Uma diferença injusta e imoral

As condições atuais de trabalho e rendimento médios entre funcionários dos setores público e privado é algo aviltante para o segundo grupo

burro
É o burro de carga quem carrega todo o peso. Conhece alguém assim?

O Brasil possui mais de treze milhões de desempregados. Some-se a estes os “subaproveitados” ou “subempregados”, gente que não possui emprego formal ou vive de bicos, na ordem de 8 milhões de pessoas. Pois bem. Estamos falando de um contingente de mais de 20 milhões de adultos. Afora aqueles outros que sequer buscam emprego. Sigamos.

Por si só é uma situação calamitosa e dá conta do tamanho do buraco em que estamos enfiados. Mas ainda piora se analisarmos o rendimento médio daqueles que estão empregados. É coisa de chorar! Sudeste e Centro Oeste possuem a maior média: R$ 2,300 mensais. Norte e Nordeste a menor: R$ 1,400 por mês. Ou seja, ou o brasileiro está sem emprego e passa necessidade ou está empregado e… passa necessidade! Mas há uma honrosa exceção.

Outro dia eu escrevi sobre o estrago do funcionalismo público nas contas dos municípios, estados e união, além de considerá-los privilegiados. Apanhei feito doido. “Não é justo botar todos os funcionários públicos no mesmo balaio”; “Sou funcionário público, trabalho muito e ganho uma mixaria”. Bem, conforme eu quis demonstrar, eis aí a comprovação da minha tese. Os funcionários públicos são, sim, uma categoria privilegiada no país. Seja por estarem empregados, e já bastaria o adjetivo. Ou por possuírem estabilidade, por terem aposentadoria especial, por não terem metas a cumprir ou simplesmente por receberem muito mais que a média nacional dos trabalhadores privados. Pronto. Simples assim. Não é uma tese minha. É a realidade imposta pelos números e pela triste realidade do país.

Há estados, como o Rio Grande do Sul, que estão com 75% da receita comprometida com o custeio da máquina pública. Como não quebrar assim? O Rio de Janeiro não é diferente. Minas Gerais quase, um pouco menos. Reparem que não estou fazendo distinção entre o desembargador de R$ 100 mil por mês e o atendente do posto de saúde de R$ 1.5 mil mensal. Tampouco entre o Senador da República e o professor da escola de Jacarezinho do Homens, AL, pois o caixa que lhes paga é o mesmo. Portanto, ambos são parte do mesmo problema que está levando o setor privado — que é o país, no limite — à bancarrota. Não estou tratando de pessoas, mas, sim, de uma categoria.

Sou contra o funcionário público? Que bobagem se eu fosse. E nem vou perder o meu tempo — e gastar o seu — explicando o por quê; mas sou contra o funcionalismo público e seu tamanho. Sou contra funcionário público ganhar bem? Certo modo, sou. Não acho justo que receba mais que a média nacional do setor privado. Por que? Porque não reconheço o trabalho de um funcionário público superior a qualquer outro da iniciativa privada. Salvo policiais, bombeiros, militares e todos aqueles que colocam a própria vida em risco, em prol da segurança da população.

A solução? Simples. Um funcionalismo público que caiba no bolso dos contribuintes. Ou na casa deles (funcionários públicos) a gestão é diferente, e gastam mais do que podem com empregados domésticos? Não creio — obviamente que me refiro àqueles que possuem condição para tal, que imagino ser a minoria. Por que, então, exigem que eu pague uma conta além da minha capacidade? Eu não quero, pô. E não acho que estou errado, não.

Só que o que eu acho ou deixo de achar, pouco importa e pouco importará. O Brasil é um país estatizado que ama o setor público, que idolatra o Estado, que adora um político fazendo lei e dando pitaco na vida dos cidadãos. O brasileiro odeia os governantes, mas não vive sem um por perto. Adora as estatais gigantescas, antros de corrupção e compadrio. Enche a boca para dizer que a “Petobrais” é nossa, ama assistir a Camila Pitanga enchendo o bolso de dinheiro para fazer propaganda da Caixa, e não vive em paz se não for a um teatro onde a peça não tenha patrocínio do Banco do Brasil.

