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Eduardo de Ávila
Defender, comentar e resenhar sobre a paixão do Atleticano é o desafio proposto. Seria difícil explicar, fosse outro o time de coração do blogueiro. Falar sobre o Clube Atlético Mineiro, sua saga e conquistas, torna-se leve e divertido para quem acompanha o Galo tem mais de meio século. Quem viveu e não se entregou diante de raros momentos de entressafra, tem razões de sobra para comentar sobre a rica e invejável história de mais de cem anos, com o mesmo nome e as mesmas cores. Afinal, Belo Horizonte é Galo! Minas Gerais é Galo! O Brasil, as três Américas e o mundo também se rendem ao Galo.

Hino dos hinos

Nosso convidado de hoje é mais que especial. Amigo de décadas, radicado em Brasilia por outras tantas dezenas de anos, nunca se desligou das lembranças do passado. Fossem das relações pessoais ou do nosso time. GNV black, mesmo distante daqui, acompanha o time como se morasse ao lado da Cidade do Galo. Sempre me registrou seu descontentamento com a letra do hino nas arquibancadas diferente da original. Daí o incitei a discorrer sobre nossa paixão e essa particularidade. Pedi um texto e fomos brindados com uma palestra sobre a Atleticanidade. Ao final ele se apresenta, mas já entrou em nossas casas muitas vezes e desde tempos passados.

São Vitor do Horto já deu o testemunho. O Hino do Atlético cantado no estádio durante um jogo é a dose extra de energia pra quem está dentro do campo. É a perfeita comunhão entre jogador e torcedor, emanada da obra prima criada em 1969 por Vicente Mota. Um hino que fala de amor, de luta, da história e que, além de tudo, é pura poesia em seu verso final:

Uma vez até morrer

O que é EX? O Aurélio explica: “Quando unido por hífen a um substantivo, significa que o nome indicado deixou de ser aquilo que era, ou deixou de exercer o cargo ou função que tinha”.

Sendo assim, tem ex-presidente, ex-governador, ex-marido, ex-namorada, ex-jogador, ex-motorista, ex-empresário, ex-padre, ex-esportista, ex-amigo…e poderíamos encher páginas e mais páginas de exemplos. No entanto, ninguém vai achar no mundo uma categoria específica de ex – que é o ex-Atleticano.

O Atleticano – sempre com A maiúsculo – é um Ser diferente. Iluminado e abençoado pelo Divino Superior, é totalmente fora dos padrões de qualquer outro torcedor mundo afora. Principalmente porque o Atleticano não tem apenas simpatia pelo seu time. O Atleticano não se limita a torcer pelo seu time. A ligação do Atleticano, na verdade, nem é apenas com “o time”. É um estado de espírito que une esta Nação e, como uma aura de proteção e purificação, deixa em estado de rejuvenecedora felicidade tantos quantos tiveram a estrela de nascer sob essa energia sem igual no mundo esportivo.

Mas a Atleticanidade, em geral inata, é tão generosa que também acolhe e contagia os que chegam de outras plagas. Porque basta um breve contato para conhecer o êxtase.

Já é público e notório o depoimento de muitos atletas profissionais, alguns com passagens por tantos times que o currículo mais parece as antigas listas telefônicas. Estes profissionais já assumiram há muito tempo que “no Galo, entra empregado e sai torcedor” Afinal, é impossível ficar imune à energia que vem das cadeiras e arquibancadas. É impossível não se contagiar pela “rua de fogo”. E é muito fácil, a qualquer batida de porta, copo quebrado ou estrondo de um rojão, soltar a plenos pulmões o famoso grito de GALOOOOOOO!

Por tudo isso, o baixinho Bernard, no último jogo com a camisa alvinegra antes de se mudar pra Ucrânia, estampou no peito o sentimento de todo Atleticano e que é um dos mais belos versos de nosso hino: UMA VEZ ATÉ MORRER.

