Nem trilha descolada salva Em Ritmo de Fuga

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Baby (Ansel Elgort, da série Divergente) é um ás do volante que possui uma condição rara chamada tinido. Isso afeta seus tímpanos, fazendo com que ele escute um zunido de maneira permanente, mais ou menos o que acontece com todos nós após comparecer a um show de música. Devido a isso, Baby utiliza fones de ouvido e escuta música o tempo todo, porque isso o ajudaria a se concentrar melhor. E foi daí que a distribuidora brasileira tirou a inspiração para adaptar o título Baby Driver para Em Ritmo de Fuga (2017).

Quando era adolescente, Baby tinha o hábito de roubar carros e fazer dinheiro com eles. Apesar de isso permitir que ele se tornasse um motorista extremamente hábil, também fez com que cruzasse o caminho de Doc (Kevin Spacey, da série House of Cards). Ao contrário da maioria das pessoas de quem Baby roubou carros, Doc é um gênio criminoso especialista em ações ousadas. Ao se tornar ciente das habilidades de Baby, ele chantageia o garoto. Por um tempo indeterminado, Baby servirá de piloto de fuga das equipes que Doc contrata para seus esquemas – sempre um time diferente – até que sua dívida esteja paga.

Quando o filme começa, Baby está a um trabalho de ficar livre da vida de crimes e da dívida com Doc. Ele tem planos que envolvem arrumar um emprego de verdade e uma garota com quem dividir sua vida. A segunda parte desse plano começa a se formar quando ele conhece Debora (Lilly James, de Cinderela, 2015) em uma lanchonete.

Escrito e dirigido por Edgar Wright (roteirista de As Aventuras de Tintim, 2011, e que, por muito tempo esteve envolvido com o filme do Homem-Formiga), Em Ritmo de Fuga é um filme bastante genérico. As cenas de perseguição, tanto de carro quanto a pé, são muito bem coreografadas e o fato de se usarem efeitos práticos ao invés de CGI ajuda a torná-las mais intensas.

Fora isso, não há nada que se destaque no filme. A maioria dos personagens – o elenco principal se completa com Buddy (Jon Hamm, da série Mad Men), Bats (Jamie Foxx, de O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro), Darling (Eiza González, da série Um Drink no Inferno) e  Joseph (C.J. Jones) – é bastante rasa e suas motivações ou não são claras ou mudam de repente, sem muitas explicações. Ou, ainda, são bem unidimensionais, do tipo “eu sou criminoso porque sou criminoso”. Há uma tentativa de dar mais profundidade ao personagem de Baby adicionando eventos traumáticos em sua infância, e mesmo assim isso não ajuda a esclarecer muito sobre sua personalidade.

Um dos grandes atrativos de Em Ritmo de Fuga deveria ser a trilha sonora, que vai do pop ao rock, passando pelo jazz, blues e música clássica. Temos aqui músicas de Queen, James Brown, Ennio Morricone, The Beach Boys, The Commodores, T. Rex, Beck, Blur, R.E.M., Barry White e uma infinidade de outros. O problema é que, numa tentativa de deixar mais clara a dependência de Baby no que diz respeito à música, muitas vezes a trilha sonora é intrusiva. São poucos os momentos no filme em que não há música e isso atrapalha. E também leva a algumas perguntas, sendo a principal delas: se Baby está o tempo todo ouvindo música com fones de ouvidos, incluindo aí as reuniões onde Doc detalha os planos dos crimes que seu time irá cometer, como é que ele ainda assim consegue escutar tudo o que é dito? Nem o melhor leitor labial conseguiria guardar tantos detalhes, especialmente se, além dos fones, usa óculos escuros o tempo todo.

Em Ritmo de Fuga é um daqueles filmes bem genéricos que falham na maioria de seus aspectos. Não é de todo ruim, mas não vale o ingresso.

Wright levou o elenco para o lançamento no Reino Unido

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
Esta entrada foi publicada em Estréias, Filmes, Notícia e marcada com a tag , , , , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

9 respostas para Nem trilha descolada salva Em Ritmo de Fuga

  1. Marcelo disse:

    Me desculpe meu caro, a grande maioria da critica mundial aplaudiu o filme,
    que é sim SENSACIONAL, pura diversão, e você vem me dizer que não salva nem o ingresso. Me ajuda ai…

    • opipoqueiro disse:

      Meu caro xará, os motivos estão expostos aí. E olha que assisti ao filme na semana passada e concordo plenamente com o Rodrigo. Abraço!

  2. mr. modokk disse:

    Cara, como assim… Vcs tavam mal-humorados no dia, só pode rsrs…

    As músicas do filme são “intrusivas”…? Achei q elas dinamizam e temperam perfeitamente a ação do filme.

    E outra, a suspensão de descrença permite q acreditemos q apesar dos óculos escuros e dos ouvidos comprometidos pela música (e FOCADOS por ela, como o filme deixa claro), Baby consiga sim compreender e repetir 100% do q é dito.

    Ou, fazendo um paralelo com isso, vc acha plausível q exista um piloto tão habilidoso qto Baby no “mundo real”? Q execute todas aquelas manobras e saltos? O filme (e em certa medida, os personagens) são estilizados, quase satíricos, não há essa pegada realista…

    • opipoqueiro disse:

      Mr. Modokk, não excluímos a possibilidade do mau humor. Mas foram três pessoas ao cinema e as opiniões ficaram muito próximas: personagens rasos, esquemáticos e chatos; músicas se encavalando; cenas sem sentido; ações que não respeitam o que foi estipulado para cada personagem, com alterações bruscas e não condizentes… Muito estilo para pouco conteúdo. Mas que bom que você e tanta gente tem gostado. Edgar Wright é um cara que precisa de liberdade para trabalhar, gostei bastante de outros filmes dele. Vou aguardar o próximo. Abraço!

  3. Vicente Fonseca disse:

    O Pipoqueiro, respeito sua opinião. Mas essa sua crítica despertaria o interesse do Dr. Simão Bacamarte de “O Alienista” de Machado de Assis. Sem sombra de dúvidas…

    • Piolho disse:

      Duvido que o Dr. Simão Bacamarte demonstrasse qualquer interesse em uma pessoa que escreveu uma resenha a respeito de um filme simplesmente por ele discordar da maioria em um assunto tão trivial. De qualquer maneira, obrigado pela audiência e pela observação, Vicente.

  4. DARLON disse:

    Achei que foi só eu que achei o filme, com pouco aprofundamento dos personagens. Tem horas que não da pra entender o porque das atitudes. Outro ponto que achei raso e poderiam ter usado é a relação do Baby com o Kevin Space, mas o cara parece não se importar e de repente acontece o que aconteceu de uma forma “esdruxula”.
    Gostei muito das cenas de ação e na direção, são bem feitas e muito legais, mas realmente achei o filme bem raso.

  5. Gabriela disse:

    Rpz, esse filme nunca teve ibope meu. Desde q foi lançado nem tive interesse de assistir. Minha mãe acabou assistindo hj sem querer e eu sentei p ver. Pegamos do meio, e nossa, q filme chato! Mto falso, n curto filmes com mta “mentirinha” tá ligado?! Tem uma parte q Doc cai do carro do andar de cima e do nada está no lado de Baby. Como assim?!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *