Emma Stone volta ao Oscar com Pobres Criaturas

Em busca de seu segundo Oscar, Emma Stone chega aos cinemas na próxima semana em Pobres Criaturas (Poor Things, 2023), nova colaboração da atriz com Yorgos Lanthimos. Quem conhece o diretor sabe bem o que esperar: uma trama surreal que se passa em um mundo parecido com o nosso, mas que toma várias liberdades e traz personagens inusitados. Tudo isso permeado por críticas que vão do patriarcado ao sistema capitalista, aproveitando no meio do caminho para avacalhar com as regras de convivência em sociedade.

Adaptando um livro de Alasdair Gray, Lanthimos repete duas colaborações de A Favorita (The Favorite, 2018): além de Stone, volta também o roteirista Tony McNamara. E, assim como em O Lagosta (The Lobster, 2015), o diretor não tem nenhum compromisso com a realidade, mostrando feitos da medicina que deixariam Victor Frankenstein e o Dr. Moreau com inveja. O médico louco da vez é quase Deus: não à toa, o nome dele é Godwin Baxter, chamado pelo apelido de God (Deus). Willem Dafoe (de Asteroid City, 2023), como todos no elenco, parece estar se divertindo no papel, e é ele quem cria Bella Baxter (Stone).

Quem é Bella é algo que só descobrimos com a sessão correndo. Entendemos de cara, no entanto, que ela é alguém que está descobrindo o mundo, mas à moda dela. Parece ser inocente, mas ninguém a passa para trás. Ela é o próprio símbolo do empoderamento feminino, não obedecendo nenhuma convenção social ou comportamento hipócrita. Bella faz o que quer e conquista a todos sendo ela mesma. Alguns se chocam, outros acham tudo maravilhoso. Assim como será a reação do público ao final dessa sessão. Ou durante.

Os outros dois nomes principais do elenco são os de Mark Ruffalo (o Hulk da Marvel) e de Ramy Youssef (de Mr. Robot). Enquanto Youssef faz um estudante de medicina certinho que nutre grande admiração por seu professor “Deus”, Ruffalo é um advogado que não faz muito sentido. Começa muito sério, a trabalho, mas logo se mostra um tresloucado disposto a sair pelo mundo. Sua interpretação, indicada ao Oscar, é acertadíssima, só o personagem se mostra um tanto inadequado àquele universo.

Tecnicamente, Pobres Criaturas se mostra perfeito. Não à toa, teve 11 indicações ao Oscar, muitas delas em categorias técnicas. Os figurinos, a maquiagem e todo o design de produção são impecáveis, acentuados por uma fotografia brilhante e pontuados por uma trilha adequada. A montagem, também indicada, poderia ter sido mais assertiva, encurtando algumas passagens, já que o resultado é um pouco cansativo. Alguns filmes ressoam mais em umas pessoas que em outras, por razões que dependem de experiências pessoais.

Um design de produção brilhante é um dos trunfos de Pobres Criaturas

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Vidas Passadas mostra um encontro de mundos

Duas crianças, colegas de escola, parecem gostar muito uma da outra e, por isso, as mães promovem um encontro. Quando tudo apontava que elas seriam namoradinhos infantis, uma das famílias deixa a Coréia do Sul em busca de uma vida melhor. Na Young muda seu nome para Nora Moon e começa uma vida nova no Canadá, perdendo contato com Hae Sung. Esse é o ponto de partida para Vidas Passadas (Past Lives, 2023), co-produção norte-americana e coreana que, mesmo tendo recebido diversos elogios e prêmios, teve sua estreia comercial inexplicavelmente atrasada para janeiro, sendo que a primeira previsão era para agosto de 2023.

A diretora e roteirista Celine Song faz aqui a estreia em longas com grande estardalhaço, já que chamou bastante atenção em diversas premiações. O filme é sensível e passa uma sensação de simplicidade, o que só valoriza suas qualidades, como a ótima fotografia, que mostra as cidades de maneira corriqueira e ressalta os pontos escolhidos para cenários. Os personagens parecem gente que encontraríamos na próxima esquina e de quem nos tornaríamos amigos, com diálogos inteligentes e críveis. E silêncios e olhares também, tudo bem colocado.

