Atlético, como se não tivesse feito mais do que sua obrigação ao se esforçar para manter no Galo um atleta com os quilates de Toninho Cerezo. O jogador, ao contrário, sempre reconheceu que, sem o apoio do bispo, talvez não tivesse sido possível conciliar o sonho de se tornar um jogador profissional com a necessidade de, ainda criança, ajudar a mãe num momento difícil. O gesto do arcebispo significou muito mais do que abrir uma porta para um menino de origem humilde, que se tornaria um dos melhores de todos os tempos em sua posição. Mais do que isso, significou uma chance para que toda uma geração de ouro não se dispersasse antes de conseguir mostrar seu talento.
Para cumprir a promessa feita a dona Helena Cerezo, de cuidar bem de Toninho enquanto ele não fosse um profissional na bola, dom Serafim contou com a ajuda de uma pessoa fundamental. Uma mulher que, ao lado de Zé das Camisas e, mais tarde, do treinador Barbatana, acabou sendo a responsável por manter unida a geração que foi a base dos timaços que o Atlético teve entre 1976 e 1979.
O nome dela era Iracema Benevides Ferreira. Professora aposentada da rede pública, nascida numa localidade chamada Cunha, próxima a Barra Longa, que na época era distrito de Ponte Nova, ela respondia, àquela altura, pelas obras sociais do Orfanato Santo Antônio — instituição católica que tinha dom Serafim como mantenedor. Zeladora da igreja que ainda hoje existe na Rua São Paulo, quase esquina com Tamoios, era também encarregada de assegurar que nada faltasse aos meninos que acolhia.
Vivia num apartamento nos fundos da Igreja e o lugar, com o tempo, se transformou no segundo lar dos jogadores da base. Principalmente dos que vinham do interior e não tinham parentes em Belo Horizonte. Ou, então, dos que, como era o caso de Cerezo, precisavam morar no centro para conseguir treinar, estudar e trabalhar.
Iracema atendeu o pedido de dom Serafim não porque lhe devia obediência (na verdade, o próprio bispo reconhecia que devia mais a ela do que o contrário). Ela, com satisfação, abriu as portas da instituição e de sua casa para todos os meninos daquela geração porque era uma atleticana apaixonada. Além de acolher Cerezo ela já mantinha, por laços indiretos, uma ligação com outro dos rapazes daquele grupo. Ela, que nunca se casou nem teve filhos, criou e deu educação a dois sobrinhos de Ângelo, um dos destaques daquele grupo. E o jogador, sempre que podia e mesmo antes de Cerezo entrar na história, sempre passava por lá para ver o meninos, tomar um café coado na hora e comer um bolo saído do forno — algo que, convenhamos, não era comum no alojamento.
Em pouco tempo, e depois que Toninho Cerezo passou a frequentar o lugar com regularidade, o lanche de todas as tardes e os almoços ajantarados de domingo na casa de Tia Iracema passaram a ser uma rotina para os meninos que viviam no alojamento do velho estadinho de Lourdes. Ela fez mais do que alimentá-los: deu carinho, proporcionou diversão sadia e, educadora que era, puxou as orelhas de quem fez por merecer. Ou seja, ajudou na formação da garotada. Na mesa e no coração de Tia Iracema sempre tinha lugar para mais um atleticano.
A escola que havia no Orfanato foi onde muitos daqueles garotos aprenderam a ler e a escrever. E onde outros tomaram gosto pela música e por outras atividades que não dissessem respeito à bola. “Foi lá que eu aprendi a jogar xadrez”, recorda ninguém mais, ninguém menos do que José Reinaldo de Lima, o Rei, que guarda por Tia Iracema um carinho especial. Desde o início Reinaldo se deu bem no tabuleiro e se tornou um enxadrista respeitado. “Ela foi como uma mãe para nós”, dizReinaldo.
A importância do Orfanato Santo Antônio e de Tia Iracema na vida daquela geração foi enorme. Foi lá, por exemplo, que além de Reinaldo e Cerezo, Ângelo, Márcio Gugu, Marcelo, Paulo Isidoro e outros jogadores que, na época, eram apenas talentos promissores, assistiram no dia 19 de dezembro de 1971 a partida em que o Galo derrotou o Botafogo por 1 a 0 (fora o olé!) e sagrou-se campeão brasileiro de 1971.
