Disney faz bom uso de clichês em Frozen

por Marcelo Seabra

Frozen

A fórmula pode ser a mesma, e a Disney não se cansa de requentá-la. Mas, dessa vez, o estúdio realmente conseguiu ir mais longe, quebrando clichês e levando-os a outro nível. Frozen – Uma Aventura Congelante (2013) tem princesa, bicho engraçadinho, príncipe, cantoria e tudo o mais que costuma aparecer em suas produções, e até o trailer prometia algo bobo e irritante. Os diretores e roteiristas, no entanto, conseguem surpreender o público e até modernizar os estereótipos, colocando as mulheres como heroínas e os homens como fracos ou sensíveis, tendência clara nesses tempos politicamente corretos.

Pais e filhos podem ir juntos aos cinemas e se divertir e, não a toa, o longa já levou o Globo de Ouro de Melhor Animação e é o campeão de apostas no Oscar na mesma categoria. Partindo de uma história de Hans Christian Andersen, os roteiristas Chris Buck, Jennifer Lee e Shane Morris mudam o que julgam necessário e expandem o universo original, chegando até a encontrar os personagens de Enrolados (Tangled, 2010), outro produto da Disney que apresenta diversos elementos similares. Referências internas à parte, as adições e alterações são bem-vindas, já que permitem à exibição chegar a seus 100 minutos, e as canções não chegam a cansar. Let It Go, o carro-chefe, é inclusive uma das favoritas ao Oscar.

Frozen 2Após uma boa introdução, que entrega as informações que precisamos de forma enxuta, a trama parte para a coroação da Rainha Elsa, na noite em que ela se desentende com a irmã mais nova, Anna. No momento de raiva, Elsa revela seus poderes congelantes e coloca a cidadela embaixo de um inverno rigoroso. Anna decide empreender uma excursão ao topo de uma montanha gelada para tentar convencer a irmã a retirar a maldição e consegue no caminho a ajuda do humilde Kristoff e sua rena, Sven. O gelo que castiga a todos gera cenários lindos e tecnicamente perfeitos, com um uso fantástico das cores que o caracterizam. Figurinos, expressões, cabelos, tudo é impecável.

As decisões e escolhas dos personagens são colocadas em cheque e até descobrimos que algumas foram bem erradas, o que traz uma sensação de risco e até uma profundidade a eles, que não são infalíveis. A posição em que Elsa se coloca pode indicá-la como vilã, mas é totalmente circunstancial, já que acompanhamos o drama dela também. Ela é outra vítima da situação e ainda se vê caçada por seus pares. Anna, que deveria ser a jovem em perigo, mostra sua força e coragem. Caso a conta não esteja batendo, aproveito para reforçar: sim, são duas princesas de uma vez, o que enriquece as relações afetivas vistas e embaralha os papéis sem confundir. Até o Olaf, o boneco de neve, consegue ser cativante, com uma engraçada fixação por climas quentes, desconhecendo totalmente o efeito que o calor teria nele.

Como já é de praxe em desenhos, de uma forma geral, e está se tornando uma epidemia até entre filmes com temas mais adultos, é praticamente impossível encontrar uma cópia de Frozen legendada. Os talentos dos dubladores originais, como Kristen Bell, Josh Gad, Alan Tudyk e Ciarán Hinds, passam batido para o público brasileiro, que é obrigado a engolir alguma celebridade qualquer. Menos mal que há, de famoso, apenas o comediante Fábio Porchat, nem sinal de Luciano Huck (que “trabalhou” em Enrolados). Sem falar que as canções, dubladas, perdem até o sentido, e muitas vezes são difíceis de agüentar. Quem quiser conferir esse bela obra terá que enfrentar esse problema.

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Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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