No papel de Nora, Greta Lee (de The Morning Show) mostra grande carisma e segurança, fazendo o público se afeiçoar a ela. Da mesma forma, Teo Yoo (de Decisão de Partir, 2022) nos mostra o outro lado: o de quem ficou pra trás e seguiu seu caminho. Os dois, no entanto, guardam lembranças carinhosas um do outro e nunca se esqueceram. É muito interessante perceber essa grande diferença entre os dois: ela cresceu no ocidente e já está acostumada aos costumes, enquanto ele ainda traz a tradição coreana consigo.

Completando o trio principal, temos John Magaro vivendo Arthur, um americano que traz mais complexidade à dinâmica do casal. Na história da esposa com o amigo de infância, Arthur se sente um intruso, alguém que corre por fora e não entende o básico: a língua natal deles. A relação entre os três traz questões pertinentes que devem fazer muita gente ficar algumas horas pensando a respeito. Somos compostos por mundos interiores e, por mais que eles se complementem, volta e meia podem se chocar.

Por ter boa parte dos diálogos em coreano, Vidas Passadas está concorrendo na principais premiações também como “longa em língua estrangeira”, o que levanta a possibilidade de mais uma categoria a ser premiado. Vencendo ou não, é um filme que merece ser assistido e já conferiu aos envolvidos, principalmente Song, Lee e Yoo, o status de “nomes a serem acompanhados”.

Personagens que fazem sentido e são agradáveis de se acompanhar

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Piscina amaldiçoada causa terror na vizinhança

Um casal unido, dois filhos saudáveis, uma casa grande, com jardim na frente e piscina no quintal. A própria imagem do sonho americano, como em um quadro de Norman Rockwell. Assim começa Mergulho Noturno (Night Swim, 2024), filme que chega aos cinemas essa semana adaptado de um curta-metragem do próprio diretor e roteirista, Bryce McGuire, que usa essa premissa alegre para causar terror no público.

Com apenas um longa no currículo, Unfollowed (2018), McGuire desenvolveu, junto ao colaborador Rod Blackhurst, o conceito que havia criado e o curta de quatro minutos virou um longa de mais de uma hora e meia. E ainda conseguiu bons atores para viverem o casal principal: a ótima Kerry Condon foi indicada ao Oscar no ano passado por Os Banshees de Inisherin (2022) e Wyatt Russell fez o Agente Americano na série do Falcão e o Soldado Invernal, da Marvel. Russell tem as mesmas características do pai, Kurt: o carisma compensa uma certa limitação como intérprete.

A história não é das mais originais, apenas o mote é: o mal da vez se esconde na piscina, o símbolo do sucesso da família. Ter uma piscina em casa é uma grande realização, ou ao menos o filme mostra dessa forma, e ela ser a fonte do problema é uma sacada interessante. Guardadas as devidas proporções, dá para traçar um paralelo com o Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989). Fica a impressão que McGuire deve ter passado a adolescência lendo Stephen King e se sentiu inspirado.

Em boa parte da obra, percebemos que o diretor está mais preocupado em construir uma atmosfera de suspense do que em causar sustos gratuitos – que até acontecem, mas bem espaçados. A lógica é bem desenvolvida e, se não é uma obra-prima, ao menos diverte de maneira competente. O final não é exatamente imprevisível, mas é satisfatório. Desavisados podem até se decepcionar, mas quem procura um bom filme de terror deve ser bem servido.

O casal principal é o principal atrativo do longa

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Sofia Coppola deixa Elvis de lado e foca em Priscilla

Muito já foi falado e escrito sobre o Rei do Rock, e não faltam cinebiografias de Elvis Presley, como a que Baz Luhrmann dirigiu em 2022. Dessa vez, a diretora e roteirista Sofia Coppola decidiu que o foco seria a namorada e futura esposa dele, Priscilla Beaulieu, o que não surpreende ninguém que conheça a filmografia de Sofia. A surpresa fica por conta da relativamente desconhecida Caille Spaeny, que dá profundidade à protagonista e nos leva consigo para Graceland, onde passava dias ora frenéticos, ora solitários.

De As Virgens Suicidas (The Virgin Suicides, 1999) a On the Rocks (2020), passando pelo elogiado Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003), entre outros, Sofia sempre mira mulheres que, com ou sem gente em volta, se sentem sozinhas e deslocadas. Era questão de tempo até pensar em Priscilla, geralmente relegada ao papel de coadjuvante de um dos maiores nomes da música mundial. O livro adaptado, da própria Priscilla (escrito com Sandra Harmon), deu origem também ao filme para a televisão Elvis e Eu (Elvis and Me, 1985), tendo as duas obras sido lançadas oito anos após a morte do cantor.

Assim como o longa de 1985, Priscilla não traz uma visão positiva do Rei, mostrando-o como machista, manipulador e controlador. Pode-se dizer que ele era um produto de sua época, quando características como as citadas eram comuns em homens, mas o filme deixa claro que isso piorou à medida que a fama de Elvis cresceu. Priscilla tinha apenas 14 anos quando conheceu seu futuro marido, 10 anos mais velho que ela. Tudo começa como em um conto de fadas, mas vários episódios fazem o público pensar no que estaria fazendo a moça continuar aturando tudo aquilo. A resposta é bem simples: amor.

A atriz escolhida, Caille Spaeny (de Mare of Easttown), dá conta perfeitamente de viver Priscilla em todo o escopo do filme, tanto física quanto psicologicamente. Merecidamente foi indicada a prêmios, nos fazendo entender porque Priscilla passou por tudo o que Elvis a sujeitou. E cabem elogios a Jacob Elordi (de Saltburn, 2023) também, o intérprete de Elvis. De Austin Butler a Kurt Russell, passando por Dale Midkiff e (porque não?) Val Kilmer, vários atores já deram vida ao Rei. Elordi se destaca por mostrar mais facetas, indo de carinhoso a monstruoso em segundos, sem perder a cara de galã e o jeito simpático, que conquistava a todos.

As brigas entre a verdadeira Priscilla Presley, que entrou como produtora executiva no filme, e a filha, a recém falecida Lisa Marie, que não aprovava o retrato que pintaram do pai, fizeram com que o longa de Sofia não pudesse usar as músicas cantadas por Elvis, o que foi facilmente contornado. Com direção musical da banda Phoenix, liderada pelo marido da diretora, Thomas Mars, e canções dos Sons of Raphael, além de músicas populares das épocas retratadas, não falta coisa boa para ouvirmos. Se há um possível problema em Priscilla, é acompanhá-la somente enquanto há a ligação com Elvis, como se o interesse por ela residisse exclusivamente nele. Seria justo que o roteiro extrapolasse o livro e mostrasse o pós Elvis. Para Sofia, não foi necessário.

O verdadeiro casal Presley, no casamento que o filme mostrou fidedignamente

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Saltburn traz mais críticas à elite financeira

Um rapaz calado e inteligente, de origem humilde, em meio a colegas abastados, se aproxima do sujeito popular e simpático buscando uma entrada na turma e eles acabam ficando amigos e frequentando a alta roda juntos. Enquanto um amigo do riquinho desconfia do recém-chegado, os pais do rapaz o recebem de braços abertos. Eu poderia estar falando de Tom Ripley, personagem de Patricia Highsmith vivido por Matt Damon (em O Talentoso Ripley, 1999) e Alain Delon (em O Sol Por Testemunha, 1966), entre outros, mas trata-se de Oliver, o protagonista de Saltburn (2023), longa disponível no Amazon Prime Video.

Cabia à diretora e roteirista Emerald Fennell a difícil missão de seguir sua premiada estreia, Bela Vingança (Promising Young Woman, 2020), pelo qual ela levou o Oscar de Melhor Roteiro Original e indicações a Melhor Filme e Melhor Direção. Buscando tratar de um tipo de gente difícil de gostar, como disse em entrevistas, Fennell queria que o público se afeiçoasse a eles, mostrando-os como privilegiados, mas tirando o glamour daquela vida tranquila em uma mansão no campo.

A escolha pelo ator principal era a chave para o sucesso do filme, e se mostrou bem acertada: Barry Keoghan (de Os Banshees de Inisherin, 2022) passa muita segurança em todos os momentos, abraçando as nuances de seu personagem e as esquisitices do roteiro. Dando suporte, temos Jacob Elordi (de Euphoria e os três A Barraca do Beijo), ótimo como o jovem mimado que em nenhum momento fica estereotipado. Pelo contrário, ele é exatamente o cara que todos na faculdade gostam, agradável e agregador, mesmo tendo tudo o que quer à mão.