Por isso o setor público será eternamente gigantesco, ineficiente, perdulário, corrupto e aproveitador. Por isso não haverá impostos, crescimento econômico, produtividade, meritocracia, reengenharia que deem jeito. Por isso jamais me faltará assunto neste Blog, bem como, por isso também, jamais me faltará gastrite nervosa por conta desta merda toda que nunca acaba. Entenderam, leitores amigos? É assim que é, é assim que será. E…

Haja omeprazol!

Leia também, aqui.

 

17 thoughts to “Uma diferença injusta e imoral”

  1. Belo comentârio tanto no privado como no publico tem gente que ganha muito,mas muitos tem padrinhos, amigos que possibilitam isso.
    Vejo na televisão jornalistas apresentadores que ganham milhões muitos são pessímos naquilo que fazem.
    Tem muito funcionário público que ganha demais e não faz nada e outros que carregam esses nas costas ganham pouco e ainda são punidos.Vejo incompetentes ganharem promoções e cargos por causa de puxar saco tanto no privado como no público.
    Mas vamos tocar o dedo na ferida muitos que ganham muito pouco a culpa é deles,tiveram chance de mudar quando eram jovens e o que fizeram jogaram tudo para o lixo,não escutaram os pais e amigos,deixaram chances passar por causa de (amigos).
    E o pior que não vejo nada mudar nos proximos anos.

  2. É Ricardo, acho que você tomou gosto em azedar o dia da gente. Mas a gente é assim na politica, no futebol e em outros vários campos de nossa vida, apanhamos e voltamos para apanhar mais. Mas vamos lá… O estado brasileiro, ao invés de propiciar o desenvolvimento profissional do seus formandos nas academias de ensino superior, alguns muito talentosos , num claro exemplo de anti desenvolvimentismo, prefere absorver o melhor desta mão de obra em suas fileiras. Servidores de capacidade sem igual, uma fonte imensurável de valor desperdiçado no engessado e moroso serviço público. Isso é culpa do individuo? Penso que não. É culpa do Estado que não oferece para ele, possibilidades à sua altura para desenvolvimento profissional, criação de empresas, geração de riqueza, renda, empregos… diante do quadro de falta de incentivo, o que resta? Fazer concurso público. Seria até engraçado se não fosse tão trágico, mas numa comparação rude, é o cachorro tentando morder o rabo, porquê quem arca com todo o peso é justamente o burro, que assim como o boi, se soubesse da força que tem, não puxava carroça. Lembremos-nos de outro poeta que diz; Tá tudo errado! Abraço

  3. Boa tarde! Tenho acompanhado os seus post’s e comentários anexados. Os últimos chamaram a minha atenção pela posição simplista, colegial e equivocada em relação ao debate funcionário público versus privado. O grande embuste não está nos salários “altos” do poder público (excetuando-se do raciocínio os salários acima do teto constitucional) e sim nos baixos salários da iniciativa privada. Então a idéia que se propaga nos post’s é que os salários deveriam ser nivelados por baixo e não por cima. Se um funcionário de um cartório da justiça estadual ou federal ganha mais do que um funcionário de um cartório de notas, e realizam tarefas próximas, o funcionário público deveria receber o baixo salário do funcionário do cartório de notas OU o funcionário do cartório de notas deveria receber o mesmo que o colega do poder público? Note que o funcionário privado ganha menos em função da enorme quantidade de obrigações “sociais” que o seu patrão é obrigado a recolher, todo santo mês. O justo seria todos ganharem por hora de serviço, como nos países evoluídos socialmente. Na UK, por exemplo, o trabalho sem qualificação é remunerado a 7 libras por hora! E o funcionário trabalha quantas horas lhe interessar, até um limite diário de 10 horas. E um litro de gasolina de verdade custa 1 libra. E o ensino básico é fornecido pelo estado, com qualidade. E há assistência de saúde pública, não é grátis, mas é de qualidade. Na europa, serviço público não quer dizer gratuidade e sim qualidade. Concluindo, o ente a ser combatido não é o trabalhador e sim os governantes, esses sim obtusos, interesseiros, que usam e abusam da ignorância da maioria da população. Um abraço.

