A aguardada Piada Mortal desanima

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Batman The Killing Joke posterNa segunda metade da década de 1980, todos os personagens da DC Comics passaram por uma grande reformulação, onde seus passados foram praticamente reescritos do zero. De todo o elenco da editora, aquele que mais se beneficiou com isso foi o Batman, que teve então publicadas algumas de suas obras mais seminais. Há alguns anos, a Warner Bros. resolveu visitar aquela época e adaptar essas histórias para a telinha. Assim, depois de bons resultados com Batman: Ano Um e Batman: O Cavaleiro das Trevas, chegou a vez de Batman: A Piada Mortal (Batman: The Killing Joke, 2016) virar animação.

A expectativa em cima dessa iniciativa era enorme, não só pelo fato de muitos considerarem A Piada Mortal como a história definitiva do Coringa, como também pelos nomes envolvidos na produção. O roteirista Brian Azzarello, criador da cultuada 100 Balas, já é um veterano nos quadrinhos, com passagens marcantes por títulos como Hellblazer, Superman e o próprio Batman; já o produtor Bruce Timm tem em seu currículo as séries animadas de Batman, Superman e Liga da Justiça, entre outras.

Mesmo com o peso da dupla acima citada, adicionada ainda do diretor Sam Liu (de Batman: Ano Um), Batman: A Piada Mortal se mostra um produto muito abaixo da média. O fato é que, das mais recentes adaptações de Batman, A Piada é aquela que tem o menor número de páginas, de forma que a WB/DC tinha duas opções: ou fazia um curta animado ou estendia o conteúdo do gibi para que coubesse adequadamente nos cerca de 75 minutos da animação. Foram com a segunda e foi aí que a coisa desandou.

Batman The Killing Joke

A verdade é que A Piada Mortal parece dois curtas animados que têm uma ligação muito tênue entre eles. O primeiro, que ocupa quase metade da animação é, basicamente, uma história da Batgirl. Ele mostra a heroína lutando contra um gângster violento enquanto trabalha os sentimentos que nutre por Batman. Há até mesmo um amigo gay para quem ela faz confidências e algumas situações que não se encaixam bem, especialmente para aqueles que conhecem a natureza das personagens. Basicamente, essa introdução mostra uma heroína que, depois de acontecimentos não tão marcantes, desiste de sua vida heroica.

JokerApenas na segunda parte da animação vemos A Piada Mortal ser transposta para a telinha mas, nesse ponto, a coisa toda já perdeu qualquer sentido. Se, no gibi, o foco principal é a relação entre Batman e Coringa, na animação ele passa a ser as motivações de Batgirl para combater o crime. Ou, pior, é simplesmente Batman tentando se vingar do Palhaço do Crime pelo que ele fez a Barbara Gordon/Batgirl.

Nem mesmo essa segunda parte funciona a contento. Apesar de Azzarello ter conservado muito do texto de Alan Moore, alguma sequências do gibi foram esticadas e/ou modificadas, enquanto outras, reduzidas ou eliminadas, para que aquilo que é, basicamente, um thriller psicológico, tivesse mais ação e pancadaria. Toda a essência do original – que é Alan Moore tentando provar que Batman e o Coringa são nada mais do que faces opostas da mesma moeda – ficou bastante diluída por aqui, algo que se mostrou bastante decepcionante, especialmente quando a WB/DC anunciou que essa seria sua primeira animação com a classificação “R”, ou seja, desaconselhável para menores de 17 anos. Fora uma cena de maior violência aqui e ali, isso não se justifica.

Batman: A Piada Mortal é a primeira bola fora do setor de animação da WB/DC em muito tempo, especialmente quando se trata de uma adaptação de uma história do Cavaleiro das Trevas. Não é de todo ruim, mas ainda assim ficou muito abaixo do esperado.

Barbara Gordon acabou tirando o foco do Coringa

Barbara Gordon acabou tirando o foco do Coringa

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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