Os pais milionários de Felix são a cereja do bolo: pessoas absolutamente detestáveis, que se cobrem com uma aura de beneficentes e refinados para esconder todos os preconceitos e julgamentos que fazem constantemente, tratando todos como inferiores e indignos. Richard E. Grant, visto recentemente em Loki, é o típico aristocrata inglês que parece viver em outro planeta, cuja principal preocupação é o cultivo de orquídeas. Rosamund Pike (de Eu Me Importo, 2020), a mãe, é o bibelô do marido, mais nova, linda e fútil, que leva pessoas para casa para cuidar delas e posar de salvadora, mas logo se cansa e as dispensa.

Entrando nesse universo, Oliver vira a atração. Mesmo mais erudito ou esperto que os demais, ele não se veste da maneira “certa” e é visto quase como um animal de estimação. Quando todos em volta são falantes e gostam de se gabar, Oliver é discreto e observador. Mede suas palavras, se mostrando bem calculista, o outro lado da mesma moeda. Com essa fauna, Fennell faz suas críticas à elite, que tem quadros valiosíssimos na parede e nem se importa – num fantástico trabalho de design de produção e com um figurino que ressalta os aspectos da primeira década dos anos 2000. E a trilha sonora combina bem, seja com as composições originais ou com sucessos como Rent, dos Pet Shop Boys, ou Mr. Brightside, de The Killers.

Muito melhor que um Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness, 2022), por exemplo, só para citar uma sensação do ano passado que fazia críticas similares, Saltburn tem suas estranhezas, mas funciona satisfatoriamente. Um bom elenco e diálogos bem escritos entregam a mensagem. Depois da grande vitória no Oscar de Parasita (Gisaengchung, 2019), também sobre luta de classes, laureado como Melhor Filme, Direção, Roteiro Original e Filme Internacional, é de se esperar que esse longa tenha uma boa carreira nas premiações dessa temporada.

Carrey Mulligan, em participação especial, mais uma vez trabalha com Fennell

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O melhor do Cinema em 2023

Como de costume, final de ano é sinônimo de balanço com a lista dos melhores filmes. Alguns chegaram ao Brasil esse ano, mesmo sendo de 2022, e só entram os que já foram lançados comercialmente no Brasil. Aqueles que foram criticados aqui têm link para o texto completo.

Ao invés de fechar um top 10, optei por colocar os destaques do ano, aparecendo na ordem em que foram assistidos. Assim, ficam várias recomendações para quem não os viu.

Agradeço a quem acompanhou O Pipoqueiro em 2023 e seguimos juntos para mais um ano. O tempo para assistir aos filmes, escrever e postar anda mais escasso, mas um esforço segue sendo feito nesse sentido. Boas festas a todos!

Os Fabelmans

Os Banshees de Inisherin

Tár

A Baleia

O Lodo

Guardiões da Galáxia 3

O Pacto

Oppenheimer

Fale Comigo

Assassinos da Lua das Flores

Retratos Fantasmas

Elis e Tom

Segredos de Um Escândalo

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Aquaman 2 fecha o atual universo cinematográfico da DC

Chega aos cinemas essa semana Aquaman 2: O Reino Perdido (Aquaman and the Lost Kingdom, 2023), último longa do chamado Snyderverso, ou seja: de antes da chegada de Peter Safran e James Gunn à liderança das produções da DC Comics. Cenas foram reescritas e refilmadas, muita coisa aconteceu nos bastidores e já se esperava um fracasso. Felizmente, o diretor James Wan acertou novamente, entregando uma obra coesa, divertida e bem feita. Se não é um novo clássico, ao menos é muito satisfatório.

Contando novamente com David Leslie Johnson-McGoldrick no roteiro, com colaboração do próprio astro do filme, Jason Momoa, Wan continua a história de Arthur Curry, que se divide entre ser um pacato pai de família e o rei da Atlântida. O lado político do cargo o cansa, ele sempre preferiu a parte física, partir para a porrada contra possíveis inimigos de seu povo. Volta e meia ele tem essa oportunidade, lutando contra piratas, contrabandistas e quem mais aparecer pela frente.

Do outro lado, cultivando um sentimento de vingança, temos David Kane, o Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II – abaixo), cujo pai morreu numa luta contra Aquaman. A descoberta de um artefato antigo e poderoso fará com que o Arraia se torne algo mais que um simples humano. E vai nos revelar o tal reino perdido do título. Situações acontecem e se sucedem numa velocidade adequada e o resultado é uma aventura típica dos quadrinhos, com humor bem encaixado e momentos de tensão.