    1. Ronaldo, ótimo comentário, mas faço uma ressalva: O post não propaga o que você disse. O post é sobre o funcionalismo público caber ou não dentro do bolso dos trabalhadores privados. E sim! Boa parte do tamanho do rombo se deve aos salários bem superiores. Abraço e muito obrigado pela participação!

  4. É preciso acabar com essa farra de concurso publico imediatamente.Os únicos que conseguem ser aprovados nessas geringonças são os apadrinhados e os adestrados em concurso,mas que no dia a dia do exercício de suas funções conseguem demonstrar toda sua incompetência e inaptidão inata para os cargos.Além dessas características, se tratam de criaturas que só querem bônus e não aceitam nenhum tipo de ônus.Tudo escondido atrás do mantra: “passei no concurso,voce é invejoso” Já pensaram se na iniciativa privada fosse implantado método similar a esse adotado por nossos “çabios” do serviço público? Seria uma quebradeira geral em nossa iniciativa privada.Volkswagen,Chevrolet,Google,só para ficar nessas que o digam.

  5. Principal homem do governo à frente da elaboração da reforma da Previdência, Padilha recebe R$ 30.934 de salário e mais uma aposentadoria como deputado federal de R$ 19.389, somando R$ 50.323. Ele ainda recebe um auxílio-moradia de R$ 7.373,30 que não entra no cálculo do teto
    distribuído sem autorização. Geddel, que é responsável pela articulação política do governo, também recebe salário e aposentadoria de deputado. No total, ganha R$ 51.288,25. Osmar Terra, além de ministro, é deputado licenciado. Ele não recebe o vencimento de ministro, porque optou por receber o salário de parlamentar (R$ 33.763), e soma ainda a aposentadoria como funcionário do Ministério da Saúde, de R$ 7.000, recebendo ao fim do mês R$ 40.763. Os três informaram, através de assessores, que consideram legítimo acumular os salário com as aposentadorias. Aí esta Sr Ricardo o verdadeiro problema do Brasil, os sanguessugas, por isso queriam tirar a Dilmanta, para continuar mamando nas tetas do Governo, sem contar os penduricalhos por fora. Informações tirada do jornal O Globo 17/11/16.

  6. Caro Ricardo,
    Um dia desses ouvi uma frase que a princípio não entendi bem. Era essa: “(…) Todo animal satisfeito, morre.(…)”. Depois da leitura de alguns de seus textos, cheguei à conclusão do que esse dito realmente significa, e o significado pode ser aplicado a todos os funcionários públicos, logicamente não fazendo distinção sobre valores de salários ou carreira. A questão é a estabilidade, que é a diferença dos funcionários públicos e demais trabalhadores desse amontoado de gente que chamamos de nação.

    A estabilidade do concursado faz com que desafios e responsabilidades sejam negligenciadas o que se reflete tanto na qualidade e eficiência do serviço público em geral, quanto na questão da carreira do próprio servidor. Um juiz, por exemplo, ganha mais de 30 mil reais por mês, já inicia a carreira “satisfeito”… desafios?? Ora…Quanto aos demais servidores, de salários mais baixos, até lutam para melhorar, mas aí seus patrões pensam (políticos com mandatos temporários…): estão reclamando de quê? já possuem estabilidade… e por aí vai. Baixa qualidade, não há o contraponto, e o agigantamento da máquina estatal é a saída para se suprir os serviços e necessidades da máquina. Eu proponho CLT para todos…..

    1. Caríssimo HGVA,

      A estabilidade é um direito dos servidores garantido na Constituição de 1988 e seu objetivo é evitar que os funcionários sejam demitidos sempre que um novo governante é eleito, proteger os servidores de represálias em casos que afetem interesses e garantir que a máquina do Estado funcione de maneira constante. Ela é adotada, em maior ou menor escala, na maioria dos países.

      Pois bem, imaginemos o seguinte cenário: sou um professor concursado (estudei, ralei para passar num concurso) e sou tipo um “esquerdopata” (como tanto gostam de dizer aqui) ou posso mesmo ser um “Coxinha” de plantão que nas últimas eleições me posicionei contra a eleição do Kalil. Imaginemos que eu tenha ido pra rua, feito propaganda contra Kalil, exercido meu direito de cidadão dentro dos limites impostos pela democracia. Imaginemos que um dia qualquer tenha eu participado de algum ato, manifestação, protesto contra o atual prefeito eleito e, por alguma razão, ele ou algum de seus “aspones” tenham me “marcado”.