Com o passar do tempo, e na medida que os meninos foram crescendo, os encontros de domingo passaram a incluir música de qualidade, filmes clássicos e, claro, namoros adolescentes. Os rapazes logo se interessaram pelas sobrinhas que também iam visitar Tia Iracema nos finais de semana e elas por eles. Estranho seria se não houvesse algum envolvimento entre eles.
Reinaldo frequentou o Orfanato Santo Antônio entre 1971, quando chegou de Ponte Nova para jogar no Galo, e 1978, quando foi convocado para a Seleção Brasileira que foi à Copa de 1978, na Argentina. Foi lá, também que alguns daquele jogadores do Galo foram curtir a dor pela perda indecorosa do campeonato brasileiro de 1977. Sempre que chegavam, eram recebidos com uma xícara de café feito na hora, um bolo novinho, pão de queijo saboroso e, principalmente, pelos conselhos e pelo carinho de Tia Iracema.
A vida do Galo é repleta de “anjos da guarda” que volta e meia aparecem para ajudar a colocar a situação em ordem e a realizar tarefas aparentemente corriqueiras mas que, na prática, são fundamentais para manter a situação em ordem. São gestos de acolhida que talvez não fizessem efeito para os meninos da equipe sub-15 de hoje em dia, que conta com uma estrutura de alojamento, treinamento e apoio mil vezes superior à dos profissionais dos anos 1970 e 1980.
O futebol evoluiu e os clubes que não evoluíram junto com ele em termos de estrutura, organização e método de trabalho, se ainda não ficaram, logo ficarão pelo caminho. Isso de forma alguma diminui a importância dessas figuras iluminadas. Pelo contrário, só aumenta. Sem elas, o clube talvez não tivesse sobrevivido aos momentos de dificuldades que atravessou ao longo de sua história centenária.
Outras figuras da mesma envergadura de Tia Iracema também merecem estátuas em reconhecimento a suas obras. Uma delas, sem dúvida, é dona Alice Neves. Mãe de Mário Neves, um dos fundadores do clube, dona Alice sem dúvida merece um lugar de destaque na história do Galo. Assim como o Orfanato Santo Antônio foi um porto seguro para os meninos que brilhariam com a camisa do Galo na segunda metade dos anos 1970, a casa da família Neves, na Rua Guajajaras, 317, foi o ponto de encontro dos estudantes que fundaram e defenderam as cores do Atlético nos primeiros anos de vida.
Foi Alice Neves quem confeccionou os primeiros uniformes e a primeira bandeira do Atlético. Também foi ela quem bordou os escudos nas camisas usadas nos primeiros jogos. Acolhedora, mediadora e severa quando preciso, ela ajudava a zelar sobretudo pelos meninos que vinham do interior ou de outros estados para estudar em Belo Horizonte.
Esse negócio de dizer que o amor pelo futebol não é coisa de mulher pode ter existido em certas agremiações preconceituosas — que cresceram em torno de grupos fechados de uma colônia de imigrantes ou de turmas mais fechadas ainda de pessoas metidas a bestas, que se diziam de “elite”. O Atlético foi provavelmente o primeiro clube do Brasil a contar com uma torcida feminina organizada. Dona Alice ia de casa em casa pedindo que os pais autorizassem as filhas a acompanha-la ao campo. E se responsabilizava pessoalmente por tudo o que acontecesse.
Por causa de gente como ela, de dona Iracema e de dezenas de outras poucos clubes do Brasil, ao longo de suas história levaram tão ao pé da letra o conceito de base. A pergunta é: qual o sentido de mencionar histórias como essas num momento em que o atleticano, influenciado pelo dizem os rapazes e moças que falam de futebol nas emissoras de TV por assinatura, parece ter esmorecido e deixado de confiar no título e no clube?
É justamente aí que está o xis da questão. É diante das dificuldades que se revelam os verdadeiros torcedores. E por mais que se justifiquem as reações irritadas de uns e de outros diante de resultados frustrantes como o de domingo passado, é sempre bom se lembrar daqueles que fizeram sua parte para que o castelo não desmoronasse e o sonho pudesse prosseguir. E, em respeito a elas, fazer o mesmo que fez o filósofo Ronaldinho Gaúcho: bater contra o próprio braço para mostrar que naquelas veias corre o bom sangue atleticano. E dizer para quem quiser ouvir: “Aqui é Galo, p*##@!!!!