O vilão do primeiro filme, Orm (Patrick Wilson), volta como um aliado relutante. Mais uma vez, temos uma construção interessante dos personagens, evitando maniqueísmos e estereótipos. Eles parecem ter (alguma) profundidade, e não estou falando do mar. Temuera Morrison (o pai), Nicole Kidman (a mãe) e Dolph Lundgren (o rei vizinho) voltam a seus papéis, assim como Amber Heard (Mera), que tem sua participação esvaziada para evitar a rejeição do público (devido aos problemas pessoais da atriz, que protagonizou um atribulado fim de casamento com Johnny Depp). Randall Park, o Dr. Shin, tem uma participação maior e traz simpatia ao cientista do vilão.

Ao contrário de A Pequena Sereia ou de uns Piratas do Caribe, os efeitos especiais ficaram bem feitos, cortesia dos magos da IL&M, e devem ser visto em IMAX. A trilha sonora casa certinho com a ação, e está novamente nas mãos de Rupert Gregson-Williams. São usados dois rocks de 1969, e há uma curiosidade: Steppenwolf é o nome da banda que toca Born to Be Wild, presente no filme, e é também o vilão de Liga da Justiça (Justice League, 2017), combatido por Aquaman e cia.

Falando em Liga da Justiça, uma pergunta deve martelar na cabeça do público: por que o herói não chamou os amigos superpoderosos para ajudá-lo? Se você vê uma possível catástrofe, com potencial para abalar a Terra, você não chamaria o Superman? Ou Batman, o maior detetive do mundo? Essa é uma das questões que nos exigem um salto de fé para que possamos aproveitar a sessão. No entanto, depois de Shazam! 2 e Besouro Azul, Aquaman 2 é uma bem-vinda lufada de ar fresco. E o filme ainda deixa uma bela e discreta mensagem de preservação ambiental, já que estamos destruindo nossos mares.

Patrick Wilson e James Wan, colaboradores frequentes

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Julianne Moore e Natalie Portman dividem os Segredos de Um Escândalo

Duas atrizes nada menos que fantásticas e um ator em ascensão formam o elenco principal de Segredos de Um Escândalo (May December, 2023), longa já disponível na Netflix que deve ser um dos destaques na temporada de premiações que se aproxima. Outro chamariz é o nome do diretor: Todd Haynes costuma comandar bons dramas, geralmente indicados a prêmios.

Levemente inspirado pelo caso real da professora norte-americana Mary Kay Letourneau, que foi presa por ter um caso com um aluno de 12 anos e teve um filho dele na cadeia, o roteiro nos apresenta a uma atriz que chega a uma cidadezinha para conhecer a mulher que ela vai retratar em seu próximo filme. No papel da atriz Elizabeth, temos Natalie Portman (Oscar por Cisne Negro, 2010), que vai viver no cinema Gracie,  a personagem de Julianne Moore (Oscar por Para Sempre Alice, 2014).

A interação entre as duas mulheres começa amigavelmente, mas a presença da atriz na vida da família começa a levantar questionamentos. Gracie se envolveu com um menor, hoje seu marido, e foi presa. O escândalo tomou as páginas de revistas e jornais por todo o país e agora ruma à tela grande. É muito interessante ver o trabalho de Portman, observando e reproduzindo os trejeitos de Moore, que cria uma figura tridimensional, querida pela vizinhança e ocasionalmente atacada pelo crime passado.

Vivendo o marido de Gracie, Charles Melton (de O Sol Também É uma Estrela, 2019) consegue a proeza de se destacar contracenando com duas colegas invariavelmente excelentes. Não será surpresa ver o nome dele nas listas de indicados por aí. Aparentemente, o ator só precisava de um bom roteiro, como este, assinado por Samy Burch, que faz sua estreia em um longa.

Com uma carreira bem diversificada, Haynes vinha de um ótimo documentário sobre a banda Velvet Underground. Na última vez em que trabalhou com Julianne Moore, ambos conseguiram indicações ao Oscar (ele como roteirista), e Longe do Paraíso (Far From Heaven, 2002) teve quatro indicações no total. Entre as filmagens e durante a montagem, Haynes tocava como inspiração a trilha sonora do filme O Mensageiro (The Go-Between, 1971), de autoria de Michel Legrand. Acabou que a trilha foi incorporada e o compositor contratado, o paulistano Marcelo Zarvos (do terceiro O Protetor, 2023), criou em torno dela, aproveitando muito do trabalho do mestre francês. O resultado ficou inusitado, algo como se Alfred Hitchcock dirigisse um filme erótico.