Galo Forte Vingador

O futebol ainda era apenas esporte e paixão, longe do negócio que hoje movimenta milhões de reais e aumenta cada vez mais sua fatia no PIB nacional e mundial. Naquela época (e ainda hoje, vai!) era muito comum os outros grandes de Minas – por ordem, América, Villa e Palest…ops, já era Crüzëirö – serem sistematicamente surrados pelos times do eixo São Paulo e Rio.

Na sequência, o desfecho mais comum era um jogo em que o já Maior de Minas media forças com os mesmos adversários e, na grande maioria das vezes, salvava a honra do Estado. Daí ter nascido na torcida o slogan que seria mais tarde adotado pela imprensa e por quem ama o futebol e que ainda perdura no início da terceira década do século 21: “Galo Vingador”.

Vencer, vencer, vencer

Este é o nosso ideal

Também é história. Que vem desde a fundação do time, quando aquele grupo de estudantes se reuniu no coreto do Parque Municipal, em 25 de março de 1908. De lá pra cá, a simples menção à palavra ATLÉTICO, a simples visão de uma camisa preta e branca, ou o apito que marca o início de um jogo do Galo… Ah, tudo isso tem o poder de provocar um frenesi que só conhecem os que tem a ventura de nascer Atleticanos ou os que se convertem e são perdoados por Deus pelo passado errático. A respiração acelera. O sangue corre mais rápido nas veias. A pressão no peito aumenta. E tudo isso, somado, provoca no Atleticano um sentimento de bem-estar, de satisfação, de contentamento, que nada mais é do que um estado de imensa felicidade pelo simples fato de ser Atleticano e de pertencer a esta família nação irmanada no mesmo ideal.

Lutar, lutar, lutar

Os times do Galo ao longo da história sempre mostraram uma vontade e uma força só comparável ao brio do mascote que defende sua família no galinheiro e espanta qualquer que seja o invasor. Nossa história está repleta de passagens que demonstram essa força e nos enchem de orgulho.

Em 3 de setembro de 69, depois de estraçalhar os adversários nas eliminatórias sul-americanas para a Copa de 70, a seleção brasileira, comandada por Pelé e Tostão, caiu diante do Galo de Amaury e Dario, que fizeram os gols diante do escrete que viria a ser tricampeão do mundo no ano seguinte.

Isto depois de virar um jogo para 3 a 2, depois de sofrer 2 a 0, diante da poderosa Iugoslávia, que dias antes empatara com a mesma seleção brasileira no Maracanã. E ainda fazer 2 a 1 no timaço da União Soviética comandado por Metrevelli.

Apelo

Gostaria de terminar com um chamamento.

Nós, que temos a honra e a sorte de sermos Atleticanos e de cantarmos um dos mais belos e empolgantes hinos do esporte mundial, temos agora uma missão: Resgatar, nos estádios, um dos mais lindos versos do “Hino dos hinos” – UMA VEZ ATÉ MORRER.

Nos últimos anos, temos encerrado todas as estrofes com o “Galo Forte, Vingador”. Vamos fazer jus à nossa história. E mostrar o nosso diferencial, já que não existe ex-Atleticano. A partir da segunda estrofe, vamos cantar a letra certa:

CLUBE ATLÉTICO MINEIRO

UMA VEZ ATÉ MORRER

Sérgio Amaral

Mineiro radicado em Brasília, cujos pontos altos no currículo são os filhos Henrique e Renato (com a companheira de 40 anos, Márcia) e com a benção de ser Atleticano.

*fotos: arquivo pessoal

Nota do blogüeiro: Texto irrepreensível. Li e reli várias vezes antes de postar. Delicioso. Atleticanidade é isso.

Em tempo: Hoje, segunda-feira, estarei na live do Consulado de São Paulo pelo instagram @Galosampa. Confiram, estou esperando!