Não podia imaginar que viveria um primeiro dia da semana, pós derrota, sentindo um grande…
Quem diria! Confesso que, depois do terceiro gol alinhado a entrada do Kardec, não desliguei…
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Prezado R.Galuppo,
O Dom Serafim frequentava a casa de meus avós em Caetanópolis, cidade ao lado de Paraopeba depois de Sete Lagoas.
Meu pai conta que ele era enfermeiro no Hospital Dr. Pacífico Mascarenhas, acredito que entre 1955 a 1960 e Dom serafim na época não sei se já havia sido ordenado bispo, estava hospitalizado com um problema na perna e em um domingo o Atlético foi jogar um amistoso contra o time de Caetanópolis.
Como o médico não lhe deu alta, nem o autorizou a ir ao campo de jogo, ele chamou meu pai e ele o levou nas costas, tipo de "cavalinho", escondidos, saltaram a janela do quarto e foram ver o Atlético jogar, tamanho seu fanatismo pelo galo.
Lembro que meus pais se mudaram para Belo Hte e ligamos para a secretaria do Dom Serafim e marcamos um almoço na casa dos meus pais que moravam no Santo Antonio e ele marcou um mês depois por causa de sua agenda apertada e no dia meu irmão o buscou de carro e ele almoçou com todos em um domingo e contaram vários causos da época que eram amigos.
Boas histórias.
Ainda acredito no título,esse ano não podemos deixar de acreditar em nada,tudo está no ar,é só o time ganhar confiança nos jogos que faltam,ganhar.
TONINHO CEREZO , JUNTO
COM REINALDO E RONALDINHO GAÚCHO , SÃO OS TRÊS MAIORES JOGADORES DA HISTÓRIA DO ATLÉTICO.
TRÊS GÊNIOS DA BOLA.
Agora vejam vocês, D. Serafim fez tudo pelo tal do Cerezo, para um dia esse fid....ir jogar no time das Marias e tirá-los da segunda divisão... isso que é gratidão por tudo que fizeram por ele...cuspiu no Manto Sagrado do Clube Atlético Mineiro. Aliás, todos os jogadores da década de 70 e 80 que saíram do Glorioso para vestirem o lixo azul merecem meu repúdio!
Em 2020, o ano do Grande Perrengue, só dá para saber quem não cai, que são aqueles times até o 8o lugar. Daí para frente, tudo pode acontecer. COVID está aí! Em qual time será o próximo surto? Então, acho que o Galo tem que focar, ganhar o máximo que der, evitar a toda custa novo surto no plantel, e esperar para ver no vai dar. Pelo menos G4 com certeza.
Não sou muito otimista quanto ao Sampaoli. Ele não tem currículo campeão. Em todo esporte você tem que saber defender, amarrar o jogo quando está ganhando, administrar o tempo. Isto, se você quiser ser campeão, vencedor.
O campeonato não acabou. Está aberto para quem tiver alma de campeão. Teremos?
Terminamos o primeiro turno em 4° lugar, com 32 pontos, empatado com o fluminense, mas na frente por critério de desempate. Perdemos muito gás no fim do primeiro turno o que impactou nossa colocação. No segundo turno, somos segundo colocado, com 11 pontos em quinze possíveis (três vitórias e dois empates). O Grêmio, com um jogo a menos e dez pontos, pode nos passar.
No segundo turno enfrentamos flamengo, Corinthians, Ceará, Botafogo e Internacional. Contra o Ceará fomos buscar um empate com um a menos e com o time desfalcado pela covid. Estávamos ganhando do internacional até o fim, quando vacilamos e cedemos o empate. A campanha do segundo turno não está tão ruim como parece e é melhor, até agora, que a do mesmo período no primeiro turno.
Por outro lado, o São Paulo que se ganhar do Botafogo será o campeão do primeiro turno com 37 pontos, agora no segundo turno jogou contra Goiás, Fortaleza, Vasco, Bahia e Sport. Nos dois primeiros jogos houve polêmica de arbitragem. Depois, empatou com o Vasco em casa, vencendo em seguida Bahia e Sport, esse último por placar mínimo.
A vantagem do São Paulo, contando que ele vença o Botafogo, será de sete pontos, sendo cinco no primeiro turno e dois no segundo. Portanto, a nossa liderança era ilusória pois o São Paulo tinha jogos a menos e o que temos agora é uma campanha de recuperação no segundo turno.