Ao final de Segredos de Um Escândalo, a certeza que fica é que todos os envolvidos são muito bons de serviço. Se o longa vai ganhar prêmios, é cedo para prever, mas é de longe uma das melhores coisas a estrear na Netflix, serviço de streaming que anda tão carente de boas produções. Maestro (2023) vem aí para ajudar a mudar esse quadro.

O diretor levou seu elenco a Cannes para o lançamento oficial

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Willy Wonka ganha filme de origem

Desde 2016, sabe-se que a Warner estava interessada em fazer um filme sobre a ascensão de Willy Wonka como um grande produtor de chocolates. Personagem do livro Charlie e a Fábrica de Chocolate (ou A Fantástica Fábrica de Chocolate), de Roald Dahl, Wonka já ganhou vida nos cinemas duas vezes, nas peles de Gene Wilder (1971) e de Johnny Depp (2005). Agora foi a vez de Timothée Chalamet viver o personagem numa versão mais jovem, num prelúdio que muitos se perguntaram se era necessário. Essa de fato é uma pergunta complexa, mas dá para assegurar, no mínimo, que o resultado ficou bem divertido.

Ator que costuma ceder os holofotes aos colegas em qualquer filme que faça (não por escolha própria), Chalamet consegue (talvez pela primeira vez) ser o centro da ação e manter o foco em si. Seja em Me Chame Pelo Seu Nome (2017), Um Dia de Chuva em Nova York (2019), Duna (2021) ou Até os Ossos (2022), qualquer outro ator em cena chamou mais atenção que ele, e aqui ele se sobressai, se mostrando à vontade como um Willy Wonka menos estranho – algo que deve piorar com o tempo, até que ele chegue às versões anteriores (e mais velhas). E ele não faz feio ao cantar e dançar as novas músicas criadas por Neil Hannon (fundador da banda Divine Comedy).

No início desse “filme de origem” (terminologia normalmente usada para quadrinhos), encontramos Wonka chegando à cidade grande com o sonho de produzir chocolate em larga escala e levar às pessoas alegria em forma de alimento. Era algo que a mãe dele (Sally Hawkins, de A Forma da Água, 2017) fazia em datas especiais e ele tomou gosto. Por essa premissa, percebe-se que os roteiristas não se preocuparam em seguir o que havia sido estabelecido antes, como o fato de Wonka ter perdido o contato com o pai dentista que o proibia de comer chocolate. Quem assina o roteiro é o próprio diretor, Paul King, mais lembrado pelas duas aventuras do ursinho Paddington (2014 e 2017), ao lado de Simon Farnaby (também de Paddington 2).

O elenco de Wonka traz algumas boas surpresas. A oscarizada Olivia Colman (de A Favorita, 2018) faz uma pilantra padrão que tem seus momentos, e a atriz sabe aproveitá-los. Jim Carter, mais lembrado por Downton Abbey, traz sua nobreza de sempre para o grupo, e Keegan-Michael Key, de filmes e séries bobinhos como Friends From College, consegue arrancar algumas risadas. As grandes participações, no entanto, ficam a cargo do eterno Mr. Bean Rowan Atkinson e de Hugh Grant (de Dungeons & Dragons, 2023), hilários. A novinha Calah Lane (de This Is Us) tem menos experiência, mas não faz feio.

Se, nos filmes anteriores, o design da fábrica já causava assombro com sua riqueza de detalhes e cores espalhafatosas, dessa vez temos toda uma cidade. Como em uma boa fábula, não sabemos ao certo a época. Só sabemos que devemos apostar em nossos sonhos. Claro, fica uma mensagem, mas o percurso é prazeroso. O excesso de fantasia inicial, bem mais que nos outros longas, pode causar um estranhamento, mas tudo logo se ajeita. E muita coisa pode ser interpretada como metáfora. Quem nunca comeu algo tão gostoso que flutuou? Fazendo sucesso, não duvido que Wonka siga tendo continuações. E vida longa aos Oompa-Loompas!

