Nicolas Cage tem outro ataque de Fúria

por Marcelo Seabra

RageTokarevDizer que um filme é um dos piores da carreira de Nicolas Cage apenas o coloca em companhia de outros tantos. Quem fez O Resgate, O Pacto, Reféns e Fúria Sobre Rodas, para ficar em apenas alguns exemplos recentes, precisa suar muito para fazer algo pior. E Cage parece estar sempre tentando ir mais longe na mediocridade. Seu novo trabalho, Fúria (2014), tem dois títulos originais, Rage e Tokarev, e com qualquer um deles é ruim. Um teria sido mais condizente, referindo-se a uma arma importante para a trama, mas o outro é mais genérico e, aposta-se, mais comercial. Esse, claro, foi o escolhido para ser o nacional.

Mais uma vez, Cage faz o sujeito pacato que esconde uma ligação com a violência. Paul Maguire era um criminoso, como não cansam de reafirmar a todo momento, mas largou o crime para cuidar da filha, sua razão de viver. Quando a menina some, então, espera-se que ele vá mover o mundo para encontrá-la. Os amigos da garota não têm nenhuma pista e o pai precisa começar uma investigação do zero, batendo em informantes do submundo ou indo atrás dos poderosos. A polícia, enquanto isso, não faz nada, dando todas as oportunidades para Maguire fazer justiça com as próprias mãos. É nessa parte que dá saudade de Charles Bronson e seu Desejo de Matar.

Rage cast

Nada em Fúria é perto de memorável. O elenco traz dois veteranos em pontas para chamarem alguma atenção, mas Peter Stormare (de Anjos da Lei 2, 2014) não é bem um nome que atraia multidões, e Danny Glover (dos Máquina Mortífera) já teve seus dias de glória. O diretor, Paco Cabezas, é um espanhol estreando em inglês, e continua sem nada digno de nota no currículo. Os dois roteiristas, Jim Agnew e Sean Keller, assinaram um tal Giallo – Reféns do Medo (2009), o que mais merece destaque dentre os trabalhos listados.

Em defesa da produção, deve-se mencionar que há um ar setentista, que parece tentar dar uma impressão daqueles clássicos com Steve McQueen ou de William Friedkin. E não é das piores interpretações de Cage, que se contém e evita aqueles já famosos estouros e olhares psicóticos, apesar da indicação contrária do título. A mensagem contra violência e vingança, e como isso pode consumir e perseguir uma pessoa, é sempre adequada e interessante quando bem utilizada. Mas essas várias tentativas de fazer algo que preste passa longe do sucesso, e esse Tokarev merecia nada mais que as prateleiras de uma locadora.

Por mais contido, não poderia faltar uma careta

Mesmo contido, não poderia faltar uma boa careta

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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