Analisando as cinco rodadas passadas, parece que, até agora, o Galo teve um segundo turno mais difícil que o São Paulo. Ou seja, o São Paulo ainda vai enfrentar Corinthians, flamengo e Internacional. E nós, Fortaleza, Goiás, Bahia e Sport. Em condições normais, o São Paulo teria adversários mais difíceis. Mas e o Galo? Vai parar de vacilar?
Acho que o time não deve ficar olhando para tabela e achar que está muito difícil voltar à liderança. É ir, jogo a jogo, fazendo sua obrigação, a começar por melhorar nossa posição na tabela como visitante, onde estamos em 10° lugar, perdendo até para Atlético-GO e Corinthians, que estão bem abaixo na tabela geral.
A grande questão é se vai ser possível recuperar aquele Galo doido do início do campeonato ou se teremos que conviver com o Galo burocrático e confuso que tem se apresentado. Eu acho que o São Paulo vai perder muito mais do que sete pontos até o fim do campeonato. O problema é saber quantos nós deixaremos pelo caminho.
Se houver um pacto de jogadores e comissão técnica por um sprint final nesse campeonato, eu acho que o caneco será nosso. Sim, eu, como a maioria da torcida, acredito! Mas e os jogadores e comissão técnica? Acreditam também?
17/04/1983 : Couto Pereira
sinflético paraguaiano 0x2 GALO. Pacote e Éder Aleixo finalizaram o sinflético genérico de campo. Já a cabeça de caveirinha mocochôcha...
[•••]" É diante das dificuldades que se revelam os verdadeiros torcedores."[•••] Diria q é diante das dificuldades q se revelam TORCEDORES/AS q defendem as cores do Clube seja lá onde e qdo for,q e os "dondocos",aqueles do 2º andar em Lourdes,nem sabem q existem. Uma delas q hj é tbm,salvo melhor juízo, conselheira do Clube e a Dª Leni da Rocha! Típica representante Galista q pode apertar que ela não afrouxa! Este jogo foi pelo Br de 83, qdo ela juntamente com a Dª Lindaura, enfrentaram os simpatizantes do sinflético genérico para salvar uma bandeira do GALO que eles tentavam a tudo custo roubar p pendurar de ponta cabeça_ maior humilhação não havia_ e depois rasgá-la. Levaram até bambuzadas, mas a bandeira do GALO ñ sofreu um arranhão, foi salva e trêmulou intacta durante toda a partida.
Dª Leni p quem ñ se recorda, é conhecida pelo "Balaio da Leni", caravana q acompanhava o time e tbm por ter batido com uma sombrinha no árbitro Cléber Abade, em 2003, no Independência, GALO 2 x 2 paraná. É isso, ATITUDE! E por falta dela,mais uma vez a gente q estava com a faca e o queijo na mão, joga o queijo fora e enfia a faca no... [impróprio]
Saudações Atleticanas
Boa tarde,
Esse Cerezo pagou tudo isto e mais a eleição para vereador que a torcida lhe concedeu, indo jogar no rival e tendo em seu currículo a facanha de fazer o gol que livrou os rivais do rebaixamento, em 1994, contra o Santos. Se eu já tinha minhas ressalvas a esta Pessoa, que hipocritamente chamava o Galo de Glorioso e depois de se reunir com o Presidente do Galo para acertar contrato com o Clube, foi se reunir com a direção do rival para fazer leilão, depois de saber dessas historias passei a considera-lo icone da ingratidão e trairagem.
DOMIMGOS SÁVIO,
procure conhecer a outra versão dessa história .
Tenho que fazer justiça, o autor é Ricardo Galuppo... Parabéns...
Toda terça, manhã e tarde, temos o privilégio de postar o Galuppo e sua prodigiosa memória aqui no blog.
Tanto o primeiro como o segundo texto, excelentes, aliás, como de hábito. Parabéns mais uma vez ao Galuppo pelo resgate de histórias e pessoas tão importantes na vida do Galo.
Bom dia amigos do Galo. Não há mais espaço para erros, NOSSO GALO precisa voltar a jogar para vencer, tem que ter confiança total no título.
P.S. Que texto fantástico, muito bom!
Quantas histórias, quanta memória!!!
Arquivei este texto histórico, parabéns ao autor, brilhante...