Vampiro de Colin Farrell diverte e assusta

por Marcelo Seabra

A palavra que melhor define o novo A Hora do Espanto (Fright Night, 2011) é confiança. É o que o elenco e o diretor exalam ao longo da projeção. Craig Gillespie, que estreou no cinema com A Garota Ideal (Lars and the Real Girl, 2007), dirige a refilmagem, usando como ponto de partida a história de Tom Holland, diretor e roteirista do longa de 1985. Tendo em vista a carreira de Gillespie, parece uma escolha inusitada, mas funciona muito bem.

Charley Brewster (Anton Yelchin, o membro mais jovem da tripulação da Enterprise de Star Trek de 2009) conseguiu o que todos os adolescentes de filmes americanos parecem querer: aceitação pelos caras legais do colégio e uma namorada (Imogen Poots, de Centurião, 2010) desejada até pelos amigos. Mesmo que, para isso, tenha deixado de lado o amigo nerd Ed (Christopher Mintz-Plasse, o eterno McLovin de Superbad, de 2007).

Quando finalmente a casa vizinha à sua é alugada, Charley começa a achar o novo morador estranho e é questão de tempo até Ed concluir que o tal sujeito é um vampiro. O problema é que Jerry, o vampiro (Colin Farrell, de Na Mira do Chefe, de 2008), parece uma versão atualizada de James Dean e atrai a atenção de todas as mulheres da região. Inclusive de sua mãe (Toni Collette, da série United States of Tara), sua namorada e quem mais passar por perto.

No papel que já foi de Chris Sarandon (que faz uma ponta como um motorista que cruza o caminho do vampiro), Farrell (ao lado) está muito seguro, controlado, até contido. Trata-se de um personagem discreto, com anos (e anos) de experiência em como sobreviver sem chamar a atenção, mesmo sendo um morto-vivo sanguinário. O tom fica perfeito para Jerry, que cresce quando necessário e domina cada cena em que aparece. Farrell, saindo da comédia Quero Matar Meu Chefe (Horrible Bosses, 2011), para a qual ficou careca e barrigudo, aproveita para se mostrar no auge do charme do galã outsider.

Outro ator em um momento inspirado é David Tennant (da nova versão da série Doctor Who), vivendo o showman ocultista Peter Vincent, a quem Charley recorre para ajudá-lo. No original, o papel era de Roddy McDowall (ao lado), que fazia um apresentador de televisão velho e decadente que não passava um pingo de credibilidade. A nova roupagem caiu muito bem e não deixa de homenagear o veterano McDowall – além de um simbólico tributo também a Peter Cushing e Vincent Price, lembrados por seus filmes de terror, que emprestam seus nomes ao personagem.

O equilíbrio entre comédia e terror, risadas e sustos, é muito mais certeiro nessa nova versão, que é bem humorada, mas se leva a sério, ao contrário da oitentista. Há menos pontas soltas (quem explica aquele ajudante do primeiro Jerry, uma criatura que sobrevive a tiros mas anda de dia?), efeitos visuais decentes e boas atuações, com atores que não parecem a um passo de dar risadas. Isso, além do fato de a trama andar bem mais rápido, com uma descoberta seguindo outra num ritmo ágil, que deixa um resultado curto e satisfatório. Apesar de o 3D não acrescentar nada, e até escurecer algumas cenas, não chega a atrapalhar.

A Hora do Espanto de Gillespie, com roteiro de Marti Noxon (de Eu Sou o Número Quatro, de 2011, e diversas séries, como Mad Men e Buffy), funciona muito melhor que o longa de Holland. Não desmereço o original, do qual gosto e que tem seu lugar guardado entre os clássicos do terror da década de 80 – ao lado, por exemplo, de Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, de 1987) e Brinquedo Assassino (Child’s Play, de 1988), este também com Sarandon. Mas ele pega o que o outro tinha de bom e vai mais longe. E é ainda mais bem vindo em tempos da novela Crepúsculo e seus derivados. Chato é pensar que as inevitáveis continuações medíocres vêm aí.

Toni, Imogen e Yelchin

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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