Pessoas boas correm um Risco Imediato

por Marcelo Seabra

Good People

O que você faria se achasse uma sacola cheia de dinheiro aparentemente sem dono? Vários filmes já partiram dessa premissa e agora é a vez de Risco Imediato, o inacreditável título nacional para Good People (2014). Adaptação de um livro do bem vendido Marcus Sakey, o longa conta com um elenco facilmente reconhecível que certamente não merecia passar por esse constrangimento. A trama bobinha passa por momentos previsíveis até chegar a um final mais óbvio ainda, e bem anticlimático.

As pessoas boas do título original deveriam ser chamadas de pessoas estúpidas. Ou trouxas, no mínimo. James Franco (de A Entrevista, 2014) e Kate Hudson (de O Assassino em Mim, 2010) vivem um casal que subloca o porão do apartamento para um criminoso que aparece morto. O sujeito deixa para trás um punhado de libras que a polícia não encontra ao dar uma geral no lugar, mas o personagem de Franco tem sucesso. Aí, vem a dúvida: entregar o dinheiro para autoridades e encerrar a história com honestidade ou aproveitar que o morto não tinha parentes e fingir de bobo? Nada no roteiro é discreto, tudo fica escancarado, como a necessidade do casal por dinheiro, os dramas vividos por eles anteriormente (como se agora fosse A oportunidade de serem felizes) e a maldade dos vilões. Parece ser a primeira bola fora da roteirista Kelly Masterson, responsável pelos ótimos Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (2007) e Expresso do Amanhã (2013).

Good People cash

O malfeitor Jack Witkowski (Sam Spruell, de Busca Implacável 3, 2014) não se cansa de ter suas proezas recontadas, além de aparecer no meio de outras. A morte do irmão supostamente seria um agravante, mesmo que o responsável já estivesse morto. O que, aliás, faz muito sentido: o sujeito trai seu bando, rouba uma bolada e volta pra casa, para morrer de overdose num porão sarnento. Tudo faz muito sentido. As ações do casal Wright são mais incompreensíveis ainda. Alguém pensou, por exemplo, em se mudar? Não, seria algo muito esperto para essas “pessoas boas”.

Em Cova Rasa (Shallow Grave, 1994), início de carreira de Danny Boyle, três amigos descobrem a dinheirama deixada pelo falecido locatário e o drama se dá em torno deles, do caminho que as relações tomam. Focar a obra em seus personagens é uma decisão bem mais acertada do que começar uma corrida de gato e rato em que ninguém está interessado. Outro estudo de situação muito interessante é Um Plano Simples (A Simple Plan, 1998), que traz um pouco mais de ação e perigo para seus protagonistas.

Nenhum desses dois filmes é regido por conveniências, os personagens realmente parecem gente tomando decisões, por mais erradas que possam parecer. Ninguém é burro como os Wright, o detetive (Tom Wilkinson, de Selma, 2014) ou mesmo os vilões, Witkowski e Gengis Khan – sim, é assim que se identifica o francês vivido por Omar Sy (a revelação de Intocáveis, 2011). Risco Imediato é uma estréia nada memorável para o dinamarquês Henrik Ruben Genz, que marca sua chegada à direção nos Estados Unidos e vai ter que continuar tentando acertar.

Esse é um dos muitos clichês do filme

Esse é um dos muitos clichês do filme: reafirmar o tanto que o vilão é mau

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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