A HBO mantém a grandeza com Luck

por Marcelo Seabra

Séries de televisão não podem ser julgadas pelo primeiro episódio. Luck (2011), da HBO, é mais uma a comprovar esta teoria. Assim como acontece em filmes que pretendem iniciar uma trilogia ou franquia, muita apresentação é necessária, muita informação é jogada na mesa. Depois de alguns episódios, aqueles sujeitos parecem velhos amigos, mas são todos estranhos num primeiro contato.

David Milch, além de um estabelecido roteirista e criador de séries de TV (como Deadwood, que foi produzida entre 2002 e 2006), é um premiado dono de cavalos de corrida e entende bem deste universo. Daí a levar essa experiência à tela pequena foi um pulo e o projeto entrou em desenvolvimento em janeiro de 2010. O cineasta Michael Mann, de novos clássicos policiais como Fogo Contra Fogo (Heat, 1995) e Miami Vice (a série e o filme), foi contratado para dirigir o piloto e produzir e ninguém menos que Dustin Hoffman, que carrega sete indicações ao Oscar de Melhor Ator (duas das quais convertidas: por Kramer vs. Kramer e Rain Man) é o protagonista.

Luck apresenta diversos personagens envolvidos de alguma forma nas corridas de cavalos: donos de competidores, jóqueis, agentes, veterinários, funcionários do clube e apostadores. Hoffman vive Chester “Ace” Bernstein, um criminoso de carreira que acaba de sair da prisão depois de uma pena de três anos. Não fica claro qual foi a infração, mas parece ter a ver com corridas, já que ele precisa usar seu motorista e braço direito, Gus (Dennis Farina, de Snatch, 2000), como testa de ferro. Outro ator de peso convidado é Nick Nolte, que compõe a lista desse ano de candidatos ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Guerreiro (Warrior, 2011). Ele vive um veterano treinador e proprietário que está cuidando de um cavalo que pode vir a ser o grande campeão das corridas.

Além de Ace, Gus e Walter, conhecemos um quarteto de apostadores que supostamente representa as pessoas comuns que sonham em ganhar muito dinheiro apenas apostando nos nomes certos. Eles estão sempre lá, observando as disputas, analisando as performances e fazendo as combinações para tentarem ganhar os prêmios. Marcus (Kevin Dunn), Lonnie (Ian Hart), Renzo (Ritchie Coster) e Jerry (Jason Gedrick) concluem que seria melhor juntar o dinheiro de todos e apostarem juntos, já que o palpite de Jerry parece bom e o prêmio seria maior. Outros dois personagens bem importantes nesse início são Turo Escalante (John Ortiz, de Inimigos Públicos, de 2009), um competente treinador de cavalos de ética duvidosa, e Joey Rathburn (Richard Kind, da finada Spin City), um agente de jóqueis que é mais esperto do que parece.

A HBO é conhecida por não brincar com coisa séria. Afinal, não é pouco ter atualmente em sua grade programas como Game of Thrones, Boardwalk Empire, Enlightened, True Blood, Treme, entre outras, sem entrar nas produzidas anteriormente. E os nomes envolvidos também trazem grandeza ao projeto – a confiança em David Milch é tão grande que ele já está escalado para produzir diversas adaptações da obra do escritor William Faulkner. O problema com Luck é que o episódio piloto foi exibido nos EUA em 11 de dezembro, como um aperitivo, para a estréia oficial acontecer apenas em 29 de janeiro. Com isso, não houve continuidade para que o público começasse de fato a entender o que está acontecendo, além da ação da série ser rápida e confiar na inteligência do público, que tem que ficar esperto.

Deste domingo em diante, já após a nova exibição do piloto, as coisas começarão a andar com o segundo episódio e poderemos conhecer o caminho que as coisas tomarão. Como aconteceu várias e várias vezes, a série deve acabar com essa suspeita inicial e terá tudo para cair nas graças dos telespectadores. Duas coisas são garantidas: roteiros intrincados e grandes atuações.

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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