Inumanos é o pior esforço da Marvel até o momento

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Os Inumanos são uma raça de seres superpoderosos criados em 1965 como coadjuvantes do Quarteto Fantástico. O plano inicial da Marvel era leva-los ao cinema, como parte da Fase 3 do MCU. Devido a uma série de problemas e decisões executivas, esse projeto se transformou em uma série de TV, veiculada na ABC, praticamente como um derivado de Agentes da S.H.I.E.L.D. O conceito de Inumanos – aqui, seres humanos normais com uma alteração em seu DNA que, ao serem expostos a um gás derivado de um cristal, adquirem poderes ou habilidades super-humanas – foi bastante explorado na série.

O fato de o projeto ter mudado de longa-metragem para série de TV e ter sido acelerado para que os primeiros dois episódios fossem exibidos inicialmente no cinema – exclusivamente no formato IMAX – comprometeu demais o resultado. Inumanos é, de longe, o pior produto entregue pela Marvel, seja no cinema, seja na TV, até agora.

Quando a série começa, somos apresentados aos Inumanos como uma raça que habita Attilan, uma cidade escondida na lua. Os Inumanos são uma raça governada por Raio Negro (Anson Mount, de Sem Escalas, 2014), um rei que deve se abster de qualquer comunicação verbal, pois sua voz é tão poderosa que um simples sussurro seu pode vaporizar uma parede de concreto. Para ajudar a transmitir seus desejos e ordens, ele conta com a ajuda da rainha Medusa (Serinda Swan, de Ballers), cujos longos cabelos ruivos obedecem às suas ordens como se fosse um ser vivo.

Completam a família real Gorgon (Eme Ikwuakor), que possuí poderosos cascos no lugar de seus pés; Karnak (Ken Leung, de Lost), que pode descobrir instintivamente o ponto fraco de qualquer estrutura, pessoa ou plano; Crystal (Isabelle Cornish), com poderes de manipular os quatro elementos; Dentinho, um cão gigantesco com poderes de teleporte e Maximus (Iwan Rheon, o Ramsay Bolton de Game of Thrones), irmão de Raio Negro, que não possui qualquer habilidade especial.

Como os Inumanos habitam um espaço limitado na lua, escondidos dos olhos humanos graças a dispositivos de camuflagem, eles estabeleceram um sistema de castas bastante rígido: aqueles cujas habilidades despertadas pela Terrigênese (ritual no qual o inumano inala o gás de um cristal especial) são mais úteis habitam o topo da sociedade. Aqueles com habilidades menores – ou nenhuma habilidade despertada no ritual – são condenados a trabalhar nas minas de Attilan, sem possibilidade de alçar-se à casta superior.

Esse isolamento lunar incomoda Maximus (acima), que coloca em curso um plano para dar um golpe de estado. Sua ideia é depor Raio Negro, eliminar o sistema de castas e, principalmente, mudar Attilan do espaço confinado na lua para a Terra. Isso dá errado e os membros da família real conseguem fugir para a Terra, ainda que separadamente. Espalhados pelo Havaí, Raio Negro e sua família têm três objetivos claros: se reunir, voltar à lua e acabar com os planos de Maximus.

Desde o começo, Inumanos foi criticada pesadamente, antes mesmo de ir ao ar. Os figurinos pareciam baratos, os efeitos especiais pobres – salvo por Dentinho – e a ambientação em geral parecia abaixo do nível esperado de uma produção Marvel. Ao final de sua primeira temporada, vemos que as críticas, ainda que muito prematuras, acabaram por se justificar. Apesar dos esforços do elenco, Inumanos parece um produto mal-acabado e apressado em sua concepção. Os roteiros apresentam soluções descabidas e os personagens, em sua maioria, são bastante unidimensionais.

Outro problema se dá no que diz respeito à caracterização da família real e seus membros. Parece que o time de produção resolveu gastar boa parte dos recursos destinados para os efeitos de CGI na criação do cão Dentinho, o que fez com que ele se tornasse bastante crível. Isso, no entanto, parece ter tirado recurso dos outros personagens, de forma que eles usam seus poderes muito pouco ao longo dos oito episódios da temporada. Gorgon, por exemplo, apesar de ter cascos no lugar dos pés, os mantém contidos em botas militares por praticamente toda a série, e lidam com os poderes de Karnak e Medusa de maneira similar. O que é uma pena, porque a solução criada para mostrar os poderes de Karnak na tela foi muito bem bolada, ainda que muito pouco usada.

O personagem que mais sofreu, no entanto, foi justamente Raio Negro, cujos poderes ficaram bastante reduzidos, com alguns deles completamente eliminados. Sua superforça, por exemplo, é algo que some e reaparece de acordo com o que o roteiro pede. Já Medusa parece desenvolver uma visão periférica de 360 graus, pois é capaz de transformar a linguagem de sinais do marido em palavras sem sequer olhar para ele. Isso pode parecer detalhes, mas é apenas mais um indício de que a Marvel caiu na mesma armadilha da Warner ao apressar o roteiro da mesma forma que foi com Esquadrão Suicida. O resultado de ambos ficou bastante próximo, ainda que os planos da Marvel para os Inumanos ainda não estejam claros.

A primeira temporada de Inumanos foi encerrada nos EUA na última sexta-feira, dia 10 de novembro, e estreia no Brasil hoje, 14, com uma exibição especial dos dois primeiros episódios – os que passaram nas salas com IMAX no mês passado. Confira no canal a cabo Sony a partir das 21h.

Estes são os Inumanos dos quadrinhos

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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