11 thoughts to “Hino dos hinos”

  1. Bom dia,

    Não sei se foi de propósito, mas que texto hein!
    Não existe melhor forma de oferecer ao Atleticano uma boa semana do que falar do nosso hino.
    Sou totalmente contra qualquer modinha e mudança em nosso hino.
    Fiquei até sem contexto quando estava na arquibancada e começaram a cantar algo que eu não conhecia, desatualizado com tais mudanças, ainda nem pensei em tomar conhecimento.
    Parabéns, ao Sérgio Amaral por escrever tão bem e principalmente por ser Galo.

    Boa semana a todos!

  2. Torcida do Galo e uma torcida de paz e garra, não pode nunca descambar para a violência, xinga, berra grita , sempre respeitando o próximo. Vamos crescer muito este ano com a raposinha em baixa. Que assim continue. Galôoooooooooooo

  3. Aproveitando a excelente contextualização sobre o nosso hino, em especial a parte que fala do GALO FORTE VINGADOR, reitero o que já havia dito em outro post. Me incomoda muito, a pouca imaginação da torcida, que copia cânticos e melodias de torcidas de outras equipes. O canto: “o Galo é o time da virada, o Galo é o time do amor”, é uma cópia sem graça e provinciana, de mesmo canto entoado pela torcida do Vasco. Nada contra o amor, muito pelo contrário, mas antigamente, quando cantávamos sobre nossas viradas, usávamos “o Galo é o time da virada, o Galo é o time VINGADOR”. Tem mais a ver com nosso hino e nossa história, é mais original, e, penso eu, deveria voltar a ser usado. Boa semana para todos. SAN

  4. Exceto pela desaprovação em relação à distorção do Hino, de resto discordo de quase tudo no texto. Aliás, o Hino do Galo é uma ode perfeita à falta de vaidade e orgulho, e a convocação à luta com TODA A NOSSA RAÇA, como gente comum, lutadora e batalhadora, tão abençoada por Deus como qualquer outro ser humano, e, sabendo disso, tem ciência de que deve empreender esforço desmedido para vencer, sem qualquer garantia de que o conseguirá. A vida é o caminhar, não o resultado, é o que eu entendo como mensagem do maravilhoso hino. O texto trazido hoje é, ao meu sentir, o exato contrário disso, proclamando o atleticano como um ser “abençoado pelo Divino Superior”. Discordo totalmente. Quanto ao Hino, o erro trazido à baila é pequeno perto do erro maior que as torcidas organizadas e demais que torcem para a torcida, e não para o clube, têm feito descer goela-abaixo nos estádios, trocando “Lutar, lutar, lutar, COM TODA A NOSSA RAÇA PRA VENCER”, por “Lutar, lutar, lutar, com muita raça e orgulho pra vencer”. Caro Teobaldo, me alinho com você nessa, e já não é de hoje que falo disso. Este foi um texto bastante ruim, ao meu juízo e com o todo o respeito, e que é parte do problema, não da solução, segundo o MEU sentir.

  5. Bom dia Sérgio, Eduardo, Lucy, atleticanos e atleticanas,
    atleticano é isso aí…. Com disse Catulo da paixão Cearense; “Com definir o que só sei sentir”…
    Não existe ex-Atleticano, porque quem se diz ex-Atleticano é porque nunca foi um de verdade…
    O Galo não comporta simpatizantes… Ou é ou não é, não tem meio termo…
    Mas, como em todo amor, existem momentos de briga… Mas como eu digo aos meus amigos, eu só brigo com quem eu gosto, porque com quem eu não gosto não tenho como brigar porque não fico perto dessa gente….
    Vamos resgatar o nosso maravilhoso hino, elogiado até por adversários: “Queria ter um hino assim”, ele faz parte da nossa identidade… UMA VEZ ATÉ MORRER…
    Uma ótima semana a todos e se cuidem
    Pra começar bem a semana que tal uma música, afinal quem canta seus males espanta, não é mesmo???

  6. Prezados Ávila, atleticanas e atleticanos.
    Belíssimo texto. Não é atoa que se diz que o atleticano é um ser sobrenatural.
    Hoje e sempre, galo.

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