Wilder, Chalamet e Depp: os três Willy Wonka do cinema

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Ridley Scott e Joaquin Phoenix voltam a colaborar em Napoleão

Figura muito citada em livros de História e em paródias, Napoleão Bonaparte foi um dos grandes conquistadores e estrategistas militares do mundo. Ridley Scott, o competente veterano que dirigiu longas históricos e bélicos como Gladiador (Gladiator, 2000) e Cruzada (Kingdom of Heaven, 2005), decidiu seguir na linha desses dois, dessa vez com uma história real. Napoleão (Napoleon, 2023) chega aos cinemas essa semana numa versão de mais de 2h30, com outra de 4h já programada para entrar no Apple TV+.

Com um ritmo um pouco lento entre batalhas, o filme se alterna entre a vida pessoal e as maquinações políticas de Napoleão. Escrito por David Scarpa (que trabalhou com Scott em Todo o Dinheiro do Mundo, 2017), o roteiro toma algumas liberdades frente aos fatos, com alguns historiadores já apontando algumas inverdades – o que Scott prontamente desmereceu em entrevistas, já que a arte não tem compromisso com a verdade. Eles contam a história do jeito que acham melhor.

O filme se inicia na Revolução Francesa, com o fim do absolutismo na França e a chegada ao poder de Robespierre, o jacobino acusado de usar a guilhotina contra seus inimigos pessoais. Em meio a esse turbilhão, um oficial da artilharia demonstrou apoio ao grupo que chegava, os girondinos, e ajudou a consolidá-los no poder. Subindo junto, acabou colocando os colegas para escanteio e se tornando o imperador da França. Se esse parágrafo resume bem o período, o mesmo pode-se dizer da obra, que pula várias passagens, como quando Bonaparte foi preso por apoiar os jacobinos.

É bom deixar claro que essa crítica é escrita a respeito da versão exibida nos cinemas, com 2h38 de duração. Pode-se argumentar que alguns problemas do filme se devem a cortes da versão definitiva, mais longa. Isso não justifica nada. É como tentar adivinhar o que um escritor tinha em mente quando escreveu um livro. Se não está na obra, não pode ser considerado. Logo, o filme Napoleão pula vários momentos importantes e deixa diversas pontas no ar. Há personagens que são simplesmente abandonados e não conseguimos entender todo o tempo o que está acontecendo.

Como tem sido comum em cinebiografias (nas musicais, principalmente), temos ótimas atuações. No papel principal, Joaquin Phoenix (Oscar por Coringa, 2019) faz o que o roteiro provavelmente pede: ao invés de viver um vilão em sua totalidade, como o Commodus de Gladiador, ele tenta mostrar um misto de megalomania e humanidade e até um quê de carência. A mãe parece ter um papel muito importante na vida dele, mas isso é extremamente mal desenvolvido. O único problema é que, em boa parte do tempo, Phoenix parece apagado, examinando as situações ao invés de vivê-las. O ator é sempre bom, mas o filme demanda mais dele.

Quem frequentemente rouba a cena é Vanessa Kirby  (de Pedaços de Uma Mulher, 2020). Se ela consegue fazer isso com Tom Cruise (na franquia Missão: Impossível), com Phoenix não seria diferente. Com falhas de caráter sendo apontadas aqui e ali, Josephine precisaria de grande carisma e força para não ser imediatamente odiada pelo público. Kirby tira de letra e ainda coloca, por que não?, uma pitada de fragilidade, dando um afago no ego do pequeno homem que ela ama. A baixa estatura de Bonaparte é abordada bem levemente, e a mão na barriga, retratada na famosa pintura de Jacques-Louis David (Sam Crane), é deixada de lado, já que não se sabe ao certo a razão – podia ser apenas uma pose para o artista.

O robusto orçamento de US$ 200 milhões é justificado pelo design de produção do parceiro habitual de Scott, Arthur Max. Cenários e figurinos são majestosos, garantindo desde já indicações aos prêmios da temporada, tudo valorizado pela eficiente fotografia de Dariusz Wolski, outro colaborador frequente do diretor. Se tudo isso vai funcionar melhor quando chegar ao streaming, só saberemos num futuro próximo. Da forma como está, falta muito para Napoleão ser uma grande obra.

Phoenix e Scott trabalharam juntos em Gladiador, de 2000

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