      Pergunto: o que impediria o prefeito ou mesmo algum de seus “aspones” que assumirão a prefeitura de me demitir? Respondo: a estabilidade.

      Repare que em momento algum aqui foi colocada em cheque a minha competência ou incompetência enquanto professor, enquanto funcionário público. Repare que o exemplo dado foi meramente político e que no citado exemplo não houve nada que fosse conta à lei.

      Aproveitando o espaço fica um esclarecimento aos incautos e a defesa de uma categoria pela qual tenho respeito e admiração: os professores.

      Diversos professores também encontram-se na categoria de funcionário público. Para os que não sabem um professor da rede municipal de BH inicia seu salário com R$ 2.092,22 brutos trabalhando 22:30 h semanais.

      Considerando que ele possa “dobrar” seu expediente na própria prefeitura esse professor receberá 4184,44 reais brutos por 45 horas trabalhadas.

      Atentem-se ainda que quem é professor não o é somente em sala de aula, que para ser um bom profissional o professor tem que trabalhar “em casa” estudando, planejando aulas, corrigindo provas entre uma série de outras atividades inerentes a profissão.

      Não se esqueçam ainda a violência cotidiana que cada vez mais o professor vem sendo submetido no seu dia a dia dentro das escolas públicas. Violências que vão desde a “simples” agressões verbais a agressões efetivamente físicas!

      Pois bem, só para fins de comparação atualmente, vereadores de BH recebem R$ 15.066,59 e . cada vereador de Betim tem direito a uma verba em torno de R$ 3,6 mil por mês para gastar apenas com combustível (os de Belo Horizonte recebem aproximados 800 reais).

      Pensemos: todos os funcionários públicos estão no mesmo “balaio” dos privilégios?

      1. Perfeito seu comentário!
        A população em geral e, agora, para minha surpresa e decepção, incluindo este blogueiro, colocam todas as classes do funcionalismo público, num mesmo balaio. Estão redondamente equivocados.
        Existem as classes política que carrega uma imensa corja de mamadores corruptos, judiciário com salários absurdos, legislativo também com salários mais altos (dizem que um operador de maquina de fotocópia – xerox, do senado, recebe salário de 20 mil reais por mês) e a classe dos funcionários do executivo. Estes com algumas exceções, são os mais sacrificados e os que recebem os menores salários.
        A questão da estabilidade já foi explicado no comentário acima.

  7. Prezado Ricardo; num país em que a insegurança é o maior dos medos do cidadão comum, fica bastante fácil entender o porquê da ânsia em conseguir um “emprego público” ao invés de tentar uma experiência na iniciativa privada. O serviço público é sinônimo de estabilidade e em via de consequência, segurança. Não podemos negar que nos dias de hoje, este quesito é fundamental e determinante. O que complica inicialmente, é a forma de acesso a uma carreira no funcionalismo, que só pode(ria) acontecer via concurso público. Porém, existem os que são beneficiados por possuírem um QI “elevado”. O QI neste caso são as iniciais de: “QUEM INDICA”; a história é cheia de exemplos desta prática. Esta categoria em especial, concentra na maioria dos casos a arrogância, negligência, incompetência, acomodação, e, porque não dizer, preguiça e descaso, que se somam aos outros depreciativos. O que incomoda mesmo é a incompetência de vários agentes do serviço público. Na minha modesta opinião, a concentração de situações negativas se dá na Caixa Econômica Federal. Já aconteceu comigo em uma determinada oportunidade, que para solucionar uma pendência simples, recebi (4) quatro orientações diferentes em sequência, numa mesma agência. O pior, porém, ocorreu quando a solução desejada veio através de um quinto procedimento diferente dos quatro anteriormente informados. Ou seja, havia quatro (4) funcionários no mínimo desinformados, alheios ao trabalho que deveriam conhecer. O fato é que a realidade exige que se privatizem todas as empresas estatais, petroleira, bancos oficiais, penitenciárias, universidades. A exceção só é admissível nos serviços de segurança e saúde, que pela Constituição são direitos do cidadão e dever do estado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.